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scola pode ajudar a melhorar a qualidade da alimentação das crianças.
scola pode ajudar a melhorar a qualidade da alimentação das crianças.| Foto: Vitolda Klein/Unsplash

A alimentação das crianças é responsabilidade da família. Esta afirmação é verdadeira, mas somente até a segunda página deste livro chamado vida. A partir do momento que ela passa mais tempo da infância dentro da escola do que em sua casa, ensinar sobre escolhas alimentares, ampliando o repertório alimentar das crianças, passa a ser responsabilidade e dever pedagógico. Também é na escola e em casa que crianças e adolescentes passam a entender que não se deve desperdiçar alimentos, o que muitas vezes acontece pelo fato de o prato estar repleto de comida altamente nutritiva, mas pouco atraente ao paladar infantojuvenil.

O dilema em elaborar um cardápio que precisa abranger diferentes culturas alimentares em um único menu é um desafio diário para os profissionais envolvidos na cozinha de uma escola. Não é raro que ao receberem as sugestões da nutricionista, ocorram os ruídos com as cozinheiras que sabem de cor e salteado o que sai e o que empaca ao servir uma refeição. Mas como driblar esta situação em que muitos alunos colocam a comida nutritiva nas bordas dos pratos? A resposta pode ser mais fácil do que parece: aproximar alunos da cozinha, para proporcionar momentos planejados e diários em que elas façam parte do processo de preparo dos alimentos, pode gerar um desfecho otimista na relação delas com a comida até a vida adulta.

A troca de experiências entre a família e a escola pode ser um caminho nesta jornada de engajar as crianças no consumo de alimentos saudáveis

O grande desafio é que muitas vezes ocorre uma diferença considerável na comparação com o que é servido nos ambientes fora da escola. Sabemos que refeições regadas a açúcar ou sódio em excesso tendem a ser a preferência dos estudantes, que ao se depararem com o sabor natural de frutas, verduras e legumes, o rejeitam.

Para começar a ter bons resultados no que diz respeito ao aprimoramento do repertório alimentar das crianças, precisamos ter a consciência de que fazer um bolo de brócolis e servir no almoço não garantirá que este seja consumido com prazer. É necessário aí traçar um caminho didático, que envolve o entendimento do aluno sobre o que ele come, de como o alimento é produzido e chega à sua mesa diariamente.

Uma das estratégias é oferecer às crianças e adolescentes a experiência de cultivar uma horta em ambiente escolar. Ir até esse local, incentivar os alunos a plantarem um brócolis, por exemplo, para dias depois colhê-lo e levá-lo até a aula de culinária para elaborar um prato coletivamente, ajuda o estudante a compreender a importância da alimentação saudável. Esse ato pode garantir umas belas mordidas e, por assim dizer, um passo em direção a ensinar a consumir um alimento nutritivo.

Desta forma a comida passa a fazer sentido, pois se constrói uma relação do processo do aprender: uma história contada a partir das experiências, desde a horta até o prato. A partir do momento em que as famílias começam a notar estas pequenas doses de coragem ao perceberem que seus filhos já não se importam mais em encontrar uma salsinha no meio da sopa ou um pedaço de cebola, é quando a escola começa a colher os frutos do seu trabalho.

Além da alimentação saudável, precisamos também como educadores e educadoras dar atenção à conscientização das crianças sobre desperdícios. Observar muitas vezes os lixos lotados de comida após o recreio porque o lanche servido era esplendoroso quanto sua carga nutricional, mas com pouco sabor na opinião de quem o consome, passa a ser não só da conta da escola. Isso vai além, e trata-se de uma questão social. O Relatório do Índice de Desperdício de Alimentos 2024 apontou que no ano de 2022 os seres humanos geraram 1,05 bilhão de toneladas de resíduos alimentares. Esse número contrasta com outro que é igualmente preocupante. No mundo, são 280 milhões de pessoas que passam fome, de acordo com dados de 2023 da Organização das Nações Unidas (ONU). Isso é uma verdadeira ré na agenda dos ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável) e sua meta até 2030.

A cozinha é a alma do lar. É nela que retiramos o sustento para nos mantermos vivos. A troca de experiências entre a família e a escola pode ser um caminho nesta jornada de engajar as crianças no consumo de alimentos saudáveis e evitar desperdícios. Assim podemos conscientizá-las de que uma vida saudável depende exclusivamente das escolhas alimentares que fazemos desde o nascimento.

Carolina Paschoal é diretora da Escola Pedro Apóstolo.

Conteúdo editado por:Jocelaine Santos
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