Um recente documento do MEC aponta problemas na formação dos professores do ensino básico e indica a necessidade de reformulações nos cursos de Pedagogia, que deveriam ter uma formação mais profissionalizante. Cogita-se até a criação de um “Exame de Ordem”, semelhante ao que é aplicado aos bacharéis em Direito, que forçaria os cursos universitários a adotar uma postura mais adequada.
Muitos leitores irão concordar que uma formação mais profissionalizante é exatamente do que precisamos para tirar o Brasil dos últimos lugares nos testes internacionais. Seria, como já ocorrido na Finlândia, uma guerra contra a universidade, como afirma Cláudia Costin, em recente reportagem da Gazeta do Povo.
Não é qualquer um que pode mover uma guerra contra a universidade. Cláudia Costin, defensora da proposta, foi diretora global de Educação do Banco Mundial, entidade que tem financiado a maioria das reformas educacionais ao longo do mundo, com poder de abrir e fechar as torneiras do financiamento a países do terceiro mundo. Tendo sido militante do PCdoB na juventude e ministra do governo Fernando Henrique Cardoso, ela é um exemplo da simbiose entre os intelectuais esquerdistas e o grande capital, que se uniram na criação de instrumentos que centralizam a educação em âmbito regional e nacional, para depois unificá-los em nível global.
É preferível descentralizar e desregulamentar a educação, para que a busca das soluções volte às nossas mãos
Uma vez instituído o “Exame de Ordem”, alguns poucos burocratas podem alterar, no longo prazo, o curso do país para um lado ou para o outro, indiferentes à vontade da maioria da população. No Brasil, esta ingerência se mistura de forma perigosa ao tradicional desinteresse do brasileiro pela educação. Políticos, eleitores e opinadores falam sobre educação na época das eleições, mas tratam de esquecê-la pouco tempo depois. Um traço comum à maioria das opiniões é que elas equacionam tudo em termos de políticas educacionais: a solução esperada é sempre uma ação do governo, de cima para baixo.
É certo que a situação brasileira está sempre precisando de soluções urgentes, há décadas, há séculos... Por isso, a história da nossa educação está repleta de reformadores que querem resolver rapidamente os problemas, através de uma ação enérgica do Estado, que valha para todos. Mas estas reformas nunca atingiram os resultados esperados. Se submetido a um “Exame de Ordem”, o MEC certamente sairia reprovado. Agora, porém, o governo não age mais nem como ator, mas como mero figurante de um enredo que já vem pronto.
Como diria Goethe, é urgente ter paciência. Precisamos de mais Brasil e menos Brasília. É preferível descentralizar e desregulamentar a educação, para que a busca das soluções volte às nossas mãos. Uma genuína preocupação educativa é, antes de tudo, a busca de uma autoeducação; socialmente, os resultados se traduzem em soluções que vêm de baixo para cima, mais diversificadas, tendo a sociedade civil mais autonomia para responder às peculiaridades de cada região e às mudanças que ocorrem a todo momento na vida pública.
Mais de uma certificação é o ideal: Solução estatal errada para um problema real (artigo de Anamaria Camargo, mestre em Educação com foco em eLearning pela Universidade de Hull, coordenadora do projeto Educação Sem Estado)
Enquanto não assumirmos, cada um de nós, a tarefa de edificar a nossa própria educação, será inútil apostar numa solução que caia milagrosamente do alto, e que pode ser, na verdade, uma armadilha que mantém a população refém do estamento burocrático e das grandes organizações internacionais.