São muitas as alternativas para resolvermos o grande desafio deste século, que é o de construir uma economia de baixo carbono e uma sociedade mais verde e sustentável. A solução é plural e vai depender das vantagens comparativas e competitivas de cada região, da velocidade das inovações tecnológicas, bem como da disposição das sociedades em adotar políticas públicas que efetivamente reconheçam esse benefício.
O transporte é uma das áreas cruciais para este esforço, visto que este setor responde por cerca de um quarto das emissões globais de gás carbônico, principal responsável pela mudança climática em curso. A combinação de países altamente populosos com sociedades afluentes, a exemplo da China e Índia, que juntas detêm mais de um terço da população do mundo, deve resultar em um significativo crescimento da demanda por automóveis nos próximos anos e, consequentemente, por combustíveis. Segundo o Banco Mundial, a expectativa é de que o número de automóveis deverá dobrar até 2050.
A grande questão é como garantir um aumento desse consumo e, simultaneamente, reduzir as emissões de carbono e do nível de poluição das grandes metrópoles, que tiram a vida de mais de 200 mil pessoas todos os anos devido a doenças respiratórias e cardiovasculares.
O uso do etanol traz três benefícios claros e diretos: o ambiental, a melhoria da saúde pública e o desenvolvimento econômico
Uma solução, bastante exaltada pelos meios de comunicação, tem sido a eletrificação dos motores dos automóveis. Trata-se de uma alternativa concreta, mas que traz consigo importantes desafios que precisam ser devidamente equacionados: de onde virá a energia para alimentar as milhões de baterias? Qual o custo ambiental da produção e descarte delas? Como países em desenvolvimento vão conseguir subsidiar os carros elétricos, que atualmente chegam a US$ 10 mil dólares por veículo (mais que o valor de um carro popular no Brasil)? E, não menos importante, qual o custo de infraestrutura de distribuição dessa energia?
Em um país com dimensões continentais como o nosso, segundo a Empresa de Política Energética (EPE), ligada ao Ministério de Minas e Energia, a implantação de redes de recarga custaria mais de US$ 250 bilhões, o equivalente a toda a economia que esperamos ter com a reforma da Previdência, prevista em R$ 1 trilhão nos próximos dez anos. Essa mesma infraestrutura para a Índia, China e Europa custaria o equivalente a um PIB anual brasileiro, ou US$ 1,7 trilhão.
Outra opção, esta já testada e aprovada, são os biocombustíveis. Segundo a Agência Internacional de Energia Renovável (Irena), a combinação de eletrificação com renováveis, biocombustíveis e eficiência energética tem potencial de reduzir em 70% as emissões globais de CO2 até 2050.
O uso do etanol traz três benefícios claros e diretos: o ambiental, a melhoria da saúde pública e o desenvolvimento econômico. Ambiental, pois reduz em mais de 90% as emissões em comparação com a gasolina; de saúde pública, pela redução de emissões de vários poluentes deletérios à saúde nas grandes cidades, como SOx, material particulado e hidrocarbonetos; econômica, pela possibilidade de aumentar e diversificar a renda de produtores rurais em diversos países, utilizando as mais diversas matérias primas.
VEJA TAMBÉM:
- O etanol brasileiro e o etanol americano (artigo de Christian Frederico da Cunha Bundt, publicado em 11 de agosto de 2017)
- Lições do acordo UE-Mercosul (artigo de Rodrigo C. A. Lima e Luciane Chiodi Bachion, publicado em 31 de julho de 2019)
- A sustentabilidade e o mercado de capitais (artigo de Glauco Requião, publicado em 6 de março de 2019)
Atualmente, o etanol consumido no mundo representa pouco mais de 6% do total de gasolina. Segundo o roadmap desenvolvido pela Irena e revelado em seu estudo Global Energy Transformation, de 2019, seria possível quadruplicar o atual volume e atingirmos uma mistura média global do etanol na gasolina da ordem de 25%, ainda inferior à mistura praticada no Brasil, de forma sustentável. A expansão de área necessária para essa produção adicional utilizaria pouco mais de 1% do total de áreas agricultáveis no mundo, e daria um tom bem mais verde ao petróleo, como o conhecemos.
Além da utilização do etanol em elevadas misturas na gasolina, há ainda uma série de novas tecnologias já desenvolvidas, como o hibrído flex, cujo lançamento mundial acontecerá nos próximos meses no Brasil, e outras em fase adiantada de desenvolvimento, como a célula de combustível a etanol. Temos ainda grande potencial de aumento do uso do biometano e dos chamados biocombustíveis avançados, como o bioquerosene de aviação e o diesel renovável, que deverão contribuir para a descarbonização do transporte marítimo e da aviação nos próximos anos.
Como se vê, as rotas tecnológicas para a sustentabilidade são inúmeras e o etanol é uma alternativa disponível, efetiva e economicamente viável na maior parte das regiões. São muitos os tons do verde que tanto almejamos para as próximas gerações.
Eduardo Leão de Sousa é diretor Executivo da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica).