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Imagem ilustrativa.| Foto: Unsplash

A campanha eleitoral toma novo rumo a partir do resultado do primeiro turno. E, como se diz a cada pleito, a segunda volta é uma nova eleição, com novas alianças, com apoio dos derrotados e muitas vezes com discursos completamente opostos aos do primeiro turno.

Não é novidade para ninguém que o PT é um partido que defende causas ditas “progressistas”, termo usado para maquiar os epítetos socialista ou comunista. As pautas do partido sempre optaram por defender novos conceitos de família, por pugnar pelo Estado ateu, por proclamar o direito ao aborto e a implantação da ideologia de gênero. A Igreja, em seus dois milênios de existência, ensinou todo o contrário disso.

Gostaria de saber é como parte da mídia e partidos socialistas fazem com suas consciências. Até ontem falavam de Estado laico, mas agora que convém e precisam da Igreja, correm para se abrigar debaixo de uma batina.

E não há de se falar em uma convergência entre a caridade pregada e oferecida pela Igreja com as supostas intenções de defesa dos mais pobres que defenderiam os partidos social-comunistas.

A Igreja não se limita a pregar, ela vai às ruas, institui hospitais, orfanatos, casas de repouso, escolas, abrigos, e um sem número de ações que demonstram que o catolicismo coloca em prática aquilo que apregoa. Em diametral oposição a isso, a suposta defesa dos pobres por políticos e partidos de esquerda se limita a falar disso de forma retórica, com promessas de fazer algo apenas e tão somente quando assumem o poder.

E note-se que essa ação nem sequer é idônea e desinteressada, sempre vem acompanhada de um questionável “toma-lá-dá-cá”. Além disso, se analisarmos com atenção a avassaladora miséria dos mais pobres que vivem em países dominados por partidos comunistas, perceberemos que esse suposto amparo aos mais pobres, ajuda, na verdade, a escravizar e levar incontáveis almas a um estado de penúria.

É importante essa contextualização inicial para entabular um comentário a respeito da surpreendente atenção que parte da mídia vem dado à questão religiosa, especialmente a católica, nesse início de segundo turno.

No primeiro dia útil após o pleito do dia 2 de outubro, jornais resolveram espalhar fotos antigas do presidente Bolsonaro visitando um templo maçônico, seguindo de uma detalhada explicação sobre o repúdio e a condenação da Igreja Católica em relação à maçonaria. Como por acaso, também encontramos fotos e relatos do apoio que alguns franciscanos resolveram dar ao ex-presidente Lula. Religiosos que raramente vemos em vestes clericais, portanto impecáveis hábitos religiosos, para dar a impressão de que se trata de um apoio institucional da Igreja Católica para o candidato socialista. Não é!

Ninguém esquecerá dos discursos do mandatário petista ao longo do primeiro turno, dizendo que a Igreja não deve se manifestar a respeito da política, ou ainda afirmando que é favorável ao aborto e declarando que “a pauta da família e dos valores é uma pauta muito atrasada”. O que pretendem esses franciscanos? Instituir uma nova doutrina da Igreja, em que os dez mandamentos sejam flexibilizados? Apagar tudo aquilo que os papas, desde Leão XIII ensinaram a respeito do socialismo e do comunismo? Nada disso será possível, eles sabem, mas também não é esse o ponto que gostaria de levantar.

O que realmente gostaria de saber é como parte da mídia e partidos socialistas fazem com suas consciências. Até ontem falavam de Estado laico, mas agora que convém e precisam da Igreja, correm para se abrigar debaixo de uma batina, pouco usada e guardada especialmente para a ocasião, e desfilam a mais reta doutrina da Igreja Católica a respeito de temas como o da maçonaria.

É preciso voltar um pouco na história do Brasil para entender esse fenômeno. Nos anos 80, o governo soviético mantinha na América Latina a editora Editorial Progresso que tinha por intenção divulgar, por meio de publicações, o ideal comunista em nosso continente. Entre as publicações daquela época, encontramos a revista América Latina, que em sua publicação de abril de 1985 trouxe uma interessante matéria assinada por Valentina Andrónova que se intitulava “As comunidades eclesiais de base: nova forma de protesto social dos crentes”, recomendo vivamente que procurem o texto, é um relato de como o próprio Kremlin via o avanço de seu ideário em nosso solo. Trago alguns lampejos para ilustrar o assunto que aqui tratamos.

Ensinava a escritora que as Comunidades Eclesiais de Base – CEB´s  - “traziam ao movimento revolucionário seus conceitos religiosos, de modo a dispor de uma religiosidade nova, repleta de conteúdo democrático e revolucionário”. Mais adiante, ela insistia ainda que era necessário desenvolver a consciência política dos crentes, criando dentro da Igreja Católica um fortalecimento das CEBs, com uma nova interpretação da Bíblia, para dar impulso a um desenvolvimento da consciência social dos crentes.

Conclui ela que os povos latino americanos "por serem profundamente crentes, eles compreendem sua existência e seu lugar no mundo somente através de sua fé, assim como avaliam suas ações à luz de uma interpretação radical da Sagrada Escritura. Foi-lhes dado acesso à Bíblia e eles se dedicaram a lê-la como reflexo vivo da história, fazendo paralelos (...) entre a própria vida e a dos pobres dos tempos bíblicos, convencendo-se de que não é a primeira vez que os ricos e poderosos privam os pobres de seus direitos". Não há como deixar de fazer um paralelo com esse texto, que expressava a vontade do governo da então chamada União Soviética, com aquilo que almeja o movimento que pretende recolocar o ex-presidente Lula novamente no poder.

O Estado Brasileiro é laico, segundo o próprio texto constitucional, mas o povo não é, como já sabiam os comunistas declarados dos anos 80, e como ainda sabem os revolucionários de hoje. E ainda que o número de católicos venha diminuindo na população brasileira, em pleno século XXI a religião trazida por Pedro Álvares Cabral e ratificada com a missa do frei Henrique de Coimbra ainda é o ponto primordial para a escolha do mandatário da nação. Saberão os católicos de hoje distinguir o que é política e o que é difusão de seus ideais? Pretenderão eles viver em um país que reinterprete a doutrina da Igreja Católica?

O papa Leão XIII, em sua encíclica Imortale Dei, ensinou como funcionou a sociedade quando o Estado e a Igreja procuraram se entender de modo a potencializar as virtudes de todos. É na esperança de que essa realidade retratada por aquele Santo Padre volte um dia que encerro meu artigo, usando as próprias palavras de seu documento pontifício: “Tempo houve em que a filosofia do Evangelho governava os Estados. Nessa época, a influência da sabedoria cristã e a sua virtude divina penetravam as leis, as instituições, os costumes dos povos, todas as categorias e todas as relações da sociedade civil. (...) Organizada assim, a sociedade civil deu frutos superiores a toda a expectativa”.

Miguel da Costa Carvalho Vidigal, advogado, sócio do escritório Miguel Vidigal Advogados Associados, é diretor da União dos Juristas Católicos de São Paulo, membro da JAHLF – JPII Academia Internacional em Defesa da Vida Humana e Família e da Comissão de Direitos e Liberdade Religiosa da OAB/SP, 56ª subseção.

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