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Escolha pela vida
| Foto: Geraldo Bubniak/AEN

Neste momento, o Brasil ocupa o terceiro lugar no ranking de países com maior número de infecções por Covid-19. Também estamos em segundo lugar no ranking de mortes em decorrência da doença. Mesmo com alguns grupos prioritários já imunizados, os índices de novos casos seguem altos – e a melhor forma para conter o avanço da pandemia é por meio da vacinação em massa. Quanto mais rápido formos capazes de vacinar a população, mais significativa será a redução de todos esses números alarmantes. Para acelerar esse processo, temos hoje disponíveis quatro tipos de imunizantes. No entanto, o que poderia ser considerado positivo (e realmente é) infelizmente tem feito com que pessoas sem motivos justificáveis definam com qual vacina querem ser imunizadas. Existem, de fato, razões válidas para se escolher a vacina contra Covid-19?

As vacinas atualmente disponíveis no Brasil – Coronavac, Oxford/Astrazeneca, Pfizer e Janssen – apresentam eficácia mínima comprovada por meio de estudos científicos de 50,3%, 67%, 95% e 66%, respectivamente, para evitar o adoecimento contra as formas moderadas e graves da Covid-19. Assim, todas elas cumprem esse papel. Estudo realizado em Serrana (SP), em que toda a população adulta foi imunizada pela Coronavac, mostra que os casos sintomáticos de Covid-19 caíram 80%; as internações, 86%; e as mortes, 95%, após a segunda dose da vacina.

E o que dizer dos idosos e dos profissionais de saúde? A grande maioria foi imunizada primeiramente com a Coronavac. Houve uma redução do número de internamentos e de mortes por meio da vacina de origem chinesa em todo o território brasileiro. O mesmo podemos dizer em relação à Oxford/AstraZeneca. Outro estudo populacional em andamento, agora na cidade de Botucatu (SP), também viu uma redução em 81% de novos casos de infecção pela Covid-19 após cinco semanas da vacinação em 82% dos adultos com a primeira dose. As vacinas da Pfizer e Janssen têm mostrado, em Israel e nos Estados Unidos, respectivamente, uma redução expressiva de novos casos de infecção, de taxa de hospitalização e de letalidade após 60% da população adulta vacinada com a primeira e/ou segunda dose.

Há de se atentar aos órgãos reguladores de saúde internacionais, como o da Austrália e o dos Estados Unidos, que apontam que alguns grupos teriam razões válidas para escolher a vacina. São eles: pessoas com história de trombose do seio venoso cerebral; trombocitopenia induzida por heparina; trombose venosa esplâncnica idiopática (mesentérica, portal e esplênica); pacientes com síndrome antifosfolipídica com trombose; e gestantes. Isso porque nesses grupos tem sido relatada associação da Síndrome da Trombose com Trombocitopenia após a vacinação com a vacina da Janssen e da Oxford/AstraZeneca. Portanto, para essas pessoas, a indicação tem sido pela vacinação com o imunizante da Pfizer e com a Coronavac, vacinas em que não tem sido vista a relação com essa síndrome, que é uma doença rara que envolve coágulos sanguíneos (trombose) em qualquer parte do corpo, porém mais comumente no cérebro e no abdômen, com baixa contagem de plaquetas (trombocitopenia). Isso geralmente ocorre até 40 dias após a vacinação e é mais frequente em indivíduos abaixo de 60 anos, sendo mais apresentado em mulheres. O mecanismo que causa essa síndrome não é totalmente compreendido, mas parece semelhante à trombocitopenia induzida por heparina, uma reação rara ao tratamento com esse anticoagulante. Não há evidências de que pessoas com histórico anterior de outros tipos de coágulos sanguíneos tenham risco aumentado dessa síndrome. A taxa geral de coágulos sanguíneos não aumentou em países que usaram extensivamente a vacina AstraZeneca ou a Janssen.

Outro grupo da população também merece atenção: o dos cidadãos com alto risco social (moradores de rua, usuários de drogas, entre outros). Para essas pessoas, a imunização completa deveria ser com uma vacina de apenas uma dose, como a Janssen. Isso porque a vulnerabilidade social leva a uma dificuldade de aplicar a segunda dose.

Assim, cada pessoa deve fazer uma escolha consciente, baseada em fatos verídicos e na ciência, lembrando que a escolha tem impacto coletivo e não apenas individual. A vacina protege, sim, vidas, mas a vacinação é que salva. Somente com a vacinação do maior número de brasileiros é que será possível voltar à normalidade. Por isso, escolha por vacinar, escolha pela vacina disponível, escolha pela vida.

Viviane de Macedo, infectologista e doutora em Ciências, é professora de Doenças Infecciosas e Parasitárias do curso de Medicina da Universidade Positivo (UP).

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