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Opinião do dia 1

Exemplos perniciosos dos “donos da verdade”

Há uma maré perigosa ameaçando inundar as (ainda) frágeis estruturas democráticas não só em alguns países próximos, com exemplos infelizes, mas também no Brasil e, o que é pior, em nosso estado. As ondas de ataques aos veículos de comunicação, no pior estilo da ditadura militar que há pouco nos vitimou, repetem-se desde a Venezuela, a Bolívia e o Equador até ao interior do Paraná, o que nos deixa pasmos. Mais assustados ficamos quando vemos cidadãos, políticos, autoridades e revistas e jornais, editados por profissionais que sentiram em seu âmago as atrocidades da ditadura, defenderem ardorosamente tais absurdos.

Misturados aos desmandos venezuelanos, ordenados pelo ditador Hugo Chávez, às ameaças de se calar a imprensa em nível nacional, exemplos caseiros nos preocupam – ou deveriam preocupar a todos os paranaenses. Independentemente de argumentos enumerados pelos envolvidos, o desligar da TV Carajás, de Campo Mourão, que transmite a programação da tevê Educativa, por determinação do prefeito Nelson Tureck (PMDB) é, no mínimo, emblemático dos tempos que vivemos. Tureck justifica o lacre do prédio da emissora, que tem 130 funcionários, alegando problemas de ordem administrativa – falta de alvará de localização e funcionamento. Mas é inegável que há algo mais que esta cândida justificativa. As diferenças políticas são alegadas pelo empresário Adjaime Marcelo de Carvalho, proprietário da tevê, como o verdadeiro motivo da decisão do prefeito. Se assim for, ela aproxima-se, infelizmente, dos modelos desrespeitosos à liberdade de imprensa e de expressão (e, portanto, à democracia) que multiplicam-se no território brasileiro e em alguns de seus vizinhos, cortando o fluxo de informações e opiniões, impondo o fim à diversidade. Esta é um bem próprio de regimes civilizados e deve ser defendida a todo custo.

Um mau exemplo está na própria casa: o governador Roberto Requião. Considerando-se o baluarte da verdade, que ele pretende única, mostra-se irado contra a imprensa que ousa publicar suas ações, mesmo simplesmente administrativas, despejando todo o seu rancor sobre todos os que não sejam seus aliados incondicionais, chegando ao ponto de cortar as assinaturas de jornais em repartições públicas. Especialmente daqueles que considera inimigos pessoais e danosos ao seu governo, embora espalhe impropérios contra inúmeros veículos. Usando o palco de sua "escolinha", destila seu ódio não só contra proprietários de órgãos de comunicação, mas também aos profissionais que neles trabalham, em exemplos abomináveis. Outra estratégia é elogiar, privilegiar e encaminhar verbas publicitárias oficiais a jornais, revistas e emissoras que endossam seus métodos, inclusive para alguns órgãos que às vezes posam de oposição para, subliminarmente, divulgar os conceitos, a ideologia e a defesa do governador.

Igualmente assustadores são os avalistas do autoritarismo, como o assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, ministro Marco Aurélio Garcia, que endossou o obscurantismo de Chávez ao fechar a RCTV, que, segundo ele, reproduz a ideologia de golpistas contra o ditador venezuelano. Garcia esqueceu (ou faz de conta que esqueceu) das agruras de quem divergia dos militares no Brasil pré-democrático, principalmente os órgãos de comunicação. Assustadora é também a ameaça de morte ao jornalista Diogo Mainardi (Veja) por um grupo, o MR8, que até ontem declarava-se defensor das liberdades e dos direitos. Também danosa, e felizmente esquecida temporariamente, é a malfadada proposta de Lula para criar um Conselho Federal de Jornalismo, ainda não digerido. Todos esses exemplos, lamentáveis, fluem para a mesma "verdade": só presta quem concorda comigo, quem reza pela minha cartilha, os outros são inimigos não só meus, mas de toda a população.

As pessoas, os países e suas instituições correm o sério risco desta onda maligna que atende pelo nome de censura: todos aqueles que ousam discordar da "verdade" dos absolutistas são taxados de golpistas. A tentativa é enfraquecer a democracia, um instrumento que proporciona, entre aqueles que vivem em sociedade, a garantia de respeito e de liberdade.

Cláudio Slaviero é empresário eex-presidente da Associação Comercial do Paraná.

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