O universo tem aproximadamente 14 bilhões de anos. A teoria mais aceita atualmente sobre sua origem é denominada Teoria do Big Bang, cujo significado da expressão traduz muito bem a ideia de formação do universo: uma grande explosão. Não se sabe na verdade o que explodiu, mas o que deve ter surgido após esse evento.
Na linha do tempo do Big Bang, os prótons, os nêutrons e os elétrons (constituintes de toda a matéria existente), surgiram logo após o início do universo. Acredita-se que essas partículas e toda a massa que o universo contém tenham sido criadas por uma partícula que surgiu antes ainda, denominada bóson de Higgs. Antes dela, não havia massa alguma. A função do bóson de Higgs seria a de atribuir massa a tudo o que conhecemos, de um grão de areia às estrelas e galáxias. Quem propôs essa partícula geradora de massa foi o físico escocês Peter Ware Higgs no início da década de 60, juntamente com os físicos belgas Robert Brout e François Englert.
A partir dessa hipótese é que se concentram as buscas pelo misterioso bóson de Higgs. Detectá-lo seria de fundamental importância para a compreensão do mundo em que vivemos. É justamente por esse motivo que o experimento realizado há algumas semanas no acelerador de partículas LHC (Grande Colisor de Hádrons), em Genebra, na Suíça, recebeu a atenção da mídia no mundo todo.
No experimento do LHC, foram utilizados milhares de feixes de prótons, acelerados até velocidades muito próximas à da luz e, por fim, conduzidos a uma colisão frontal. A energia da colisão entre os prótons seria suficiente para gerar a tal partícula de Higgs. Se isso acontecer, o experimento teria sido capaz de recriar as condições imediatamente após o Big Bang. "Ver" um bóson de Higgs, portanto, é como estar presente nos primeiros milésimos de bilionésimos de segundo da criação do universo. A constatação da existência dessa partícula teria forte influência não somente em todas as áreas da ciência, mas também na nossa maneira de enxergar o mundo.
O LHC custou quase 9,5 bilhões de dólares. É um investimento bem alto, mas à altura também da curiosidade do ser humano que, diferentemente dos outros animais, sempre buscou a origem das coisas que o rodeia. Saber o máximo possível sobre o que está à nossa volta e sobre nós mesmos é inerente à raça humana e muito vantajoso para a sobrevivência da espécie.
A pesquisa científica básica tem infindáveis exemplos de experimentos que à época de sua realização soaram bastante abstratos, quase irreais para a maioria das pessoas, e que, com o passar do tempo, conduziram a humanidade a grandes avanços não somente na compreensão da natureza, como na aplicação tecnológica desses conhecimentos.
Não devemos esperar que os experimentos recém realizados no acelerador de partículas tragam resultados práticos de imediato. A história da ciência nos mostra que pesquisas fundamentais, como essa no LHC, leva anos ou até décadas para serem convertidas em aplicação tecnológica. O que nos resta agora é torcer para que a análise dos resultados do experimento, que pode levar anos de processamento computacional, traga uma luz adicional à origem do universo, que, diretamente, tem a ver com a nossa origem.
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Dinis Gomes Traghetta, professor de Física do curso de Engenharia Civil da Universidade Positivo.
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