Algumas entidades como a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e mesmo algumas ligadas diretamente aos engenheiros alardeiam que existe uma crônica carência de profissionais da engenharia no Brasil. Os argumentos são variados. O crescimento econômico do país, as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e dos programas habitacionais lançados pelo governo, os investimentos em infraestrutura necessários para a realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas e até a extração de petróleo na camada do pré-sal.

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Vamos jogar um pouco de luz sobre essa discussão, analisando alguns números que nos informam sobre profissionais aptos ao exercício de engenharia em nosso estado. Dados do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Paraná (Crea-PR) registram mais de 40 mil engenheiros domiciliados, enquanto o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), analisando dados da RAIS (Relação Anual de Informações Sociais do Ministério do Trabalho e Emprego) informa que aproximadamente 12 mil estão no exercício da atividade como empregados.

Onde está o restante dos 28 mil engenheiros registrados no Crea-PR? Estarão todos atuando como profissionais autônomos ou se transformaram em empresários? Certamente que não, pois parte significativa desses profissionais migraram para outras áreas, como o mercado financeiro ou o setor bancário. Ou seja, o que falta não são diplomados em engenharia no mercado, mas sim engenheiros no exercício de suas profissões.

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O principal motivo pelo abandono da profissão, principalmente nas décadas de 80 e 90, foi a baixa remuneração. Com salários atraentes, fica difícil imaginar um profissional buscar outra área de atuação. Os engenheiros que estavam no mercado de trabalho no início dos anos 80, e mesmo os que adentraram nas décadas de 80 e 90, sentiram os efeitos sobre suas carreiras das chamadas leis de mercado, em um contexto econômico com baixíssimo nível de investimento, um dos mais baixos do mundo nas últimas décadas, principalmente no que se refere aos investimentos públicos.

Devemos ficar atentos a duas possibilidades derivadas do anúncio exagerado da falta de diplomados em engenharia. Em primeiro lugar, pelo oportunismo da indústria da educação, composta por centenas de faculdades que se proliferaram por todo o país a partir da mercantilização do ensino. Entidades com fins lucrativos, sem nenhum compromisso com a qualidade de seus diplomados passarão a oferecer milhares de vagas para a diplomação em engenharia, que pouco contribuirá com a oferta de profissionais qualificados.

O segundo efeito que podemos colher deste anúncio descuidado da falta de diplomados em engenharia é corolário do primeiro. Decorrido um certo tempo, uma nova massa de diplomados em engenharia será usada, não como suprimento do mercado, mas como instrumento de chantagem e coerção à acensão salarial dos profissionais qualificados e empregados.

Deveriam os empregadores de engenheiros utilizar os mesmos instrumentos de mercado que tanto defendem, ou seja, o aumento da oferta de engenheiros pelo aumento dos salários. Com o aumento dos salários, certamente os milhares de engenheiros que deixaram a profissão, pela desvalorização sofrida neste passado recente, voltarão a ofertar a sua força de trabalho no mercado e recompor a oferta necessária ao crescimento econômico que estamos a vislumbrar.

Mais do que criar falsas expectativas para os aproximadamente 40 mil jovens engenheiros que saem anualmente das universidades, é importante ressaltar que o mercado necessita de profissionais qualificados, realmente preparados para exercer a profissão. Isso acontecerá muito mais pela valorização da profissão de engenharia e menos pela inadequada diplomação maciça de jovens que acabará por confundir e desqualificar este importante segmento de profissionais.

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Valter Fanini, engenheiro civil, é diretor-presidente do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná