A matriz energética está em processo de alteração no Brasil, conforme matéria de 3 de maio da Gazeta do Povo. Nela se constata um aumento de participação de fontes eólicas, pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e da energia solar, além do ingresso da biomassa. Nesse contexto, surge grande oportunidade para o Paraná.
No meio rural do estado (e o mesmo ocorre em outras unidades da Federação), os índices de interrupção de energia, na duração e na frequência em que ocorrem, são piores que os da área urbana. A Copel está fazendo um grande esforço para melhorar a qualidade da energia no meio rural, por meio do Programa +Clic Rural, realizando investimentos na casa dos R$ 500 milhões. No entanto, outras alternativas também precisam ser buscadas, como a geração de energia renovável autônoma.
A fonte solar, a biodigestão e também a geração eólica podem, em conjunto, fornecer energia de qualidade para as propriedades rurais do estado. Cabe mencionar que, hoje, milhares de toneladas de dejetos de porcos e aves têm sido diariamente lançadas no meio ambiente no Paraná. Tal procedimento não só causa poluição em solo, rios e reservatórios como também configura séria questão sanitária. Trata-se de problema que demanda solução urgente, já que também está diretamente relacionado à segurança alimentar. A introdução de biodigestores pode minimizar significativamente essa questão, além de produzir energia nova e biofertilizante. Essa energia que a biodigestão possibilita, associada à energia de painéis solares e também, eventualmente, à de aerogeradores, pode ser utilizada localmente pelos produtores rurais, com comercialização de seu excedente.
Com as microgrids inteligentes, as faltas de energia passam a ser de pronto superadas
Essa é a proposta de um modelo inovador para o Paraná, que possibilitará à Copel ser gestora das microgrids (microrredes) inteligentes de energia a serem formadas. PCHs, aerogeradores, painéis solares e energia à base de biodigestão em geral são pequenas redes de energia local, autônomas, associadas a uma rede tradicional fornecedora de energia elétrica, para suprimento complementar, ou para exportação do excedente. É então que entram em ação as microgrids inteligentes. Com elas – atualmente capacitadas para controle e gerenciamento instantâneos porque acionadas por software –, as faltas de energia passam a ser de pronto superadas, com o religamento das redes de energia local à rede tradicional fornecedora de energia elétrica. Isso significa que os pequenos sistemas (PCHs, aerogeradores, painéis solares e energia à base de biodigestão) podem ligar-se e/ou desligar-se de uma rede tradicional de forma automática para operar, tudo sem necessidade de intervenção humana imediata, razão da expectativa de um suprimento confiável e contínuo de energia elétrica.
É válido recordar como são esses pequenos sistemas de produtores isolados de energia. As PCHs – institucionalizadas apenas em 1982 – admitem potência entre 1 e 30 megawatts, e não devem produzir alagamentos superiores a 13 km2. Produzem energia para empreendimentos agrícolas e industriais de grupos humanos em áreas isoladas, não favorecidas pelo desenvolvimento. No Brasil, em 2002 havia 209 dessas hidrelétricas em operação; em 2010 elas passaram a 326, um aumento de 64%, totalizando 3.428 MW. No Paraná, reconhecido pela abundância hídrica e pelo relevo geomorfológico favorável, apenas em 1930 as PCHs começaram a ser exploradas, havendo em operação, em 2013, 32 dessas usinas, com potência de 258 MW, ou seja, 0,026% da potência total do estado (incluída a usina de Itaipu). É preciso anotar que o processo de licenciamento ambiental no estado ficou estacionário entre 2002 e 2013. Para uma ideia das perspectivas das PCHs no estado, só de 2011 a 2013 o Instituto Ambiental do Paraná havia licenciado dez desses empreendimentos, e, em meados de 2013, analisavam-se oito empreendimentos. Mas as solicitações ascendiam a 116, para uma geração esperada de 1.175,5 MW.
Biomassa são todos os resíduos domésticos, agropecuários e industriais, que – tratados pelo processo de biodegradação anaeróbia (na ausência de oxigênio) – geram uma mistura de gases (sobretudo metano e dióxido de carbono) e biofertilizante. Tais resíduos são encontrados nas áreas de produção rural, aterros sanitários e indústrias ligadas à agropecuária. Também são potenciais produtores de biogás esgoto e resíduos de alimentos (domésticos, comerciais e industriais).
O biogás pode ser utilizado para gerar energia elétrica ou térmica, reduzindo ou eliminando o consumo de lenha, petróleo ou eletricidade. A eventual sobra da energia de biogás poderá ser vendida a concessionárias de energia elétrica, gerar biometano, combustível para acionar veículos convertidos a gás natural veicular (GNV), cortando combustíveis usuais e custos. Todo o processo de transformação do biogás produz ainda biofertilizante, que pode ser reaproveitado ou vendido.
No Brasil, segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o potencial energético das biomassas passará dos 210 milhões de toneladas equivalentes de petróleo (TEP), em 2013, para cerca de 460 milhões de TEP em 2050. A Associação Brasileira de Biogás e Biometano (Abiogás) calcula esse potencial em cerca de 20 bilhões de metros cúbicos ao ano, nos segmentos sucroalcooleiro e de produção de alimentos. Na biomassa de resíduos sólidos e esgotos domésticos, a estimativa é de 3 bilhões de metros cúbicos ao ano.
Como apoio para esse modelo de energia renovável autônoma, a Copel, além da capacitação técnica elevada que detém no setor de energia e de telecomunicações, está presente nos 399 municípios do estado. Assim, a Copel detém uma condição inigualável para implementar, em todo o interior do estado, um sistema confiável de geração de energia renovável autônoma, com seu monitoramento remoto a ser realizado por intermédio da rede de fibras ópticas da companhia. Esse programa está sendo denominado GERA Rural.
A implantação desse modelo arrojado envolve não só os setores de energia e telecomunicações, mas abrange os segmentos de agricultura e pecuária, produção de alimentos, meio ambiente, ciência e tecnologia, indústria e comércio, trabalho e outros. Por isso, faz-se necessária uma integração de todos, em torno de um programa de estado, que tem o potencial de tornar-se referência na área da geração de energia renovável autônoma no meio rural.