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Escola: para se sujar, aprender e até mesmo chorar
| Foto: Unsplash

Tenho pensado muito na diferença entre uma escola estésica, repleta de sensações e estímulos ao desenvolvimento, daquela “anestésica”, em que as crianças são privadas de sentir qualquer desconforto, sejam frustrações ou os sentimentos naturais do processo de socialização.

Se pensarmos no uso de uma anestesia num centro cirúrgico, sua função é eliminar toda sensação – mas a escola não pode ser assim. Bem diferente, a escola estésica é aquela que oportuniza situações em que a criança desenvolva sentimentos, sensações e esteja sujeita às oportunidades da vida, à medida que vivencia sentimentos ligados aos diferentes tipos de relacionamentos, seja com os professores, funcionários ou colegas.

Nesse processo de formação como seres humanos pensantes é mais importante aprender a ter senso crítico, encontrar soluções de forma inteligente e formular perguntas.

Nem sempre é a vez dela, nem toda atividade sai como ela planejou, é preciso esperar e ouvir - e nosso papel é ajudar a criança a passar por esses sentimentos de forma a ter um repertório que auxilie a lidar com a vida real, com suporte e sem grandes sofrimentos. A produção do conhecimento hoje em dia mostra que o foco não é mais acumular conteúdo. Ferramentas como o ChatGPT, que permite produzir textos de boa qualidade em poucos segundos por meio da inteligência artificial, são a prova de que todo tipo de conteúdo está ao alcance de todos, mas é preciso aprender o que fazer com esses fartos recursos à disposição.

Nesse processo de formação como seres humanos pensantes, é mais importante aprender a ter senso crítico, encontrar soluções de forma inteligente e formular perguntas conectadas à realidade. Trata-se de um momento em que não interessa tanto utilizar atividades fotocopiadas idênticas entre todos a serem meramente preenchidas. Antes, é preciso ensinar a dividir, brincar e experimentar sensações, saber o que fazer com todo o universo sensorial e relacionar-se abertamente de forma igualitária.

Isso pode ser alcançado com o uso de espaços que estimulam a brincadeira contextualizada, ou pesquisas conjuntas que surgem de um interesse específico da criança, ou pelo seguimento de projetos em que ela é protagonista. Outras ferramentas pedagógicas, como a psicomotricidade relacional, são capazes de usar a brincadeira na construção das relações de forma muito satisfatória.

Vejo que temos em nossas mãos uma geração que precisa de segurança para testar suas capacidades, que são muitas, e explorar esse imenso repertório de ideias e sensações que a escola proporciona.

Marianna Canova é mestre em Educação e diretora do Peixinho Dourado Berçário e Educação Infantil, em Curitiba (PR).

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