Não obstante os maciços investimentos de gigantes da tecnologia, a Internet das Coisas pode demorar mais tempo para florescer, ao contrário do que as estimativas mais otimistas alardeiam. A dificuldade não é a tecnologia em si, nem os hábitos das pessoas, que facilmente se acostumam a situações que facilitam sua vida.
Da porta dos laboratórios para dentro tudo pode ser resolvido com trabalho e pesquisa. O problema é da porta para fora. Refiro-me ao lado negro da força. Conhecidos como hackers, eles têm sido um pesadelo para todos os usuários de internet: generais, banqueiros, chefes de Estado ou donas de casa.
De todas as indústrias que investem pesado em projetos de Internet das Coisas, a mais adiantada é a automobilística. Tanto que, hoje, veículos sem condutores já são uma realidade, fato que nos coloca na antessala da inteligência artificial.
Somente dois fabricantes de veículos foram capazes de demonstrar que possuem meios eficazes de monitorar e responder a um ataque de vírus ou malware
No entanto, a Internet das Coisas terá um longo caminho até tornar-se uma realidade e se incorporar de fato à vida das pessoas. De todos os desafios hoje enfrentados, a questão da cibersegurança é a mais difícil de resolver. Dias atrás, assistimos a mais um capítulo dessa história com a publicação de um relatório conclusivo emitido pelo senador norte-americano Edward J. Markey sobre a segurança e privacidade dos proprietários de veículos automotores dos Estados Unidos. Hoje, nos EUA, todos os veículos têm algum tipo de dispositivo wireless embarcado e nativo de fábrica.
O relatório tem por base um questionamento encaminhado a 20 montadoras de veículos com sede nos Estados Unidos, em 2013, sobre as boas práticas e políticas das empresas com relação à resiliência aos ataques de hackers. O documento também alerta quanto à proteção de informações sobre históricos de hábitos e trajetos de seus consumidores. As respostas não foram nada satisfatórias. Quanto à política de privacidade de informações, metade (50%) declarara colecionar informações sobre trajetos de seus clientes de modo off-line; 25% o faziam em tempo real; 6% não colecionavam informações e 19% se abstiveram de responder.
Quanto à questão de resiliência a ciberataques, somente dois fabricantes de veículos foram capazes de demonstrar que possuem meios eficazes de monitorar e responder a um ataque de vírus ou malware. Em veículos de última geração, um ciberataque pode ser devastador, permitindo ao hacker praticamente fazer qualquer coisa no veículo, como controlar freios, direção ou abrir portas, por exemplo. Um ciberataque foi simulado por um hacker que conseguiu controlar o veículo completamente.
Em suma, nos EUA foi comprovado pelo Senado que a segurança e a privacidade do cidadão estão seriamente comprometidas em razão da inconsistência e insuficiência de processos, procedimentos e políticas em relação aos temas questionados.
Tais questões – privacidade e segurança – são apenas dois pequenos riachos que terminam por desaguar no rio principal da Internet das Coisas, onde existe um mar de perguntas hoje sem respostas. A principal delas é: qual o impacto desse cenário não tão distante para a humanidade? Devemos considerar que o natural avanço dos computadores os tornará capazes de pensar e tomar decisões?
Segundo mentes privilegiadas, como Stephen Hawking e Bill Gates, a inteligência artificial pode significar o fim da raça humana ou, no mínimo, um grande risco para a humanidade, tal qual conhecemos hoje. Tal debate não é atual e foi objeto de estudo de Nietzsche (em Assim falou Zaratustra) e de Arthur C. Clarke (em 2001: Uma Odisseia no Espaço). Assim como os homens da pré-história evoluíram para o que somos hoje, o que virá depois do além-homem? Eis o que está de fato em discussão quando falamos sobre Internet das Coisas e inteligência artificial.
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