Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Opinião do dia 2

Exclusão pela inclusão

A desigualdade social no país é estrutural. Essa estruturação perpassa a escola que é um instrumento de um grupo social e do Estado. Como instrumento, a escola tem em si o discurso ideológico da inclusão do indivíduo para uma cidadania ou apenas para ser um trabalhador especializado como é o caso das escolas técnicas. Para resolver esse problema da desigualdade, Durkheim nos ensina que a escola vem para equilibrar os antagonismos sociais. Não concordamos com esse pensador. Irei argumentar aqui que a escola, além de não contribuir para amenizar a desigualdade é um instrumento estruturador de exclusão social.

O indivíduo que entra na escola chama-se aluno, ou seja, aquele que recebe instrução e que pode estar na rede pública de ensino ou privada, assim partimos de uma instrução dualista. Aqueles que entram na escola pública principalmente da rede estadual, ou que fizeram supletivos, irão, se conseguir pagar e freqüentar os cursos superiores em faculdades particulares, e no caso ainda de cursar uma licenciatura, voltarão para escola pública de educação básica, mas agora como professores. Ganharão pouco, não terão acesso às tecnologias de ponta, lecionarão para muitas turmas e serão acometidos de problemas de saúdes como estresses, muito cedo na sua carreira profissional. Contrapondo com os alunos das escolas particulares que foram para universidades públicas, estes sim, obterão os melhores empregos, nas indústrias, e no caso de ter feito licenciatura, voltarão como professores para a escola particular ou seguirão carreiras acadêmicas, se tornado provavelmente doutores antes dos trinta anos. Esse grupo lecionará para escolas de educação básica da rede particular, com acesso a tecnologia de ponta. Terá status e será mais bem remunerado do que o grupo de ex-alunos e agora professores da escola pública. Assim, analisando este círculo vicioso, podemos afirma que incluir o aluno na escola pública significa excluí-lo socialmente pela via institucional da possibilidade de mudança de classe social, ou seja, por mais prosaico que seja a escola pública, marcará a vida deste aluno ao não permitir que o educando supere sua condição econômica de pobreza. A socióloga Sônia Kruppa corrobora com esta argumentação: "Muito se discute no Brasil o fato de a escola ser ou não um meio de ascensão social. De modo geral, a população ainda acredita que ela o seja, e demonstra essa sua crença na luta pela escola." Sua conclusão é que há uma ilusão em acreditar que a escola seja um meio de ascensão social para os pobres. Para resolver esse problema estrutural é necessário parar com as famigeradas reformas na educação universitária, do ensino básico e do segundo grau, pois a educação não precisa de reforma em algumas áreas, mas sim de uma revolução que irá destituir essa estrutura perversa educacional e criar outro modelo onde a busca para o fim da desigualdade social seja uma prática constante no cotidiano escolar e não um simples discurso. Para finalizar, li de forma esperançosa, em uma escola, um pensamento de Chico Xavier: "Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim".

Israel Aparecido Gonçalves é professor de história e filosofia e pesquisador do grupo de estudos Democracia e Instituições Políticas na UFPR. (israel@utesc.br)

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.