Parece improvável que eu esteja apoiando a nova legislação pró-vida do Alabama. Eu fui pró-escolha por muitos anos, e quando jovem fiz não só um, mas dois abortos. Ambos teriam sido ilegais sob a lei aprovada recentemente no Alabama. Ela proíbe o aborto em todos os casos, abrindo exceções apenas para salvar a vida da mãe. Outros estados, como o Missouri e a Louisiana, não estão muito atrás disso – e eu aplaudo todos eles.
Percorri um longo caminho até aqui. Como disse, já fui pró-escolha. Em 1972, cheguei a participar de um protesto porque não haviam deixado a Planned Parenthood fazer uma apresentação na minha escola de ensino médio.
Depois de me formar na escola de Enfermagem, mas antes de receber minha licença, eu trabalhava em um hospital em Maryland. Uma noite, me pediram para ajudar um médico com alguns procedimentos. Eu não sabia que aquele hospital fazia abortos em fetos no segundo trimestre de gestação até chegar ao andar designado e receber minha tarefa.
Havia três mulheres lá – todas tinham recebido injeções salinas no útero, e depois começaram a receber Pitocin, em gotas, para estimular as contrações. Eu passei a maior parte do tempo com uma delas, de 29 anos, que me falou sobre as circunstâncias que a levaram a abortar. No dia anterior, ela tinha chegado mais cedo do trabalho, e pegou o marido no sofá da sala, fazendo sexo com outra mulher. Ela disse que saiu de casa e, com profunda dor e raiva, decidiu que a melhor maneira de revidar seria dizer que tinha perdido o bebê após o choque causado pelo que ela tinha visto. Ele jamais saberia que ela tinha abortado a criança.
As mulheres merecem os fatos, não os clichês pró-escolha cheios de mentiras e enganação
Logo depois de dizer isso, as contrações ficaram bem mais frequentes; o médico e eu a levamos para a sala de tratamento, onde ela começou a empurrar e deu à luz um pequeno menino, pouco maior que a minha mão. O doutor estimou sua idade em 19 ou 20 semanas. Seu corpo estava terrivelmente queimado, e a expressão em seu rosto era, sem a menor sombra de dúvida, de dor intensa. Ele ainda estava vivo. O medico disse que, se os olhos não estivessem “parados”, teríamos de ressuscitar o bebê. Enquanto ele segurava a criança para verificar os olhos, a mãe olhava para ele e começou a gritar incontrolavelmente: “Meu Deus, o que é que eu fiz?”
Após declarar que os olhos estavam sem movimento, ele deixou o bebê em um balde no chão, onde eu o vi se mover e procurar por ar, e então morreu. A mãe ficou histérica e precisou ser sedada.
Eu fui para casa, enojada. Oito meses antes, meu marido e eu tínhamos decidido por um aborto para que eu pudesse terminar a escola de Enfermagem, e a realidade daquela decisão agora estava cobrando seu preço. O casamento acabou, como aliás acontece com frequência em relacionamentos que passam por um aborto. Eu me casei de novo, tive um filho e logo depois, quando engravidei do segundo, meu marido disse que não estava pronto, e abortei mais uma vez.
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Daquela vez eu insisti em ter a criança, mas acabei fazendo o aborto depois que ele ameaçou me deixar. Eu acreditei quando o médico me disse que o bebê não tinha batimentos cardíacos, nem mesmo estava formado ainda, e eu segui adiante com o procedimento – embora cada pedaço de mim não tivesse certeza disso.
Dois anos depois, grávida de uma criança que os dois queríamos, fiz os ultrassons regularmente. Mostraram-me um exame do bebê – da mesma idade dos dois que eu tinha abortado. Tinha braços, pernas, batimento cardíaco distinto, separado do meu. E, o mais importante, movia-se constantemente enquanto eu o via.
O horror que eu senti quando percebi que tinham mentido para mim – não uma, mas duas vezes, por diferentes médicos – foi avassalador. O arrependimento me esmagou. E minha raiva era incomensurável. Só fui encontrar perdão quando um amigo querido me fez encontrar Jesus. Encontrei a cura em um grupo de apoio pós-aborto, e achei um propósito para minha vida: prometi impedir que outras mulheres fossem enganadas como eu tinha sido.
Agora, sou gerente de enfermagem em um centro de apoio à gravidez, e fui treinada para fazer ultrassons nas clientes que vêm até nós pedido ajuda. Eu presencio diariamente o choque e as lágrimas das mulheres quando veem que a criança que estavam prestes a abortar estava viva, se movendo dentro delas, com um coração batendo. Uma menina de 16 anos me disse “O coração desse bebê bate muito mais rápido que o meu! Ele tem um batimento próprio, separado do meu! Não é meu corpo, é o corpo dele! E eu estaria me livrando dele!” Uma grande sabedoria para uma adolescente.
É por isso que as mulheres precisam saber a verdade. Elas merecem que sua decisão sobre algo com tantas consequências seja baseada no máximo de informação possível. Elas merecem os fatos, não os clichês pró-escolha cheios de mentiras e enganação. Elas merecem toda a verdade.
A dor no rosto do bebê que eu ajudei a abortar, e a dor da mãe quando ela percebeu o que tinha feito, jamais deveriam ter acontecido. É algo que nunca deveria ser experimentado por nenhum desses seres humanos.
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A retórica do outro lado diz que o trauma pós-aborto não existe, que as mulheres não se arrependem. Sei que é mentira. Mas o pior para mim foi descobrir a verdade depois de ter sido enganada. A traição e o arrependimento quase me destruíram.
Eu elogio a legislação que está sendo aprovada em estados como Alabama, Missouri e Geórgia. Nestes dois últimos estados, os projetos de lei que estão tramitando proíbem o aborto se for detectado batimento cardíaco. Isso significa que os médicos precisarão fazer exames para ver se o bebê tem pulso, e a mulher terá a chance de ver seu filho. Essa é uma informação vital para a mãe. Ela merece essa chance, para poder saber a verdade. Seu bebê está vivo, e tudo de que ele precisa para, um dia, ser uma pessoa como ela é tempo para crescer.
Também acredito que a opção pela adoção tem de ser mais acessível e mais barata. As escolas de ensino médio precisam oferecer mais informação sobre isso, para que os adolescentes saibam a verdade sobre a adoção e a segurança envolvida nas checagens dos candidatos a pais.
Claro, há quem traga o argumento do estupro. “Uma mulher deveria ser obrigada a ter o bebê se ela foi estuprada?” A isso, respondo: por que uma mulher deveria sofrer violência duas vezes? O aborto também é um ato de violência. Para um aborto ser bem-sucedido, alguém tem de morrer. Eu lhe garanto: em algum momento, essa mãe vai perceber que foi o seu filho que morreu, e isso vai esmagá-la. Ela vai querer saber por que não lhe disseram a verdade.
As mulheres precisam da verdade. Elas merecem a verdade. É isso que significa preocupar-se com a saúde das mulheres.
Leslie Dean é coordenadora regional da campanha de conscientização Silent No More, que busca divulgar a verdade sobre o aborto. Tradução: Marcio Antonio Campos.
© 2019 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês.