Há uma década, mais de 1.100 pessoas morreram quando o Rana Plaza, uma fábrica de 8 andares em Bangledesh, entrou em colapso. Os trabalhadores, percebendo rachaduras na estrutura por semanas, imploraram à gerência para não ser enviada para dentro do prédio, mas sem sucesso. Uma vez que começou a falhar, levou menos de 90 segundos para o prédio desmoronar.
O incidente, que os líderes sindicais chamaram de “homicídio industrial em massa'', levantou questões quanto à prática trabalhista justa e tem sido o impulso de uma série de mudanças no espaço do varejo. Organizações globais tomaram medidas para criar padrões de trabalho mais seguros. Agora, resoluções de local de serviço aparecem frequentemente nos relatórios ambientais, sociais e de governança dos varejistas, que estão se tornando cada vez mais importantes para investidores e outras partes interessadas.
Cada vez mais consumidores e investidores estão começando a ver as políticas de alguns varejistas como em discordância com grande parte de sua retórica baseada no ESG, como em negociações coletivas, especialmente quando seus trabalhadores tentam formar um sindicato. Esse fenômeno se deu em detrimento ao alto índice de desemprego, as flexibilizações das leis trabalhistas como a adoção da reforma, e o aumento de contratos não formais, que não preveem os benefícios oferecidos pela CLT.
Apesar desses fatores econômicos, o que muitos especialistas estão chamando de novo ativismo sindical, bate em outras das teclas importantes em um ambiente de serviço: a segurança. Nessa questão, por um lado vemos que com a pandemia boa parte dos trabalhadores de lojas e armazéns foram rotulados como "essenciais", principalmente durante o seu auge. Porém, em outra perspectiva, muitos têm criticado as medidas de segurança e a falta de transparência em seus locais de atividade.
É importante entender que apenas com salários, não estão mais no cerne do problema. Os profissionais querem – e precisam de qualidade de vida, todas sublinhadas com ênfase a pandemia. A liberdade de associação e negociação coletiva é um dos pilares dos direitos humanos básicos e, mais do que isso, para os líderes um excelente feedback de como suas empresas estão em relação a parte social de uma política ESG.
Além disso, existe um crescente interesse dos acionistas nessas questões não apenas por preocupação com os direitos humanos, mas também por um amplo sentimento de que o trabalho organizado apresenta uma oportunidade para estabilizar o negócio. Isso já é verdade para os investidores europeus, onde os sindicatos são mais comuns e a negociação coletiva é rotineira.
Sob a luz daquela velha máxima de que seus colaboradores são seus primeiros clientes, o acordo formalizado com o trabalho, pode ser um tópico essencial para elevar o nível social de qualquer indústria a um outro patamar. Observando em outra vertente, deve ser uma maneira potencial de construir em sustentabilidade, sem necessariamente investir em pesquisas e dados, mas apenas ouvindo seus próprios stakeholders que são impactados, seja em suas próprias operações ou em suas cadeias de suprimentos.
Ademais, as questões sociais também são importantes para os consumidores, especialmente para a geração Z. Segundo o relatório de pulso do consumo da McKinsey, mais de dois terços dos consumidores jovens disseram que pelo menos uma questão do ESG é importante para eles, mesmo em um momento, no qual a inflação vem invadindo os orçamentos das famílias. Eles enxergam como vitais à maneira como, onde e por quem seus produtos estão sendo adquiridos, selecionando-os por valores pessoais, apesar do fator financeiro.
Seguindo essa tendência, o Barclays publicou recentemente uma nota aos seus clientes indicando que as atitudes dos consumidores em relação ao ESG estão se tornando verdadeiramente multifacetadas. Com isso, eles reafirmaram a necessidade de os varejistas precisarem pensar muito sobre o ESG, visto que está afetando seus negócios amplamente.
Até o momento, a maioria tem se concentrado muito nas considerações ambientais, no entanto, mais recentemente, é imprescindível abranger cada vez mais os aspectos sociais e de governança. Desse modo, é certamente muito melhor que os varejistas tomem a opção de incorporar o ESG em sua cultura em vez de esperar para serem derrotados e arriscarem sua relevância futura.
Em outras palavras, as corporações provavelmente terão que trabalhar mais para acertar seus objetivos de ESG com sua realidade interna. Há uma certeza de que a ascensão da voz dos funcionários não vai embora. As empresas podem optar por lutar contra esse movimento com unhas e dentes, ou podem aceitá-lo e tentar trabalhar com sucesso neste novo mundo. É a hora da escolha para as empresas varejistas, optar pela pílula azul ou vermelha.
Adriano da Silva Santos é um jornalista e escritor, formado na Universidade Nove de Julho (UNINOVE).
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