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Opinião do dia 1

Fala, Dilma!

Em debate na UnB, o embaixador Correa do Lago pediu dez sugestões para o discurso que a presidente Dilma fará na abertura da Rio+20. As minhas sugestões foram:

1. O discurso deve começar pela frase: "A humanidade está em risco". As crises ambiental e financeira estão mostrando que se esgotou o casamento promovido pela civilização industrial entre a democracia política, a justiça social, o crescimento econômico e o avanço técnico-científico. Durante a Guerra Fria havia forças que tentavam parar a marcha da insensatez para a guerra nuclear. Agora, a marcha da insensatez parece não ter adversários. A voracidade do lucro e do consumo se alinha, conduzindo o mundo para o aquecimento global, o desemprego, a migração e a desigualdade.

2. Se nesta reunião os chefes de Estado e de governo pensarem apenas como políticos, olhando para os problemas do curto prazo e do local, e não como líderes da humanidade, olhando adiante, estaremos sacrificando uma imensa oportunidade.

3. Precisamos de uma "política fiscal verde internacional". Não faz sentido que impostos sobre produtos fósseis tenham as mesmas alíquotas que produtos harmônicos com a natureza. A Rio+20 deve ser o momento para esta ideia ser considerada.

4. Certos patrimônios naturais, como grandes florestas, oceanos e os polos geográficos, devem ser protegidos da ganância econômica e ficar livres de depredação. Nossos países são partes do grande Condomínio Terra. Acordos internacionais devem respeitar a vida e o bem-estar das futuras gerações.

5. O mundo tem um tribunal em Haia para julgar os crimes cometidos por ditadores contra a humanidade. Precisamos de um tribunal para julgar os crimes contra a humanidade cometidos por agentes econômicos.

6. Em 1945, os estadistas foram capazes de um plano econômico que canalizou recursos para a reconstrução industrial da Europa devastada pela Segunda Guerra Mundial. O mundo precisa fazer uma radical reforma educacional em todos seus níveis e em todos os países do mundo. Precisamos de um Plano Marshall global para a educação das crianças de todo o mundo.

7. Não podemos adiar a criação de um fundo mundial, com base na taxa Tobin, para apoio à educação, ao meio ambiente e ao combate à pobreza. Além de mais estabilidade ao sistema financeiro enlouquecido, este fundo servirá para captar recursos necessários para os projetos em direção a um novo tipo de desenvolvimento.

8. É preciso implantar um Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Humano (PNUDH), capaz de acompanhar e influir no desenvolvimento com humanização e humanismo, incluindo o equilíbrio ecológico e a educação por toda a vida como partes do conceito de direitos humanos.

9. Além disso, os chefes de Estado e de governo devem instalar no Rio de Janeiro, como legado da Rio+20, um Instituto Internacional para Estudos sobre o Futuro da Humanidade, de preferência dentro da família da Universidade da ONU.

10. A humanidade não pode continuar assistindo à vergonha de um avanço científico e tecnológico que amplia a desigualdade. Sem limitar o avanço que se consegue graças ao incentivo das patentes privadas, é preciso criar um fundo público que permita financiar o acesso de toda a humanidade às descobertas científicas, especialmente na área da saúde.

Fale por nós, presidente. Mesmo que os lideres mundiais não a ouçam hoje. Politicamente, a força moral de sua fala, em nosso nome, ficará para o futuro como um grito pela sensatez no mundo.

Cristovam Buarque, professor da UnB, é senador pelo PDT-DF.

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