Não deixe os fatos atrapalharem uma ótima narrativa.
Mas foi exatamente o que aconteceu no caso de Jussie Smollett, um ator negro e gay que estrela a série Empire, e disse ter sido vítima de um ataque de ódio brutal em Chicago. Na quarta-feira, Smollett foi indiciado por falsa comunicação de crime e “conduta desordeira”.
Inicialmente, Smollett havia culpado apoiadores do presidente Donald Trump pelo ataque, uma narrativa que muita gente na grande imprensa estava ansiosa para espalhar. Antes mesmo que houvesse uma confirmação da história, Robin Roberts, do Good Morning America, entrevistou Smollett. Mas, à medida que os fatos foram aparecendo, ficou claro que a versão de Smollett estava cheia de buracos. Agora, o Departamento de Polícia de Chicago o está investigando por ter inventado a história toda.
E aqueles que se apressaram em condenar os americanos e o presidente pelo caso vão ter de pedir desculpas? Provavelmente não.
Os casos Smollett e Covington fazem um estrago na confiança que os americanos têm na imprensa
Embora a maior parte da imprensa nacional tenha comprado totalmente a versão inicial dos eventos dada por Smollett, é preciso dar crédito à mídia local. Uma afiliada da CBS em Chicago fez um trabalho fantástico na cobertura da história, desde o começo, e permaneceu comprometida em divulgar todos os fatos envolvendo a história. Muitos outros, no entanto, se apressaram em promover o caso como se fosse uma acusação contra o país todo.
O erro midiático vem na sequência do fiasco da escola Covington Catholic. Vocês se lembram de quando a imprensa construiu toda uma uma história falsa envolvendo um estudante que usava um boné “Make America Great Again” e um nativo indígena? Aquele desastre levou os pais do estudante a processar o Washington Post por calúnia, pedindo indenização de US$ 250 milhões.
Leia também: Jussie Smollett e um crime perfeito (artigo de Noah Rothman, publicado em 21 de fevereiro de 2019)
Rodrigo Constantino: Até onde vai a podridão ideológica da mídia? (27 de janeiro de 2019)
O que torna essa história especialmente interessante é que o juiz Clarence Thomas, da Suprema Corte, apenas um dia depois da notícia sobre o processo contra o jornal, afirmou, em um voto, que discorda do precedente aberto por um caso de 1964, “New York Times v. Sullivan”. Aquele caso determinou que o critério para se configurar a calúnia é a “malícia comprovada” ou “desprezo descuidado” pela verdade. Reverter esse critério para o que a lei norte-americana dizia antes desse caso colocaria as organizações de imprensa em maus lençóis caso distorçam histórias grotescamente.
De uma forma ou de outra, os casos Smollett e Covington, além de muitos outros, fazem um estrago na confiança que os americanos têm na imprensa, que com frequência parece muito interessada em promover histórias que se alinhem com suas visões políticas, em vez de permanecer comprometida em encontrar a verdade.