| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo

“Muçulmanos devem provar que não são terroristas antes mesmo de falar”, disse recentemente o ex-jogador de futebol Frédéric Kanouté, adepto da religião islâmica, ao jornal britânico The Guardian. Essa é a realidade que muitos muçulmanos enfrentam atualmente no mundo, especialmente nos mundos norte-americano e europeu.

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Adrian Russell Elms, renomeado na vida adulta como Khalid Massood, era britânico. Nascido em solo inglês, com ascendência europeia, se aproximou da religião muçulmana já na vida adulta. Mas isso não quer dizer que necessariamente se tornaria algum tipo de radical ou extremista religioso, que chamaria a atenção do mundo ao matar quatro pessoas e deixar mais de 50 feridos em Londres. Significa, tão somente, que se tornaria mais um muçulmano em solo inglês, como muitos outros que vivem no país. No entanto, por algum motivo, optou por se afastar do discurso pacífico de solidariedade e compaixão do islã. E é justamente nessa motivação que está o “nó” para a compreensão do aumento dos radicalismos religiosos (de quaisquer religiões) que perpassam o mundo nos anos recentes.

O outro não é mais o externo ao país, como era de forma facilmente visível e identificável há 80 anos

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Nas próximas quatro décadas, segundo projeções do Pew Research Center, o islamismo crescerá de forma mais acelerada que qualquer outra religião, assim como também aumentará em pelo menos 10% a quantidade de pessoas sem religião no mundo. A previsão é de que, em 2050, cristãos e muçulmanos tenham o mesmo porcentual da população mundial professando suas fés. Isso significa que a conversão de Massood não é algo atípico, mas sim parte de uma realidade internacional maior no que se refere a práticas religiosas, ou seja, segue uma tendência mundial e não é algo isolado.

Nesse contexto de aumento da religião muçulmana no mundo, é normal que os países não consigam dar conta das mudanças sociais e culturais que vêm atreladas à mudança na composição religiosa no país. Juntamente com essas mudanças sociais internas no Estado, há outras mudanças estruturais no sistema doméstico e internacional que dificultam a forma de o Estado lidar com esse novo elemento de alteridade que surge.

O outro não é mais o externo ao país, como era de forma facilmente visível e identificável há 80 anos. As relações de poder no mundo e nos países mudaram, e o sistema de construção dos mecanismos de medo e de segurança também foi alterado.

O outro é o diferente, o que não se integra, o que não faz parte do que se espera ser o “homem médio” ou a normalidade. O islamismo está crescendo no mundo. Ele não é ainda o médio, a normalidade, na maioria dos países ocidentais. Enquanto os Estados não incorporarem esse raciocínio e essa visão nas suas políticas domésticas e externas, os extremismos e radicalismos continuarão tendo espaço para surgimento, e tentar conter esse tipo de ameaça será nada mais que tentar ordenhar um boi.

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Andréa Benetti é professora do curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Internacional Uninter.