| Foto: Migual Schincariol/AFP

O PT votou contra a Constituição de 1988 e tudo aquilo que ela representava naquele momento para o país; esteve contra o Plano Real e tudo aquilo que ele representava para o país naquele momento; foi contra a Lei de Responsabilidade Fiscal e tudo que essa lei representava e representa para o país; foi contra todos os programas sociais aprovados e levados a cabo no governo FHC, mas que, cinicamente, o PT ampliou depois no governo Lula. E, uma vez no governo, o PT levantou as barricadas contra tudo e todos que fossem críticos ao governo. “Herança maldita”, “nós e eles”, “a classe média tem de acabar”, “os ricos odeiam pobres”, “os brancos são racistas”, “família tradicional é um anacronismo” e todo tipo de divisão: negros e brancos, pais e filhos, homens e mulheres, héteros e gays, empregados e patrões, cristãos e ateus, erudito e popular, progressistas e conservadores, tudo foi dividido e politizado na luta política levada à frente pelo PT e pela esquerda. Em resumo, ódio e divisão. Por último, “é golpe”.

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As eleições de 2018 acontecerão nesse clima de divisão. A divisão foi criada e estimulada até a irresponsabilidade; o que temos agora são as suas consequências. O país está dividido? Claro que está; não era possível, depois de uma década e meia, que fosse diferente. A diferença é que enquanto estavam no poder, a esquerda e o PT dominavam o discurso, impunham suas agendas e classificavam qualquer crítica e discordância como reacionária, atrasada, coisa de “vozes da ditadura”. A tal ponto isso chegou que a sociedade, que antes engolia aqueles discursos como farelo impossível de rejeitar, reagiu. Tem se levantado, feito valer sua voz; as redes sociais são um lugar onde essa reação tem se feito valer.

O grande equívoco, as raias do crime, foi tentar transformar um país conservador, interiorano, religioso e cordato numa meca liberticida e comunista. Qualquer um próximo da esquerda brasileira e do PT em particular sabia do desejo – explicito, depois da queda do Muro de Berlim – de que o Brasil fosse o lugar de renascimento do comunismo internacional. Foi em nome desse desejo que o PT jogou seus compatriotas uns contra os outros até o ponto em que, agora, as eleições vão acontecer em um clima de destruição mútua.

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A divisão foi criada e estimulada até a irresponsabilidade; o que temos agora são as suas consequências

Montando a maior máfia de corrupção público-privada de que se sabe no mundo ocidental, o PT tentava, por um lado, manter a classe política, vil e ordinária, sob controle, pela compra mensal, no varejo, da sua docilidade ao “projeto criminoso de poder” (segundo o então presidente do STF); e, por outro, construía o maior banco financiador do seu projeto de poder, via corrupção na Petrobras. Enquanto entorpecia a sociedade intoxicando a vida cotidiana com uma overdose liberticida de política de corrosão do caráter nacional, destruía o que ainda restava de pudor na classe política comprando todos em dinheiro vivo.

O PT é o criminoso que entende o crime como redenção, e que quer convencer da legitimidade da sua iniciativa. Tanto é assim que, dias atrás, FHC disse que Lula precisa responder por seus crimes nas urnas; um absurdo que dispensa comentários. Ao mesmo tempo, o próprio Lula, no Rio de Janeiro, abusava do nonsense ao criticar a prisão de um governador apenas porque ele roubou dinheiro público.

Diante de tudo isso, seja lá quem perca a eleição presidencial ano que vem não aceitará o resultado e precipitará o país em um caos, para não falar em guerra civil aberta nas ruas e nas redes sociais.

Fosse a política algo do mundo apenas das ideias, sem conexão com a realidade, tudo poderia ter solução; mas não é isso o que significa política, e sim o fato de que 30 anos de democracia social de esquerda nos trouxeram a segunda pior educação do mundo; a maior estrutura de poder criminal organizada nos morros e nos palácios; o maior mercado consumidor de drogas das Américas em sua geografia latina; a desorganização completa da hierarquia familiar, de poder e social que se poderia conseguir; o fato de que o crime campeia nas ruas e bairros do país inteiro, ao ponto de segurança hoje significar viver preso e com medo; a feiura arquitetônica elevada a condição de emblema; e o baixo nível cultural, a burrice escolar e o despudor colocados nos píncaros da vida acadêmica, televisiva, teatral, e livresca. Diante disso, não se pode concluir que a eleição do ano que vem será outra coisa a não ser sobre os destinos da nação.

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Opinião da Gazeta: Essa tal polarização (editorial de 23 de julho de 2016)

Demétrio Magnoli: Uma alma desonesta (28 de janeiro de 2016)

Para a esquerda, nosso destino é sermos o renascimento do comunismo nos trópicos, e disso ela não abrirá mão; para isso, irá até as últimas consequências. Para todos os outros, trata-se de recuperarmos o que somos: tradicionais, conservadores e interioranos. Como as duas coisas não podem conviver, nos termos em que a disputa está colocada, já que a esquerda entende que seu papel é revolucionar, o choque é fatal. Ganhando a esquerda, será autoritária pra impor sua agenda liberticida e comunista, porque não pode mais fazê-lo democraticamente. Ganhando a direita, será autoritária, posto que não poderá governar com o estado de caos e guerrilha permanente que será desencadeado pela esquerda, caso perca.

Esse é o estado de coisas em que estamos e que, dificilmente pode ser mudado. Nesse sentido, pouco aprendeu a esquerda com 1964; ela insiste em fazer desse país aquilo que ele não é. A esquerda tem fixação em não admitir a diferença, não aceitá-la e, pior, destruí-la. Para a esquerda, democracia é o que ela pensa e quer; não sendo ela, não há democracia.

Luciano Alvarenga é sociólogo e mestre em Economia.