A despeito dos vários constrangimentos de natureza política, econômica ou mesmo fortuita (caso do clima), o Paraná foi o estado brasileiro que mais tirou proveito do ambiente propício ao investimento industrial desde a segunda metade dos anos 1990. Tanto é assim que o parque manufatureiro operante em seus limites geográficos registrou expressiva elevação de participação no valor da transformação industrial (VTI) do país, saltando de 5,3% em 1996 para 6,5% em 2004, consolidando a quinta posição na formação da renda industrial brasileira.

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O VTI representa uma espécie de substituto do conceito de produto econômico, calculado a partir da Pesquisa Industrial Anual (PIA/Produto 2004), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ( IBGE). As apurações desse levantamento revelam o prosseguimento de uma tendência de desconcentração geográfica da indústria no país, renovada desde 1994 com o advento do Plano Real e a acentuação da abertura comercial.

Trata-se de um movimento de desconcentração concentrada, dentro do raio de interferência econômica de São Paulo e do Mercosul, salvo alguns espaços pontuais do território nacional, como Bahia e Amazonas, justificados pela utilização de generosa cesta de benesses fiscais e financeiras, composta em maior medida por subsídios da União, caso da pólo automotivo de Camaçari e da Zona Franca de Manaus.

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O substancial avanço observado pelo Paraná derivou do encaixe pleno do estado no curso de desconcentração, determinado pela preferência das empresas em realizar inversões industriais fora do eixo saturado, ancorado por São Paulo, e privilegiar centros de porte médio e grande no Centro-Sul brasileiro, que desfrutavam de localização privilegiada no interior do macromercado constituído por São Paulo e pelos países do Cone Sul, eram dotados de infra-estrutura adequada e de mão-de-obra qualificada e ofertavam apreciáveis programas de incentivos fiscais, dada a permissividade do anárquico sistema tributário brasileiro.

Por cumprir com folga os requisitos colocados à mesa pelos investidores potenciais, o Paraná acabou assumindo um papel central no processo de tomada de decisão locacional dos novos empreendedores. Com isso, o estado ingressou numa etapa marcada pela agressiva atração de capitais produtivos em segmentos novos e modernos e pela expansão e modernização dos ramos considerados tradicionais, especialmente aqueles do agronegócio.

O resultado disso foi a constituição do pólo automotivo, incluindo montadoras e fornecedores mundiais, a sofisticação do agronegócio, a ampliação da indústria madeireira e papeleira, a maior inserção na fronteira internacional, notadamente com o Mercosul, e o melhor aproveitamento das vocações e o desenvolvimento das aptidões regionais, sustentados na base infra-estrutural física e científica e tecnológica disponível.

Contudo, a otimização dessas forças no Paraná dependeria da minimização de um conjunto de distorções nada desprezíveis como a forte concentração industrial na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), a reduzida integração local do complexo automotivo, o sumiço de grupos empresariais e marcas regionais, a continuidade da migração campo–cidade, o esfacelamento da retaguarda pública de fomento, a fragilidade fiscal do estado, e a reduzida presença e influência política do estado na órbita federal e a aparente ausência de interesse e empenho dos atores locais na direção da preservação e/ou busca de consolidação de atividades estratégicas.

Só a título de ilustração desse último ponto, o enorme investimento anunciado recentemente pela Petrobrás no estado deve melhorar expressivamente a qualidade dos produtos da refinaria e abarcar a instalação de uma planta de propeno. Mas o filé mignon, representado pelas unidades de polipropileno, deve ser abocanhado pelo Rio de Janeiro, em razão da existência de outros compromissos por parte da estatal.

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A diminuta capacidade de interferência política dos agentes políticos regionais nas esferas decisórias de Brasília, especialmente quanto à orientação macroeconômica de juros altos e câmbio baixo, mantida na contramão da orientação dos países-âncora do crescimento mundial nos últimos anos, vem abrindo flancos para alterações de posturas empresariais no território paranaense.

É o caso dos grupo Frimesa, o maior laticínio do estado, com sede em Medianeira (Oeste), e da Confepar, união de cooperativas agropecuárias do Norte do estado, que desistiram de operar no mercado externo, em decorrência da queda de rentabilidade provocada pelo câmbio. Lembre-se de que as referidas empresas investiram R$ 5 milhões e R$ 18 milhões, respectivamente, para atendimento da demanda externa de derivados lácteos, particularmente de leite em pó.

Outro prejuízo relevante corresponde à decisão de transferência das atividades de um tradicional grupo empresarial de origem local, atuante no ramo de material elétrico, para o estado da Bahia, motivada pela perspectiva de garantia, ou mesmo de impulsão de competitividade determinada pela obtenção de benesses fiscais e financeiras no lugar de destino do projeto.

Em contraposição às condutas passivas, cumpriria destacar o esforço realizado pelo segmento cooperativista paranaense, anunciando investimentos de R$ 3,5 bilhões entre 2006 e 2010, distribuídos entre industrialização (49%), armazenagem e recebimento (43%) e programas ambientais e sociais (8%). Com isso, o ramo deve ampliar de 35% para 50% o grau de industrialização da produção primária por ele abrangida.

Gilmar Mendes Lourenço é economista e coordenador do Curso de Ciências Econômicas da UniFAE – Centro Universitário.

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