Deputado Janones é segurado por outros parlamentares durante confusão no Conselho de Ética da Câmara: debate civilizado entre adversários políticos é cada vez mais raro.| Foto: Lula Marques/Agência Brasil
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Uma pesquisa realizada por cientistas políticos da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) e da USP (Universidade de São Paulo) acerca do aumento da filiação partidária no Brasil mostrou que, paradoxalmente, em um ambiente de rejeição à política e de desconfiança em relação aos partidos políticos, houve o aumento da filiação partidária em nosso país. Como explicar tal paradoxo? A investigação traz à tona o fato da relação entre o engajamento político e o ódio. Segundo a pesquisa, “entre os filiados, cerca de 70% consideram, em algum grau, a aversão e o ódio ao rival político como motivos relevantes para aderir a uma legenda”. Nas palavras de Pedro Paulo de Assis, pesquisador do Departamento de Política da USP, em entrevista à imprensa: “Queríamos entender por que a filiação partidária estava aumentando, mesmo diante do crescente descrédito e desconfiança com relação aos partidos. Então, descobrimos que o ódio e a rejeição ao adversário motivam não só a filiação, mas também são fatores que tornam os filiados muito mais engajados na vida partidária”. Esse fenômeno foi denominado, pelos pesquisadores, como “engajamento pelo ódio”.

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 Essa pesquisa, de certa forma, corrobora teses de outros cientistas políticos e teóricos. Giuliano Da Empoli publicou, em 2019, a obra Os engenheiros do caos, cujo subtítulo, “Como as fake news, as teorias da conspiração e os algoritmos estão sendo utilizados para disseminar ódio, medo e influenciar as eleições” – vai ao encontro da ideia do “engajamento pelo ódio”. Na mesma linha, o livro de Felipe Nunes e Thomas Traumann, Biografia do abismo (2023), apresenta que nossa polarização política já se tornou uma “calcificação” e que visões de mundo que alicerçam as ideologias políticas acabam por dividir indivíduos e grupos não apenas no período eleitoral, mas que isso invade o núcleo familiar, a sociabilidade nas escolas e universidades, nas empresas, enfim, nossa vida está em constante tensão dada a polarização/calcificação vivenciada politicamente.

O quadrante histórico, por assim dizer, nos faz sentir, pensar e agir a respeito da política de uma forma desencontrada, fraturada e, por isso, gerando traumas evidentes. Políticos eleitos, nossos representantes, estão cada vez menos apresentando um projeto para o país ou mesmo suas propostas de ação política. Muito melhor é lacrar, engajar, fazer cortes e, assim, apresentar-se como vitorioso não em um franco e profundo debate de ideias acerca de nossos problemas reais, mas, sim, em um rápido vídeo para as redes sociais.

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Não raro, políticos e seus assessores – os “engenheiros do caos” – conjugam fake news, pós-verdades, negacionismos e teorias da conspiração, tudo isso para ganhar forças nas redes sociais, impulsionados por algoritmos que captam a força do medo, do ódio e do ressentimento. Neste caso, não há adversários políticos que devem, democraticamente, conviver, mas inimigos que devem ser destruídos em suas trajetórias, reputações e em seus ideais e sonhos.

Os partidos políticos e seus operadores, que são intermediários, estão nutrindo-se, infelizmente, desses elementos atinentes ao ódio e, com isso, apequenam a política. Reina, em muitos casos, uma mediocridade e mesquinharia que ganha likes e viraliza, mas é vazio de conteúdo, de ideias, de projetos, de conceitos, de conhecimento e informação. A situação será dramática no curto e médio prazo neste universo político. No longo prazo, já asseverou Keynes, estaremos mortos...

Rodrigo Augusto Prando é professor e pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), cientista social, mestre e doutor em Sociologia e membro da Comissão de Políticas e Mídias Sociais do IASP – Instituto dos Advogados de São Paulo.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]