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Ter vivido 6.205 dias parece muito. Mas parece muito se pensarmos que nestes dias todos poderíamos ter aprendido coisas, adquirido experiência, ouvido música, viajado ou feito alguma coisa que gostamos muito. Dezessete anos fazendo qualquer atividade pode ser considerado muito tempo, desde que essa atividade não esteja relacionada à decisão profissional, àquela hora em que precisamos marcar o curso que pretendemos fazer na faculdade e, com essa marca, consequentemente, definir a profissão que acreditamos querer exercer pelo resto das nossas vidas. Por esse cronômetro, 17 anos serão quase sempre insuficientes.

Sempre vi com admiração os jovens que desde cedo conseguem definir suas profissões. Alguns parecem já carregar um diploma de "felizes para sempre", antes mesmo de entrarem na universidade. Trazem no rosto a definição do que serão, o que é um privilégio de poucos.

A escola investe em formação profissional, capacita. A família instrui, oportuniza vivências e, ainda assim, nossos filhos e alunos se decepcionam ao entrarem na faculdade ao perceberem que estão na turma errada, no curso errado, no caminho errado. Matrículas são trancadas, novas inscrições abertas e, inevitavelmente, algumas frustações começam a ser colecionadas.

Independentemente do destino, o trajeto deve ser planejado. Pode ser que ao longo dele tenhamos alterações na rota porque, muitas vezes, elas são inevitáveis e, quando as entendemos como parte de um processo de escolha, ficam mais fáceis de serem administradas. Importante mesmo é planejar o caminho. Nesse caso, com informação.

Precisamos incentivar nossos jovens a frequentar palestras, participar de seminários, visitar universidades, ouvir relatos de experiências, ler reportagens. Conhecer o cotidiano do trabalho e as dificuldades encontradas pelos profissionais que atuam nas possíveis áreas escolhidas. Devem sim planejar a logística da vida adulta a partir da escolha e da possível situação financeira, mas precisam também se imaginar vivendo como personagem dessa história que estão pretendendo construir. Quantos de nós estaríamos fazendo o que estamos fazendo hoje se tivéssemos tentado nos imaginar no futuro?

O consultor indiano e professor da Universidade de Harvard, Raj Sisodia, durante uma palestra recente em São Paulo, fez alusão a uma pesquisa da Gallup que mostra que 72% das pessoas no mundo não gostam do próprio trabalho. Como seria passar 6.205 dias exercendo um trabalho do qual não gostamos? Estaríamos, nesse caso, falando novamente de apenas 17 anos, entretanto, sabemos que muitas pessoas convivem com o fardo da opção equivocada por muito mais tempo.

Então, nada de querer que o seu filho seja o que você queria ter sido porque ele não é você! Nada de ensiná-lo a pensar de forma unilateral porque, pode ter certeza, o equilíbrio entre razão e emoção fará falta mais tarde. Nada de transpor para a vida a origem da palavra trabalho que, do latim tripalium , significa "castigo", e que, na Idade Média, dava nome a uma estaca fincada no chão que servia de tronco para o castigo de escravos. Se é para conservar algum conceito, então que seja o que diz "feliz daquele que gosta do que faz! Só assim não precisa trabalhar!"

Gerson Luis Carassai é diretor-geral do Colégio Marista Santa Maria da Rede de Colégios do Grupo Marista.

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