Muito além de ser apenas um percurso para a construção de conhecimento, a educação básica se apresenta como uma mola para o desenvolvimento integral do indivíduo e o transforma em um cidadão consciente de seus direitos e deveres. É na escola que tudo começa, onde crianças e jovens são incentivados a desenvolver o pensamento crítico e a trabalhar na construção de uma identidade saudável e digna de operar no mundo em constante transformação. Não se trata apenas de cumprir etapas ou obter diplomas; a educação básica, especialmente em países em desenvolvimento, como o Brasil, desempenha um papel crucial na construção de uma sociedade mais igualitária e na criação de oportunidades para todos.
A escola de ensino básico é o espaço privilegiado no qual crianças e jovens conseguem desenvolver habilidades e competências fundamentais para suas vidas. É inegável a importância da interação entre professores e alunos no processo de desenvolvimento humano. Por isso, alcançamos nosso máximo potencial quando estamos envolvidos em um projeto pedagógico, com professores que investem e acreditam na capacidade de seus estudantes.
Ao negligenciarmos o percurso educacional no ensino básico, comprometemos o desenvolvimento de habilidades cognitivas, sociais e emocionais.
A educação básica também é um instrumento essencial na luta pela redução das desigualdades sociais. Recente relatório produzido e divulgado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), intitulado Panorama da Educação 2023, aponta que a oferta de educação de alta qualidade na primeira infância é fundamental para proporcionar a todas as crianças um início de vida equitativo. Isso se torna ainda mais crucial para aqueles alunos provenientes de meios menos privilegiados. O relatório também destaca que o ensino básico desempenha um papel fundamental ao permitir que ambos os pais trabalhem, promovendo a participação das mulheres no mercado de trabalho.
Alguns números do relatório nos mostram que os menores índices de desemprego estão inexoravelmente ligados aos níveis mais elevados de escolaridade da população. Conforme evidenciado pelos dados do levantamento, nos países que compõem a OCDE, a taxa de desemprego diminui à medida que o nível de escolaridade aumenta. Entre os trabalhadores com idades entre 25 e 64 anos, a taxa de emprego é de 59% para aqueles que não concluíram o ensino secundário. Essa taxa sobe para 77% no caso daqueles que concluíram o ensino secundário. O estudo destaca que as taxas mais elevadas de conclusão do ensino secundário contribuem significativamente para a formação de uma força de trabalho mais qualificada, proporcionando melhores perspectivas de carreira e salários.
É na escola que crianças e adolescentes começam a desenvolver habilidades que atualmente são consideradas essenciais para operar nesse mundo. É por meio da interação com seus colegas – e também com os professores – que os alunos aprendem a respeitar a diversidade, compreendendo que o respeito requer conhecimento. Na escola, eles também ampliam a capacidade de trabalhar em equipe, percebendo na prática que, mesmo com perspectivas diferentes, ambas as partes podem estar corretas. É nesse ambiente que os estudantes aprimoram as suas habilidades de argumentação, confrontando crenças e opiniões diversas sobre a sociedade na qual estão inseridos, começando a compreender, desde cedo, o mundo que os rodeia.
Um país deve priorizar investimentos na educação básica de sua população, não apenas com objetivos econômicos ou para aprimorar os índices de empregabilidade. O ensino básico tem como finalidade principal não apenas desenvolver as habilidades necessárias para que os estudantes encontrem espaço no mundo do trabalho, mas também construir a cidadania que sustenta as sociedades democráticas. As escolas devem oportunizar aos seus alunos os insumos capazes de promover, desde cedo, o exercício da cidadania, garantindo assim espaço fértil para os valores democráticos e fortalecendo o papel ativo de todos nos rumos do país. Esse é o trabalho que visa à formação integral preconizada pela legislação brasileira e que é fundamental para que se viva uma cidadania digna. Não há cidadania sem matemática, linguagens, ciências humanas e sociais. Por todas essas razões, o ensino fundamental alicerça e impulsiona, integrando essas amplas áreas de conhecimento em prol da formação de indivíduos mais conscientes de seu papel no mundo.
Desde a primeira infância até a adolescência, existem metas de desenvolvimento e aprendizagem significativas para cada ano do ensino fundamental, alinhando oportunidades de trabalho ao potencial dos estudantes. Ao negligenciarmos o percurso educacional no ensino básico, comprometemos o desenvolvimento de habilidades cognitivas, sociais e emocionais de crianças e jovens, enfraquecendo a capacidade produtiva e inovadora na vida adulta, prejudicando a igualdade social, o aprimoramento das condições de vida da população e a construção de um futuro mais promissor para o nosso país.
Acedriana Vogel é pedagoga e diretora pedagógica do Sistema de Ensino Aprende Brasil.
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