| Foto: Susan Stocker/Sun Sentinel/AFP

Meu primeiro contato com Nikolas Cruz aconteceu quando eu cursava o sétimo ano. Estava almoçando com meus amigos, provavelmente falando do One Direction ou do Ed Sheeran, quando uma dor repentina atingiu minha região lombar. Com a força do golpe, eu, que tenho constituição miúda, fiquei sem ar; meus olhos se encheram de lágrimas. Virei-me e o vi ali, dando um sorrisinho torto. Nunca tinha visto aquele garoto antes, mas jamais me esquecerei de seu rosto. Seus olhos ganharam um brilho doentio e perverso ao me ver chorar.

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A maçã que ele atirara nas minhas costas saiu rolando lentamente pelo piso; uma das atendentes do refeitório correu para ver se eu estava bem. Não me lembro se ele chegou a ser interpelado por suas ações, mas, na ingenuidade dos meus 12 anos, acreditei que os adultos à minha volta cuidariam da situação.

Cinco anos depois, tendo de me esconder em um armário escuro da Marjory Stoneman Douglas High School, é que percebi o quanto estava errada.

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Não estou escrevendo este artigo para condenar Cruz mais do que ele já está sendo crucificado; tenho fé que a história o condenará por seus crimes. Resolvi me pronunciar por causa do volume inacreditável de comentários que tenho lido por aí, sugerindo que, se os colegas e amigos dele tivessem o tratado um pouco melhor, a tragédia nunca teria ocorrido.

A sugestão de que nós sejamos os culpados é um tapa na cara das vítimas e sobreviventes

Esse sentimento incrivelmente perigoso, expressado sob a hashtag #WalkUpNotOut, dá a entender que os atos de violência nas escolas podem ser evitados se os alunos fizerem amizades com o colega perturbado e com alto potencial de perigo. A sugestão de que nós sejamos os culpados, ainda que implícita, pelo assassinato de nossos amigos e professores é um tapa na cara das vítimas e sobreviventes da Marjory Stoneman Douglas.

Um ano depois de ser agredida por Cruz, recebi a incumbência de orientá-lo através do programa de monitoramento da escola. Ser conselheira interpares foi a primeira grande responsabilidade da minha vida, o primeiro gostinho da vida adulta, e assumi a tarefa com grande seriedade.

Apesar do meu enorme desconforto, eu me sentei a sós com ele. E me forcei a aguentar seus insultos, seus olhares gulosos para o meu decote até que desse o horário. No fim da sessão, apesar de tudo, sentia uma ponta de orgulho por ter organizado seu fichário e tê-lo ajudado com a lição de casa.

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Quando penso nisso, fico horrorizada. Só agora percebo que fui deixada sozinha, sem nenhuma assistência, com um aluno que tinha histórico conhecido de ataques de fúria e violência.

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Como muitas garotas na pré e adolescência propriamente dita, eu sentia – e ainda sinto – um forte desejo de agradar. Procuro fazer de tudo para ganhar elogios dos adultos na minha vida e ser considerada madura para a minha idade. Teria feito quase qualquer coisa para conquistar a aprovação dos meus professores.

Não quero com isso, de forma alguma, dizer que os jovens devam rejeitar os pares mais desajustados socialmente ou isolados. Como antiga monitora e atual assistente de professor, acredito firmemente – e já vi os benefícios – de estendermos a mão para os que mais precisam de nossa gentileza. Só não se pode esperar que os alunos curem as doenças dos colegas verdadeiramente perturbados, ou mesmo dos amigos, pois, primeiro e acima de tudo, vamos à escola para aprender. A sugestão de que os transtornos mentais de Cruz pudessem ter sido resolvidos se nós o amássemos mais não só é uma incompreensão grosseira do que são essas doenças, como também uma sugestão perigosa que põe a criançada na linha de frente.

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Não é obrigação da garotada fazer amizade com o colega que demonstra tendências agressivas, imprevisíveis ou violentas; é responsabilidade da administração e do setor de orientação da escola identificar esses alunos e fornecer a ajuda de que precisam, mesmo que seja uma atenção extremamente especializada que não possa ser fornecida pela mesma instituição. Não há gentileza nem compaixão neste mundo que teriam mudado a pessoa que Cruz era e é, nem impedido as ações horrendas que ele cometeu. Essa é uma desculpa esfarrapada para as falhas do nosso sistema educacional, nosso governo e nossas leis de porte de arma.

Minha irmã caçula hoje tem a mesma idade que eu tinha quando fui deixada sozinha com Cruz, ansiosa e sem defesas. Só de pensar em colocá-la no mesmo tipo de situação que vivi já me deixa furiosa. Espero que ela nunca conheça o medo com o qual tanto me acostumei neste último mês, que faz com que o menor ruído inesperado aperte minha garganta e faça o cabelo da minha nuca arrepiar. Peço a ela sempre que siga seu instinto quando se achar em perigo. E exijo que os adultos que a cercam a protejam.

Isabelle Robinson cursa o último ano do ensino médio em Marjory Stoneman Douglas High School.
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