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Explosões no STF, racionalização da política e o resgate civilizatório

Explosões em Brasília
Polícia Militar patrulha a Praça dos Três Poderes, em Brasília, após explosão em frente ao STF (Foto: EFE/ Andre Borges)

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Na noite de 13 de novembro de 2024, em plena semana de comemoração da Proclamação da República, o Brasil foi impactado por um ato extremo. Um homem, em frente ao STF e próximo à estátua da Justiça, detonou explosivos e as explosões reverberaram como um grito de desespero em uma sociedade que há tempos parece dividida.

Embora não tenha destruído estruturas, as explosões no STF simbolizaram um abalo mais profundo: o do próprio tecido social, já fragilizado por disputas políticas e pela polarização exacerbada. No gesto trágico, o autor se tornou sua própria vítima, revelando como, nas explosões de ódio e intolerância, o povo paga o preço mais alto.

No pensamento de Aristóteles, a virtude reside na “média,” no equilíbrio que se encontra entre os extremos. A verdadeira força de uma sociedade está na capacidade de transformar suas teses e antíteses, suas opiniões opostas e perspectivas divergentes, em uma síntese produtiva

Esse ato, longe de ser uma anomalia isolada, se insere em uma série de eventos recentes que vêm testando os limites de nossa democracia. Desde a invasão das sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro, testemunhamos a escalada de um fervor político que, em muitos casos, ultrapassa as fronteiras da civilidade. Mais do que uma disputa de ideias, a polarização tem se revelado como uma espécie de combustão social, pronta para irromper em qualquer momento. O resultado é uma sociedade que, ao se fragmentar, desestabiliza suas próprias bases, enfraquece o sentido do Estado Democrático de Direito e afeta até mesmo as relações familiares e amizades.

Nesse contexto, a racionalização da política emerge não apenas como ideal, mas como um imperativo civilizatório. Em um momento na qual a razão é suprimida pela emoção e o diálogo pela imposição, devemos resgatar os fundamentos da racionalidade moderna, que constitui a base da convivência pacífica e democrática. O filósofo Jürgen Habermas, ao defender a “ação comunicativa,” argumenta que é pelo diálogo que a sociedade se constrói, onde mesmo as divergências encontram espaço para coexistir de forma produtiva. Karl Popper, por sua vez, advertia sobre os perigos do extremismo, defendendo uma “sociedade aberta” que se alimenta da pluralidade de ideias sem recorrer à violência.

No pensamento de Aristóteles, a virtude reside na “média,” no equilíbrio que se encontra entre os extremos. A verdadeira força de uma sociedade está na capacidade de transformar suas teses e antíteses, suas opiniões opostas e perspectivas divergentes, em uma síntese produtiva, onde o conflito se resolve não pela destruição mútua, mas pela convivência harmoniosa. Esse ponto intermediário, a síntese entre tese e antítese, é a essência do Estado de Direito e da democracia moderna. É o caminho do meio que acolhe as diferenças, tempera os excessos e promove o bem comum. Nesse espaço de convivência, as ideias não se aniquilam mutuamente, mas se complementam e se aprimoram, reforçando a construção de uma sociedade equilibrada e justa.

Que o estrondo dessa tragédia, então, nos faça refletir. Que consigamos transmutar toda a polarização e extremismo recentes em uma nova compreensão, uma explosão de paz e de diálogo que reverbere em cada esfera da sociedade. Que possamos redirecionar nossa energia para fortalecer o pacto civilizatório que nos une, reafirmando nosso compromisso com a racionalidade, o respeito e a convivência democrática. Que a explosão que nos inspire seja a que ilumina e transforma e não a que destrói, como as explosões no STF.

Antonio Carlos de Freitas Jr. é doutor e mestre em Direito Constitucional pela USP.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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