Apesar da altíssima rotatividade nos cenários, elenco coadjuvante e, apesar da extrema tensão da trama, poucos se detêm para observar o desempenho das oposições – ou de seu vetor central, o PSDB. Como se o confronto fosse bipolar. Não é, mas parece. E justamente porque interessa a todos manter as aparências de normalidade.

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O PMDB veste a fantasia de poder moderador porque ao PT não interessa exibi-lo como adversário e porque aos tucanos só parece interessar o desgaste da chamada “base aliada”, esquecidos do seu isolamento e do tíbio desempenho em seguida à proclamação dos resultados do segundo turno e nas crises desde então.

Se durante a violenta campanha eleitoral a iniciativa ficou nas mãos dos marqueteiros e operadores da candidatura oficial, agora o PSDB se encolhe na vã esperança de ser favorecido com a sua ausência no ringue. Engano: omissos tendem mais facilmente a ser esquecidos, a dinâmica também funciona no vácuo.

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Os lamentáveis desdobramentos da Operação Lava Jato não podem sobrepor-se ao empenho em lutar pela reforma político-eleitoral e à implantação urgente das políticas públicas vergonhosamente engavetadas

Se a imperiosa necessidade de um ajuste fiscal fazia parte da plataforma de Aécio Neves, não há motivo algum para negá-la ou deixá-la de lado quando a adversária Dilma Rousseff volta atrás e reconhece o erro ou as dosagens da medicação que prescreveu no primeiro mandato. Se a vocação demagógica dos comandados da dupla Cunha & Calheiros impede que aceitem as proposições da troika econômica, caberia ao PSDB defendê-las abertamente. Política faz-se afirmativamente, correndo riscos. O nome e as ideias de Armínio Fraga (ex-presidente do Banco Central no segundo mandato de FHC) apareceram nos debates por iniciativa tucana. Agora que ficou demonstrado o seu acerto, não faz sentido tirar o corpo fora.

Defender um ajuste fiscal para diminuir a pressão inflacionária não é “remédio das elites”; ao contrário, é um escudo para proteger os mais pobres da desvalorização de valores. Nunca é demais lembrar que a devastadora inflação alemã dos anos 20 do século passado foi a principal alavanca para empurrar o povo para os braços de Hitler e do desvario nazifascista.

A grande verdade é que o PSDB está completamente desorientado, perplexo, desfibrado: nas últimas disputas presidenciais com o PT – sobretudo nas últimas –, resignou-se com o estigma de direitista que lhe imputavam os adversários, esquecido de que a partir do nome – Partido da Social Democracia Brasileira –, do seu programa e dos seus feitos, representa um projeto vitorioso nos países mais desenvolvidos e justos do planeta.

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Ao iludir-se com o sinal verde ao recurso do impeachment oferecido por um escritório de advocacia notoriamente ligado aos setores mais reacionários do país, algumas lideranças tucanas não perceberam a traição que cometiam contra os ideais dos seus fundadores oriundos das trincheiras democráticas e obrigatoriamente comprometidos com a estabilidade institucional.

Os lamentáveis desdobramentos da Operação Lava Jato não podem sobrepor-se ao empenho em lutar pela reforma político-eleitoral e à implantação urgente das políticas públicas vergonhosamente engavetadas. O que poderá levar novamente os tucanos ao poder não será o número de sacripantas e larápios ligados à situação condenados pela Justiça, mas a sua capacidade de sanear suas próprias fileiras e apresentar-se como a opção decente ao vale-tudo vigente.

O presidente FHC não pode ser jogado na rinha de galos; é o elder statesman, estadista sênior, preservado para sentar-se com seus pares em momentos que exijam atuações suprapartidárias.

O número de siglas eleitorais diminuirá drasticamente à medida que os grandes partidos se afirmem como partidos. O PSDB tem candidatos, mas não significa que seja um partido. Faz falta.

Alberto Dines é jornalista.