Como resultado de pesquisa realizada com um grupo de pessoas da cidade de Curitiba, que se encontravam na fase de pré-aposentadoria e aposentados, tivemos a oportunidade de investigar vários aspectos relacionados com o processo de envelhecimento e aposentadoria.

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Até que ponto a aposentadoria e o processo de envelhecimento podem ser vividos como uma situação crítica ou de estagnação? O indivíduo pode encontrar outras formas de se realizar produtiva e criativamente nessa etapa da vida? Lembramos que, em nossa sociedade, o trabalho é uma das formas sociais mais valorizadas e propicia ao indivíduo o reconhecimento e a valorização. A atividade profissional, eleita de acordo com as disposições e interesses, é um dos modos do indivíduo atingir a satisfação de suas necessidades.

Talvez graças ao significado social da ocupação, de seu papel e de seus efeitos sobre o indivíduo, haja, atualmente, grande simpatia e preocupação com o trabalhador. A descoberta do homem como trabalhador é um acontecimento do pensamento contemporâneo e, apesar disto, percebemos que há uma escassez de pesquisas sobre o efeito psicológico da interrupção do trabalho, seja por aposentadoria, invalidez e/ou envelhecimento.

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É importante ressaltar outros fatos que explicitam melhor a preocupação. Um deles se refere ao aumento da média de vida do homem e que, ao invés de ser visto como uma evolução da sociedade, se torna, na prática, um problema devido às condições sociais na qual ocorre. Desde 1948, a ONU e outras entidades têm se inquietado com o modo de vida dos idosos nos países em desenvolvimento.

Além disso, verifica-se um contínuo endeusamento à juventude e dos valores que representa. Tal fato não apenas enfraquece a posição dos que não são mais jovens, mas também provoca pânico e um distanciamento generalizado de todos com respeito a tudo aquilo que escapa aos domínios da juventude, fazendo a maior parte das pessoas fugir de uma realidade que só é pensada enquanto vivida. Para nós, esse desapaixonado interesse não deixa de ser um fato instigante, sintomático, pois as pessoas parecem esquecer-se de que "a vida se encarrega de fazer velhos". Além disto, revela a ambigüidade de sentimentos que despertam o declínio e a perda dos atributos valorizados socialmente. Tal situação denuncia o medo encoberto da perda desses atributos, a rejeição às marcas do tempo, denuncia a tentativa de negá-lo, na busca fantasiosa e desenfreada de uma juventude eterna.

O que nos parece importante é que, para ambos os sexos, essa desvalorização social é angustiante. Será que o indivíduo pode encontrar formas produtivas e criativas de se relacionar nessa nova etapa de sua vida? Será que a percebe como uma ameaça ou forma de estagnação? Para responder às questões, acreditamos que o êxito e satisfação profissionais podem contribuir para uma maior integração e um interesse mais amplo em descobrir novas formas de interação nessa nova fase.

O homem pode reconstruir-se em diferentes momentos de sua vida, apesar de muitas vezes estar rodeado de situações adversas. Se os indivíduos idosos têm recebido cuidados e atenção das entidades oficiais é um outro questionamento. Contudo, o dia-a-dia da pessoa idosa não se subordina apenas às leis, regulamentos e normas. É também governada por sentimentos, emoções e atitudes oriundos de hábitos, preconceitos e valores que são significativos no cotidiano, no qual elas estão inseridas e que podem determinar se as normas e os regulamentos serão aceitos e legitimados.

Concluindo, consideramos que o envelhecimento provoca uma série de sentimentos e reações graças ao significado e ao valor que o fato de ser jovem adquire para o indivíduo. A reflexão sobre a situação atual nos remetem a um trabalho de imersão consciente dos desafios contemporâneos da sociedade, gerando um novo pensar sobre as inúmeras possibilidades de ações conjuntas que visam à superação da situação atual do processo de envelhecimento.

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Eunice Maria Nascimento é consultora organizacional e professora da Estação-Ibmec.