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Tenho pensado muito na diferença entre uma escola estésica, repleta de sensações e estímulos ao desenvolvimento, daquela “anestésica”, em que as crianças são privadas de sentir qualquer desconforto, sejam frustrações ou os sentimentos naturais do processo de socialização.

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Se pensarmos no uso de uma anestesia num centro cirúrgico, sua função é eliminar toda sensação – mas a escola não pode ser assim. Bem diferente, a escola estésica é aquela que oportuniza situações em que a criança desenvolva sentimentos, sensações e esteja sujeita às oportunidades da vida, à medida que vivencia sentimentos ligados aos diferentes tipos de relacionamentos, seja com os professores, funcionários ou colegas.

Nesse processo de formação como seres humanos pensantes é mais importante aprender a ter senso crítico, encontrar soluções de forma inteligente e formular perguntas.

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Nem sempre é a vez dela, nem toda atividade sai como ela planejou, é preciso esperar e ouvir - e nosso papel é ajudar a criança a passar por esses sentimentos de forma a ter um repertório que auxilie a lidar com a vida real, com suporte e sem grandes sofrimentos. A produção do conhecimento hoje em dia mostra que o foco não é mais acumular conteúdo. Ferramentas como o ChatGPT, que permite produzir textos de boa qualidade em poucos segundos por meio da inteligência artificial, são a prova de que todo tipo de conteúdo está ao alcance de todos, mas é preciso aprender o que fazer com esses fartos recursos à disposição.

Nesse processo de formação como seres humanos pensantes, é mais importante aprender a ter senso crítico, encontrar soluções de forma inteligente e formular perguntas conectadas à realidade. Trata-se de um momento em que não interessa tanto utilizar atividades fotocopiadas idênticas entre todos a serem meramente preenchidas. Antes, é preciso ensinar a dividir, brincar e experimentar sensações, saber o que fazer com todo o universo sensorial e relacionar-se abertamente de forma igualitária.

Isso pode ser alcançado com o uso de espaços que estimulam a brincadeira contextualizada, ou pesquisas conjuntas que surgem de um interesse específico da criança, ou pelo seguimento de projetos em que ela é protagonista. Outras ferramentas pedagógicas, como a psicomotricidade relacional, são capazes de usar a brincadeira na construção das relações de forma muito satisfatória.

Vejo que temos em nossas mãos uma geração que precisa de segurança para testar suas capacidades, que são muitas, e explorar esse imenso repertório de ideias e sensações que a escola proporciona.

Marianna Canova é mestre em Educação e diretora do Peixinho Dourado Berçário e Educação Infantil, em Curitiba (PR).

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]