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Extinguir, ou pelo menos enfraquecer

Após os recentes casos de violência entre torcidas, a velha discussão volta à tona. Devemos extinguir as organizadas? Meu lado emocional diz que sim. Contudo, o lado racional sabe das dificuldades legais encontradas para se dar canetadas e fechar as portas das torcidas. Ainda que possível, isso não solucionaria o problema, pois no dia seguinte outra torcida nasceria no lugar da finada, como foi o caso da Mancha Alviverde, substituta da Mancha Verde, torcida do Palmeiras extinta em 1995. Assim, se não for possível extinguir as organizadas, proponho que elas sejam muito enfraquecidas, com uma ação baseada em três pilares: dinheiro, tolerância zero e imagem.

Os clubes não percebem, mas as organizadas são chupins que só se beneficiam às suas custas, sem dar nada em troca. Vendem produtos licenciados das torcidas e quem perde dinheiro é o clube, que deixa de vender o seu produto oficial. Espantam torcedores "bons", diminuindo a receita de bilheteria. Brigam, e quem é punido é o time, que precisa viajar para jogar longe de casa. Acham que são maiores que os clubes, e isto está errado. Nenhuma Fanáticos é maior que o Atlético, nenhuma Império é maior que o Coritiba, nenhuma Fúria é maior que o Paraná Clube.

Os clubes devem, portanto, cortar todos os benefícios e ainda cobrar pelo uso das marcas, que são seus bens mais valiosos. Em caso de desrespeito, que seja proibida a entrada no estádio com vestimentas da organizada, mostrando quem manda de verdade. Se não for possível usá-la no estádio, a camisa vende menos e traz menos dinheiro ao bolso da organizada – e o bolso é o ponto fraco de qualquer um.

O Estado precisa também fazer a sua parte e coibir as torcidas com o uso inteligente das polícias. Não é admissível que um grupo de torcedores considerados de alto risco seja tratado como chefe de Estado e ganhe escolta da PM para chegar ao estádio sempre na hora do jogo e sem trânsito. Chega de regalias. Estes torcedores devem ser cadastrados e colocados em zonas específicas nos estádios, facilitando o reconhecimento. Em caso de tumulto, devem ser fichados, presos e liberados no mínimo na segunda-feira, após comunicarem a seus empregadores o motivo de faltarem ao trabalho, como já é feito na Suíça, ou obrigados a comparecer à delegacia uma hora antes do início das partidas de seu time, como fazem na Inglaterra. Em casos mais graves, como visto no jogo entre Atlético e Vasco, enquadramento por formação de quadrilha e tentativa de homicídio, ou qualquer outro artigo que faça jus à barbárie a que assistimos na televisão.

Aliás, na tevê está o último pilar, a imagem. Torcedores organizados são, em sua maioria, jovens querendo mostrar que são os "bambambãs". Para os brigões, uma notícia na tevê ou na primeira página do jornal vale muito mais que o olho roxo do fim de semana. Portanto, a imprensa, em especial a televisão, deveria ser proibida de publicar ou divulgar imagens de brigas, reduzindo a importância do fato.

Não é difícil implementar nenhuma dessas medidas. Só é preciso vontade das partes interessadas. Em pouco tempo as organizadas voltariam a fazer das arquibancadas um lugar só de festa, como deveria ser.

Henrique Pelosi, administrador de empresas, é mestre em Direito, Gestão e Ciências Humanas do Esporte (Fifa Master) pelas Universidades de DeMonfort (Inglaterra), SDA Bocconi (Itália) e Neuchâtel (Suíça) e trabalha com marketing esportivo.

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