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Enquanto Israel testa a quarta dose, a maior parte da África segue sem nenhuma

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Em nota técnica enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF), Ministério da Saúde afirmou que a vacina infantil contra Covid-19 é segura. (Foto: Albari Rosa/ Foto Digital/ Gazeta do Povo )

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Um dado é fato: Israel está na vanguarda da vacinação contra a Covid-19. É importante olhar para lá. Em Israel, inclusive, já estão fazendo testes com a quarta dose da vacina contra a Covid-19. Ainda não a estão aplicando na população inteira; apenas 6 mil pessoas a tomarão, por enquanto. Porém, outro dado também é fato: a maioria da população mundial ainda não tomou nem duas doses da vacina contra a Covid-19. Menos de 60% da população mundial recebeu pelo menos uma dose da vacina contra a Covid-19. Isso mostra uma discrepância entre uma nação que investe na quarta dose para a sua população e a maior parte dos africanos, que não receberam uma dose sequer.

A maior prova de que as vacinas funcionam é a baixa taxa de letalidade com a variante ômicron – atualmente, 0,1% no Reino Unido. Isso é efeito da vacinação. Também o fato de a imunização demandar três doses não é novidade. Outras vacinas também já são aplicadas no mesmo esquema.

As vacinas atuais contra a Covid-19 não foram desenvolvidas para evitar o contágio, mas sim para evitar casos graves e mortes. E já existe comprovação de que elas evitam o contágio ao menos parcialmente. Então, não há desculpa: as vacinas nos conferem imunidade prévia contra a doença. Como disse o papa Francisco, “vacinar-se é um ato de amor”. Porque contribui para o alcance da imunidade coletiva. Quem evita completar o ciclo vacinal, além de expor-se ao risco de desenvolver casos graves, de saturar o sistema de saúde e até morrer, contribui para prolongar a pandemia.

Nos Estados Unidos e na Europa, praticamente todas as hospitalizações e mortes são de não vacinados ou com a vacinação incompleta. Um exemplo de como a vacinação funciona vem da Rússia, um dos países nos quais a população é mais resistente às vacinas e que vinha registrando altíssimos índices de óbitos: o porcentual de vacinados em sua população aumentou bastante e com isso o número de mortes está caindo de forma consistente nos últimos dias. Estima-se que a Rússia, um país de 146 milhões de habitantes, já teve mais de 1 milhão de mortes por Covid-19. Esse é o preço do negacionismo e do movimento antivacina.

No sentido oposto, um outro país que mostra justamente o sucesso da vacinação como política de saúde pública é o Brasil. Chegamos a registrar, nos piores dias da pandemia, em abril, mais de 4 mil mortes por Covid. Em 26 de dezembro registramos apenas 28 mortes. Isso não é por acaso. Já temos 94% da população acima de 12 anos vacinada com a primeira dose, e 81% vacinada com duas doses. Do patamar de 4,2 mil mortes em apenas 24 horas, em abril, passamos para apenas 28, em dezembro. Uma queda fantástica de 99,3% no número de óbitos.

Para encerrar a pandemia, mais vale 70% da população mundial com duas doses do que poucos milhões de israelenses com quatro.

Estar vacinado com o ciclo completo e o reforço (booster ou terceira dose) é como andar de carro blindado numa cidade violenta e cheia de assaltantes (as partículas de coronavírus). Porém, há uma ressalva que precisa ser feita. No Brasil e na esmagadora maioria dos países ainda é muito cedo para se falar em quarta dose. O esforço mundial deveria ser para completar as duas doses na maior parte e aplicar a terceira. O esforço mundial deveria ser não para entupir uns poucos indivíduos com não-sei-quantas doses de vacina, mas para democratizar o acesso à imunização.

Do ponto de vista da pandemia (que, por definição, é uma epidemia globalizada), é mais vantajoso investir em vacinar o continente africano (onde mais de 90% da população não tomou nem uma dose sequer) do que investir em vacinar uma população de menos de 10 milhões de pessoas (o caso de Israel) com quatro doses. Para encerrar a pandemia, mais vale 70% da população mundial com duas doses do que poucos milhões de israelenses com quatro.

Dimitri Martins é mestre em Administração e especialista em Gestão Pública.

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