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Artigo

Eu escolho os curdos

 | Safin Hamed/AFP
(Foto: Safin Hamed/AFP)

Os conflitos ocorridos este mês entre as forças de segurança iraquianas e combatentes curdos, em Kirkuk, são profundamente perturbadores, principalmente por causa da longa amizade que une os Estados Unidos a estes últimos. E também são emblemáticos de uma realidade mais ampla e problemática: apesar de nossos sucessos táticos na luta contra o Estado Islâmico, nós nos vemos perigosamente deficientes em termos de uma estratégia abrangente em relação ao resto do Oriente Médio, em toda a sua complexidade.

Esse é o legado infeliz que o governo Obama deixou para seu sucessor. O apelo de Trump, este mês, para a instauração de um plano de ação mais compreensivo para enfrentar a influência maligna do Irã na região foi um indício encorajador de que o presidente reconhece o problema.

Porém, dias depois desse discurso, começaram a pipocar notícias de que Qassim Suleimani, comandante da Força Quds, a unidade especial da Guarda Revolucionária Iraniana, estava perto de Kirkuk, preparando avanços militares sobre posições curdas, com apoio do Irã, para reforçar a iniciativa mais ampla das forças de segurança do Iraque. E quando eles finalmente ocorreram, surgiram relatos de que parte dos iraquianos lutava com equipamentos fornecidos pelos EUA.

A ordem regional do Oriente Médio, tanto dentro das nações quanto entre elas, está entrando em colapso

Isso é totalmente inaceitável. Os norte-americanos ofereceram armas e treinamento ao governo do Iraque para combater o EI e proteger aquela nação de ameaças externas, e não para atacar os curdos iraquianos, parceiros mais que confiáveis e eficientes dos EUA na região. Há décadas essa aliança os protege de ataques, tanto dentro como fora do Iraque, ao mesmo tempo em que garante os interesses norte-americanos de segurança nacional. E, de uns anos para cá, os curdos se tornaram aliados ainda mais próximos, combatendo o Estado Islâmico lado a lado conosco.

Vou ser bem claro: se Bagdá não garantir a segurança, a liberdade e as oportunidades que os curdos no Iraque desejam, e se os norte-americanos se virem forçados a optar entre as milícias apoiadas pelo Irã e nossos velhos parceiros, prefiro os curdos.

Os confrontos em Kirkuk são sintomas de um problema mais grave que os EUA vêm ignorando há muitos anos: a ordem regional do Oriente Médio, tanto dentro das nações quanto entre elas, está entrando em colapso. O poder e a influência norte-americanos estão diminuindo rapidamente, principalmente por causa dos últimos oito anos, nos quais o país se afastou da região. E o vácuo resultante está sendo preenchido por forças antinorte-americanas.

Embora a administração atual, como a anterior, tenha como único foco a derrota do Estado Islâmico – que é obviamente essencial –, nossos adversários estão tirando vantagem no resto da região.

No Iraque, os EUA parecem ainda estar comemorando a vitória após a liberação de Mossul, meses atrás. Enquanto isso, as forças iranianas trabalham para semear a discórdia no vizinho, como vimos em Kirkuk, para manobrar a política iraquiana contra os norte-americanos e para transformar as eleições do ano que vem em um revés estratégico, tentando afastar nossa influência do país.

Do outro lado da fronteira, na Síria, o regime de Assad, que conta com o apoio da Rússia, do Irã, do Hezbollah e de uma série de milícias, retomou a maior parte do país, incluindo muitas áreas na porção oriental, que os EUA consideram estrategicamente importantes. O futuro daquela nação está sendo determinado pelas forças no campo de batalha, com pouca iniciativa norte-americana.

Uma verdadeira rede de representantes e aliados dos iranianos está se espalhando do Levante à Península Árabe, ameaçando a estabilidade, a liberdade de movimento e o território de nossos parceiros e aliados, inclusive com armamento convencional avançado. O próprio Irã continua a testar mísseis balísticos, ameaçar os vizinhos e utilizar as benesses decorrentes da suspensão das sanções para fins nocivos.

Nossos aliados árabes estão absortos em uma disputa diplomática com o Catar devido a ameaças muito mais prementes. E, por trás de tudo isso, está a sombra da Rússia de Vladimir Putin, que se restabeleceu como potência regional extremamente hostil aos interesses norte-americanos, sem um mínimo de interesse pelos direitos humanos ou da vida dos civis.

Sem dúvida, são questões complicadas e confusas, mas nosso país precisa entender o desafio maior: o Oriente Médio tem uma importância vital para o futuro da segurança internacional e da economia global – o que, em ambos os aspectos, beneficia o povo norte-americano. E, no momento, uma rede de grupos anti-EUA – às vezes operando juntos, às vezes, individualmente – está tentando eliminar nossa influência no Oriente Médio e remodelar a região de uma forma contrária aos nossos interesses e valores. Isso através do apoio a terroristas e milícias, subvertendo e intimidando nossos amigos, desalojando-nos diplomaticamente e usando/distribuindo tecnologia militar que dificulta e faz com que seja ainda mais perigosa a nossa presença local.

Se mantivermos nossa trajetória sonâmbula atual, poderemos acordar em breve e descobrir que nossa influência em uma das partes mais importantes do mundo simplesmente desapareceu. É por esse motivo que precisamos nos preocupar com o que está acontecendo no Oriente Médio hoje e manter as verdadeiras amizades, como a dos curdos. E hoje, mais do que nunca, precisamos de uma estratégia que eleve nossa visão acima do nível tático e separe o que é urgente do que é verdadeiramente importante.

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