Jorge Lacerda ex-governador de Santa Catarina nos anos 1950 constatava a repulsa que provocava então o ingresso de possíveis talentos na política e lastimava que "as tristes realidades, que se repetem na vida pública, não são de molde a fascinar os homens voltados para a ciência e para a cultura". Essa observação, sob a perspectiva histórica, não somente se mantém, mas se agrava pelos escândalos que orbitam as diversas instâncias do poder público, como ocorre, por exemplo, na Assembleia Legislativa do Paraná. A percepção popular da impunidade para os corruptos reforça a aversão dos melhores à carreira política. Esse cenário possibilita a ascensão de oportunistas às posições mais influentes no destino do estado. O político catarinense identificava as raízes dessa inação: "Sofre muito a humanidade de dois males, o dos homens bons, que não têm noção alguma das técnicas que deveriam empregar para que se torne mais eficiente a sua bondade, e o dos técnicos em que se abalaram ou em que quase se perderam as qualidades humanas". Apontava o divórcio entre a atividade pessoal e a atividade pública, da consciência individual e a prática das virtudes sociais.
Um exemplo dessa separação é a da atividade tecnicamente "bem feita" que, no entanto, corresponde a uma fraude. A técnica deve estar submetida aos valores éticos e deve estar a serviço do bem comum. Não se pode dizer que um indivíduo seja bom se ele não contribui para a vida em sociedade. Não há uma excelência individual à margem do esforço por contribuir para a melhora da própria comunidade.
A alienação das pessoas, vivendo apenas do cuidado utilitário das suas atividades pessoais, gera como efeito pernicioso a progressão do parasitismo sociológico. O oportunista sempre viverá do descuido daquele que aparenta ser bom. Na verdade o comportamento antiético somente se desenvolve pela incúria de um grande número de pessoas que se omitem nos pequenos deveres de cidadania.
O pouco, ou o nenhum conhecimento dos candidatos, por boa parte do eleitorado, favorece a manipulação, industriada pelo poder econômico, para fabricar candidatos-produto, de qualidade aparente, porém sem nenhuma qualidade intrínseca. São a mais pura maquiagem! Esse quadro reproduz-se sistematicamente, como num circulo vicioso, ao se escolherem os políticos. Mudar tal situação requer o trabalho esforçado através do exercício do voto consciente e esclarecido.
A propósito da participação solidária na comunidade conta-se que: "O príncipe de uma aldeia queria mobilizar os seus habitantes em busca de um ideal de progresso e o maior envolvimento dos cidadãos com as coisas coletivas. Com tal intuito organizou uma confraternização, e para tanto, depois de ter construído um tonel grande na praça central, propôs uma tarefa para todas as famílias, que consistia em colocar diariamente um pequeno cálice de vinho no tonel inicialmente vazio. Essa tarefa se realizaria ao longo do mês, para que na data de fecho da festividade pudessem fazer um grande brinde aos objetivos gerais da comunidade. As famílias se envolveram e levaram o cálice combinado. Chegada a data da celebração, depois de um ritual perfeitamente estudado, o príncipe abriria a torneira do tonel e assim iniciaria a celebração festiva com o brinde aos grandes propósitos. Assim que abriu a torneira do tonel escorreu para o cálice, água pura, sem uma gota sequer de vinho! Todos os cidadãos pensaram da mesma forma: que diferença faz um pequeno cálice de água num tonel tão grande de vinho?"
O efeito da soma das pequenas omissões aplica-se a qualquer campo das ações coletivas e forçosamente ao campo da participação política de cada cidadão. O resultado de conjunto será o fruto do que cada um realmente queira escolher. A solução para combater a formação dos "tonéis de água" é o da participação conscienciosa, não somente da escolha de candidatos, mas sobretudo, em ter opinião sobre o que pode melhorar a vida da sociedade, e exigir que os representantes públicos estejam a serviço da comunidade.
O voto consciente requer o conhecimento da índole de cada candidato, das suas propostas e do seu currículo em favor das atividades públicas. Convém nas próximas eleições que se promova a valorização dos políticos competentes. Vale a pena a consulta aos sites informativos sobre a ação de cada um dos candidatos. A seriedade que cada um puzer na definição do seu voto promoverá ao exercício da atividade política os melhores dos nossos representantes. O voto consciente e esclarecido é o que faz a diferença!
Paulo Sertek, doutor em Educação pela UFPR, é professor da FAE-Centro Universitário e autor dos livros: Responsabilidade Social e Competência Interpessoal, Empreendedorismo e Administração e Planejamento Estratégico. paulo-sertek@uol.com.br.