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O Tea Party não se justifica, nem se explica, fixado apenas em manter acesa a fornalha do ressentimento. Excrescência política nada tem a ver com o espectro partidário tradicional, democrático

O que está em curso na Câmara de Representantes dos EUA é uma tentativa de golpe de Estado promovido pelo grupo de assalto da ultradireita, o Tea Party, para sequestrar o Executivo e obrigá-lo a ceder funções. Trata-se de inaudita pirataria política, chantagem contra o sistema democrático que nenhum partido de oposição jamais ousou em 235 anos de história do país.

Examinados isoladamente, tanto o impasse sobre o aumento do teto da dívida como a ameaça de calote da maior economia mundial parecem frutos da intransigência dos democratas e republicanos. Cometem-se perigosos equívocos quando se examinam os fatos de forma isolada ou linear. Estamos todos à beira de um abismo desconhecido, inimaginável; voo cego numa conjuntura sem precedentes.

O Tea Party não pode ser examinado com displicência ou complacência, não é um fenômeno bizarro, também não eram exóticos aqueles alemães "normais" que no fim dos anos 20 começaram a envergar a braçadeira com a suástica nazista.

O Tea Party é uma falange – falange fascista. Ganhou escala a partir do apoio ostensivo da Fox News, o poderoso canal de notícias do Grupo Murdoch que o diário espanhol El País – um dos mais respeitados do mundo – designou na semana passada como cloaca.

Ao longo de dois anos a Fox comandou uma cruzada histérica para provar que o presidente Barack Obama não era americano nato e, quando fracassou, passou a estigmatizá-lo como "socialista". O veto à ampliação do teto de endividamento da União pretende justamente cortar gastos sociais e obras públicas para evitar o fortalecimento do Estado. Para crescer as falanges precisam de Estados fracos.

Sarah Palin, a musa falangista, foi inventada pelos marqueteiros para servir como paradigma da nova dona de casa, mistura de fanática religiosa, esportista, xenófoba, racista, antiecologista, moralista. Mas o Tea Party não é um inocente country-club ou clube de tiro: joga pesado, marcou para morrer a deputada democrata do Arizona, Gabrielle Gifford, vítima de um atentado que tirou a vida de seis cidadãos que a acompanhavam em Tucson, no início do ano.

O "manifesto" de Anders Breivik, o monstro de Oslo, não difere muito da doutrina do Tea Party: purismo cristão, ódio ao multiculturalismo, ao islamismo e ao Estado previdenciário.

Devidamente adaptado ao léxico e às circunstâncias dos anos 20 e 30 do século passado, o falangismo contemporâneo não difere substancialmente do que pregavam Mussolini, Hitler, Francisco Franco e o falangista tupiniquim, Plínio Salgado. O sensacionalismo da Fox News e dos tabloides do Grupo Murdoch é o mesmo dos jornais populares alemães que alavancaram a incrível ascensão do insignificante agente provocador antibolchevique chamado Adolf Hitler.

Quem criou o gigantesco déficit americano? Quem jogou os EUA em duas guerras insanas, previamente perdidas? Quem trapaceou a eleição presidencial de 2004 para manter George W. Bush e seu grupo de loucos na Casa Branca? Quem permitiu a "exuberância" das bolhas e mercados, a responsável pela crise financeira de 2008 e o gigantesco endividamento dos EUA?

O Tea Party não se justifica, nem se explica, fixado apenas em manter acesa a fornalha do ressentimento. Excrescência política nada tem a ver com o espectro partidário tradicional, democrático. Chantageia os republicanos e conservadores históricos com a mesma má-fé e rancor que usa no combate aos liberais e progressistas. Para ser entendida e avaliada, a falange americana precisa ser vista em toda a sua extensão, profundidade, vinculações e ingredientes.

A matéria-prima do Tea Party não é chá. É ódio.

Alberto Dines é jornalista.

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