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Ensino médio: mudar é preciso, apesar das críticas

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(Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo)

O atual ensino médio brasileiro, de formato único no mundo, representa a maior mazela da educação brasileira. É uma jabuticaba vencida que empurramos goela abaixo de nossos adolescentes. Performance baixíssima e taxa de reprovação e abandono perto dos 30% no 1.º ano. Parte do conteúdo programático é composta de penduricalhos desnecessários que corroboram para um desempenho sofrível nas provas de Matemática e Leitura no último Ideb (2015), cuja média foi 3,7. Não é um indicador isolado, pois também houve queda nas médias das provas de Matemática e Linguagem no último Enem (2015), em comparação a 2014. Ademais, sobejamente conhecido é o resultado dos nossos discentes de 15 anos nas provas do Pisa, sempre nos cinco últimos lugares entre as 65 nações participantes.

Em vez do atual engessamento do ensino médio, com a aprovação da MP 746/16 haverá uma larga flexibilização. Seus atuais objetivos são o Enem e os vestibulares, não obstante apenas 17% dos nossos jovens de 18 a 24 anos estarem numa faculdade, constituindo, portanto, um dispêndio de tempo e recursos.

Faz bem o MEC ao manter para o novo ensino médio a obrigatoriedade das disciplinas de Português, Matemática e Inglês nos três anos, uma vez que ensejam estudantes com bom raciocínio lógico, boa verbalização e escrita, requisitos muito valorizados em um mundo globalizado.

O maior gargalo será definir a vocação institucional de cada escola

A grade curricular das atuais disciplinas será comprimida em 1,2 mil horas, constituindo o Núcleo Comum obrigatório, cujo programa será definido pela BNCC, em gestação no MEC e que passará pela aprovação do CNE, do Consed e do Ministério. Para completar as 2,4 mil horas mínimas (três anos de 800 horas), restaram 1,2 mil horas para a Parte Diversificada, na qual o aluno pode optar por uma das cinco áreas: Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza, Ciências Humanas, e Formação Técnica e Profissional.

Com esse formato, haverá uma diversidade na oferta do ensino médio, o que certamente será um desafio para as instituições de ensino. Num amplo espectro, teremos numa ponta escolas essencialmente ancoradas no programa do Enem, visando ao ingresso nas boas faculdades, e na outra ponta escolas que venham a optar, na parte diversificada, exclusivamente por disciplinas profissionalizantes. Nesse leque de opções, haverá uma ampliação de escolas com jornada de sete horas diárias – outra ênfase louvável da MP.

O maior gargalo será definir a vocação institucional (a parte diversificada): se formação técnica, quais cursos? Se Ciências Humanas, por que não outra área? Ou por que não priorizar uma boa preparação para o Enem?

Sem dúvida, o maior benefício será o direito de escolha do jovem entre as cinco áreas de acordo com suas habilidades ou preferências. Por consequência, os índices de evasão e reprovação diminuirão. Haverá a opção de cursos para formação técnica, atendendo alunos com vocação para a aplicação prática ou seduzidos pelo ingresso rápido no mercado de trabalho. O Brasil apresenta um elevado descompasso em relação aos países da ODCE, cujo índice de matriculados em cursos profissionalizantes é, em média, 40%, enquanto aqui é de apenas 8%.

Há ainda muitas pontas soltas na MP, que esperamos estarem amarradas com a aprovação da BNCC e com a incorporação de parte das emendas no Congresso – hoje há 568 emendas apensadas à MP. Mas, apesar das críticas, há muito urgem mudanças no ensino médio. O atual modelo é gerador de mais desigualdades sociais.

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