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Opinião do dia 2

Esperança na juventude

Precisamos em primeiro lugar, redescobrir nossa missão de professores como uma tarefa muito mais ampla que o mero ensino-aprendizagem de uma matéria específica

Acabo de retornar de uma experiência inédita que vale a pena testemunhar neste espaço: minha participação na Jornada Mundial da Juventude em Madri. Fui como religioso praticante, pesquisador educacional e guia turístico de 70 universitários. As sensações, percepções, emoções e insights foram as mais diversas, mas todas elas muito enriquecedoras e inesquecíveis. E o balanço final foi este: uma imensa esperança nesta nova juventude que está surgindo!

Críticos dizem que este evento foi mais uma experiência religiosa sem grande profundidade, em que jovens de 170 países aproveitaram a ocasião para viajar, fazer turismo, divertir-se, conhecer gente e terminar suas férias de verão ou inverno. Sou da opinião de que se tratou de muito mais do que isso: vimos uma demonstração de que a Igreja de Cristo mantém sua pujança e vitalidade, e que uma nova juventude está surgindo em nossa aldeia global.

Enquanto contemplava aqueles 2 milhões de jovens no aeródromo de Cuatro Vientos, alguns dados anunciados me fizeram pensar: 1.560.000 celulares estavam ativos no momento da tempestade de sábado à noite. 17 tendas eucarísticas com capacidade para mil pessoas foram instaladas para a exposição do Santíssimo nas margens desse imenso descampado, e pude testemunhar o fluxo de jovens durante todas as horas da madrugada para rezar, num revezamento quase que combinado, enquanto os demais dormiam ao relento, em seus sacos de dormir.

Os jovens que contemplava eram de todos os cantos do mundo, mas chamou-me a atenção, pelos traços físicos e pelas bandeiras enroladas nas mochilas, que muitos eram holandeses, franceses, dinamarqueses, austríacos, suecos, alemães, russos, chineses... todos com muito bom aspecto!

Enquanto os "anjos maus" provocavam raios, chuvas e furacões naquela noite mágica, talvez descontentes com o que viam, meus anjos bons também o faziam, mas de forma positiva na minha mente. Um imenso clarão relampejou: "Está nascendo uma nova geração de jovens!" Jovens que estão fartos da mentira do materialismo hedonista, de uma vida sem rumo e sem sentido, sem valores e sem ética. Jovens que estão descobrindo novas formas de se comunicar, entre si e com Deus, talvez enfraquecendo ou neutralizando uma mídia muitas vezes perversa. O verdadeiro Amor é a grande motivação desses jovens, não os namoricos efêmeros da balada de um sábado à noite... Permanecer ajoelhado num chão incômodo para adorar a hóstia consagrada numa noite tempestuo­­sa só é possível de forma livre e autônoma quando já se descobriu a transcendência da vida.

Tendo em vista esse clarão, penso que nós professores temos de estar preparados para essa nova onda que, mais cedo ou mais tarde, chegará ao Brasil. E o que podemos fazer? Parece-me que necessitamos refletir com calma na mensagem que o Papa deixou aos professores no El Escorial durante esta Jornada da Espanha. Seleciono o seu núcleo principal:

"Mas onde poderão os jovens encontrar estes pontos de referência numa sociedade vacilante e instável? Às vezes pensa-se que a missão de um professor universitário seja hoje, exclusivamente, a de formar profissionais competentes e eficientes que satisfaçam as exigências laborais de cada período concreto. Diz-se também que a única coisa que se deve privilegiar, na presente conjuntura, é a capacitação meramente técnica. Sem dúvida, prospera na atualidade essa visão utilitarista da educação universitária, difundida especialmente a partir de âmbitos extrauniversitários. Contudo, vós que vivestes como eu a Universidade e que a viveis agora como docentes, sentis certamente o anseio de algo mais elevado que corresponda a todas as dimensões que constituem o homem. Como se sabe, quando a mera utilidade e o pragmatismo imediato se erigem como critério principal, os danos podem ser dramáticos: desde os abusos de uma ciência que não reconhece limites para além de si mesma, até ao totalitarismo político que se reanima facilmente quando é eliminada toda a referência superior ao mero cálculo de poder. Ao invés, a genuína ideia de universidade é que nos preserva precisamente desta visão reducionista e distorcida do humano."

Precisamos, portanto, em primeiro lugar, redescobrir nossa missão de professores como uma tarefa muito mais ampla que o mero ensino-aprendizagem de uma matéria específica. Temos de nos conscientizar com frequência de que esse conteúdo disciplinar deve ser apenas um veículo para que nossos alunos alcancem algo muito mais profundo, que é a verdade sobre eles mesmos e sobre o mundo que os cerca. Quando isso é feito com sabedoria, conquista-se o fim último da educação: a posse da verdadeira liberdade, que culminará num bom comportamento ético. E, em segundo lugar, nos urge essa tarefa, sempre difícil, de encontrar tempo para uma formação continuada nesses saberes éticos, que nem sempre, por diversos motivos, estão muito presentes em nossos estudos. Opino que somente dessa maneira nós professores estaremos preparados para trabalhar com a futura geração que se avizinha.

João Malheiro é doutor em Educação pela UFRJ. E-mail: malheiro.com@gmail.com Blog: escoladesagres.org

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