Enquanto no Brasil a valorização do esporte associado ao desenvolvimento cognitivo educacional é a exceção, nas potências olímpicas esta é a regra. É exatamente aí que reside uma das grandes diferenças: nossas poucas medalhas ficam reservadas a atletas excepcionais que se destacam e são lapidados (muitas vezes tardiamente), enquanto as muitas medalhas de alguns países são fruto de uma seleção entre diversos atletas também excepcionais e que recebem intenso treinamento e aperfeiçoamento desde os primeiros anos na vida escolar.
É preciso compreender que, ao promover o esporte nas escolas, campeões realmente serão formados e despontarão, mas algo ainda mais importante também acontecerá: hábitos saudáveis serão disseminados e estimulados entre os alunos, e valores como disciplina, perseverança e trabalho em equipe serão desenvolvidos. O esporte tem a capacidade de quebrar paradigmas, transformar pensamentos e educar pessoas por meio do movimento e da interação social.
Partindo da percepção óbvia de que o estímulo ao esporte desde os anos iniciais do ensino fundamental só traz benefícios, falta o Brasil despertar de forma maciça em relação a isto e partir para a ação. Primeiramente, é indispensável promover no país uma verdadeira mudança cultural sobre a prática esportiva, de forma que não seja algo pontual no tempo ou espaço, mas algo que se torne perene e abrangente em nível nacional. Mudanças culturais requerem tempo, paciência e persistência, então medidas que busquem obter resultados imediatos já nascem com uma mínima probabilidade de sucesso. Um planejamento de médio e longo prazo é o caminho!
Por fim, deve-se ter em mente que é impossível realizar políticas públicas ou ações privadas para o fomento do esporte sem os devidos investimentos. Técnicos, preparadores físicos, nutricionistas, psicólogos, suplementos alimentares, equipamentos diversos, inscrições em competições e outros itens fazem toda a diferença no desenvolvimento e aperfeiçoamento de crianças que ingressam no mundo da prática esportiva. Tentar garimpar e desenvolver campeões sem aplicar os recursos necessários é simplesmente fazer o que sempre fizemos, é repetir os erros que sempre cometemos, é esperar que o acaso faça todo o trabalho.
Alguém pode questionar: então está tudo errado no Brasil em relação à disseminação e incentivo aos esportes? É óbvio que não! Existem algumas iniciativas louváveis, que devem ser exaltadas, estudadas e copiadas em todo o território nacional. Em todo o Paraná, por exemplo, o Sesc e secretarias municipais de Esportes realizam em parceria o projeto Aprender e Jogar, que prima pelo desenvolvimento individual e coletivo do aluno por meio do ensinar o esporte e praticar a educação. Em 2019, por exemplo, mais de 316 mil crianças e jovens entre 6 e 17 anos foram atendidos por este projeto em todo o estado. A aluna Érica Gomes, integrante do projeto desde 2016, que em Curitiba é comandado pelo Sesc da Esquina, acabou de ser convocada para a seleção brasileira sub-17 de futebol feminino, que participará da Copa do Mundo da categoria em agosto do ano que vem, na Índia.
Vale também lembrar outra iniciativa de sucesso no Paraná: no fim dos anos 90 e início do atual século, o então secretário estadual de Esportes, Ney Leprevost, implantou centros de excelência de xadrez, surfe, handebol e ginástica artística, e ampliou o Centro de Excelência de Voleibol do Paraná, que era patrocinado pelo Rexona e coordenado pelo técnico Bernadinho. Nomes como Daiane dos Santos e Daniele Hypolito participaram do projeto, que mostrou significativos resultados.
Assim como os exemplos citados, existem tantos outros. É o caso do Centro de Formação de Atletas Nilinho Neves, o projeto da Associação Esportiva Badminton Curitiba, da Federação do Desporto Escolar do Paraná, o projeto social Raquetes Salvam Vidas e das federações paranaenses de judô, ciclismo e voleibol, entre outros.
Exemplos e pessoas bem-intencionadas existem. Faltam mais valorização, apoio e incentivo para elas e otimização na aplicação dos recursos disponíveis.
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