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Temos sistematicamente prevenido, desde o começo do ano passado, que a solução dada pelo governo federal para o endividamento da agropecuária era insuficiente e que muitos produtores rurais teriam problemas para saldar seus débitos este ano, especialmente os dos financiamentos para investimento.

Pois bem: os produtores rurais terão problemas para saldar suas dívidas bancárias, acumuladas em cinco safras seguidas – três de verão e duas de inverno, quando arcaram com um prejuízo de R$ 9 bilhões no Paraná. E isso apesar da boa safra, graças a São Pedro, e da alta excepcional nos preços da soja, milho e trigo no mercado internacional, que devemos atribuir ao presidente norte-americano, George W. Bush, e seu programa para aumentar o consumo de etanol nos EUA.

Repetindo a nossa argumentação: os prejuízos dos produtores rurais não se devem apenas às três sucessivas secas que ocorreram no Sul do país, facilmente resolvidas pelo Manual de Crédito Rural, mas principalmente pela política cambial do governo brasileiro. A sobrevalorização do real é que tem provocado a brutal queda na renda dos produtores rurais.

É fácil comprovar. Em 2004 a cotação do dólar começou a despencar. Os produtores que haviam plantado com um dólar mais alto, colheram com um dólar mais baixo. Assim, ao converterem os preços de seus produtos de dólar para real, viram que não estavam ganhando nada, porque seus custos tinham sido maiores. Esse processo de queda de renda se repetiu em 2005 e 2006 por conta da diferença entre o dólar na época do plantio e seu valor na colheita.

São, portanto, dívidas de cinco safras acumuladas – e não apenas dívidas bancárias, mas também com fornecedores, o que inclusive levou o governo a utilizar recursos do FAT para financiá-las.

Normalmente esta seria uma safra magnífica, com preços internacionais bem acima das médias históricas e clima favorável, não fosse o dólar quase beirando R$ 2,00 e, portanto, deprimindo internamente os preços internacionais e enfrentando os insumos em alta. Os últimos levantamentos da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep) dão conta de que entre fevereiro e o começo de abril os fertilizantes compostos por nitrogênio, fósforo e potássio subiram 38% em média e os à base de uréia – que já estavam com valor alto em razão do preço do petróleo – aumentaram 40%. Esses fertilizantes e os defensivos agroquímicos são responsáveis por uma considerável parte dos custos de produção, o que significa que a quase estabilidade da paridade dólar/real, que poderia de alguma forma beneficiar os produtores, deixou de existir, onerando o plantio da próxima safra de verão, para a qual o produtor precisa estar capitalizado.

O governo federal não pode se valer dos dados da safra 2006–2007 para dizer que vai tudo bem, que o produtor tem dinheiro para pagar suas dívidas e ainda embolsar algum lucro. Os prejuízos das safras passadas foram tão grandes que não serão recuperados em uma safra apenas. Serão necessárias várias, em condições normais, para reparar o estrago feito.

Quando se fala em colheitas em condições normais, não estamos esperando apenas a boa vontade de São Pedro, mas, sobretudo, políticas federais no que se refere ao câmbio e à infra-estrutura. Não é de hoje que o setor produtivo – não somente na agropecuária, mas também na área industrial – aponta o câmbio sobrevalorizado como o grande vilão dessa gigantesca crise. Apesar dos recordes de exportação, o setor exportador, ou quem depende de preços internacionais, como a agropecuária, corre risco de afundar. Ao manter a política cambial solta o governo federal parece gostar de exibir-se na corda bamba, mostrando equilíbrio às custas de quem tem tudo a perder.

E mais, ao ficar imobilizado em relação à infra-estrutura de transporte, das rodovias, ferrovias e portos, o governo federal agrava ainda mais a situação. Estamos perdendo um tempo precioso com a postergação de obras essenciais ao escoamento da produção, obras para as quais existem recursos, a arrecadação da Cide, um imposto que todos nós pagamos ao encher o tanque de combustível de nossos tratores, colheitadeiras, caminhões e automóveis e cujo destino, por lei, é ser utilizado exclusivamente em obras de infra-estrutura.

Como as obras de infra-estrutura vão levar tempo para serem realizadas – se forem – e como o governo federal parece não estar disposto a mexer em sua política cambial, variável vital na formação dos preços das commodities agropecuárias, resta dar um novo fôlego aos agricultores e pecuaristas, com a correção do alongamento de suas dívidas para evitar que o setor morra – que paradoxo – de inanição.

Ágide Meneguette é presidente da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep).

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