Pesquisa realizada pela Serasa e Opinion-Box divulgada em julho deste ano aponta que 53% dos consumidores interessados na busca por crédito em bancos digitais no período pós-pandemia o farão pela agilidade no processo, baixa burocracia e condições de pagamento melhores que as oferecidas por instituições tradicionais. Ora, se o consumidor final brasileiro desenvolve uma educação financeira atenta às possibilidades vantajosas oferecidas pelas fintechs no âmbito pessoal, é preciso refletir sobre o que é possível para pequenos e médios empreendedores que carecem do acesso às taxas justas de mercado para que consigam manter o funcionamento de seus negócios.
Somente no primeiro semestre deste ano, foram abertos 2,1 milhões de novos negócios, entre pequenas e microempresas e microempreendedores individuais (MEIs). O número é 35% maior que no mesmo período de 2020 e o mais elevado desde 2015, segundo o Sebrae. Segundo o governo federal, as PMEs, como são usualmente chamadas, representam 30% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e são responsáveis por 55% dos empregos gerados.
É preciso refletir sobre o que é possível para pequenos e médios empreendedores que carecem do acesso às taxas justas de mercado para que consigam manter o funcionamento de seus negócios.
Com o aumento do número de empresas e o fim da fase mais restrita do isolamento social imposto pela pandemia, o país encontra-se em um momento de crescimento gradativo de empreendedores aptos a tomar crédito. Dados recentes do Sebrae e Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostram que 26% das PMEs já conseguiram concessões. No ano passado, apenas 6% foram contemplados. O número é pífio perto da capacidade de giro monetário do Brasil, mas reflete a dificuldade em que se encontram empresários e a falha do sistema financeiro tradicional no aporte a estas empresas. Além de taxas abusivas, programas de microcrédito não suprem a demanda ou seguem modelos que não são vantajosos, como crédito em grupo, para que haja dependência financeira e arranjo para garantir a adimplência forçada, por exemplo.
Neste cenário é que aparecem iniciativas facilitadoras de crédito e experts no gerenciamento de recursos empresariais por meio de intermediação com a cadeia de crédito, ou o chamado Supply Chain Finance. Neste modelo, além de conectar o empresário com instituições dispostas a negociar, a grande oferta de mais de um player barateia a linha de crédito. A vantagem é que o intermediário, em vez de uma grande instituição burocrática, é uma plataforma tecnológica e segura para que o fornecedor entre e confirme o pedido de compra ou até a venda efetivamente. Em termos técnicos, o rating passa para o pequeno empresário e ele consegue antecipar o recebível de forma fácil e dinâmica. O modelo, crescente no Brasil, unifica as necessidades do pequeno e médio empresário, que precisa do capital de giro para sua empresa.
Somadas, educação financeira e democratização do acesso ao crédito são grandes aliadas dos empreendedores para cortar as amarras impostas pelos grandes bancos até aqui. De olho na mudança de comportamento econômico/financeiro e buscando a evolução do capital, é imprescindível dizer que agendas como o Open Banking e o Open Finance chegam para colocar o cliente no centro dos holofotes, uma vez que será dele a decisão de compartilhamento de seus dados para oferta de serviços e recursos.
O empoderamento do empresário é essencial para a retomada econômica. É preciso estar atento a quem realmente conecta o melhor player, oferecendo o melhor produto, no melhor preço. O presente e o futuro são cooperativos e somente aqueles que entenderem o processo estarão inseridos no modelo econômico funcional.
Felipe Avelar, ex-vice-presidente de operações do Grupo Credit Brasil, é fundador e CEO da startup Finplace.
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