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Devido à pandemia, maior parte das escolas passou o ano letivo de 2020 de portas fechadas.
Devido à pandemia, maior parte das escolas passou o ano letivo de 2020 de portas fechadas.| Foto: Pexels

Sempre começo uma aula de Economia para não economistas com a frase: “Se o problema do Brasil é dinheiro e o governo tem uma máquina de fazer dinheiro, por que, então, não imprime dinheiro e resolve o problema de todo mundo?” Rapidamente, mãos se levantam e ouço de todos os lados “porque isso causaria inflação”. Repito a pergunta de outro modo: “Então, se o dinheiro não é a solução, por que alguns países são ricos e outros são pobres?” Silêncio. As pessoas, em geral, entendem que riqueza não é exatamente a quantidade de dinheiro, mas têm dificuldades em entender de onde a riqueza vem.

Seria muito fácil criticar o fechamento das escolas, mas, na verdade, é justamente a falta de investimento e cumprimento das metas na área educacional que está por trás dessa desigualdade.

A riqueza de uma sociedade é, geralmente, medida pela quantidade de coisas reais que essa sociedade tem: produtos, prédios, carros, infraestrutura etc. Na verdade, essas coisas importam menos que nossa capacidade de produzi-las: países ricos são ricos porque são mais produtivos. Como os países conseguem ser mais produtivos? A resposta inclui acessos aos insumos (capital e trabalho) e a quantidade de produtos que conseguimos tirar com a combinação desses insumos. Em resumo, depende da educação, seja formal ou não.

Desde meados dos anos 1970, a evidência dos retornos da educação não parece mais ser segredo. Já entendemos que não basta ter muitas escolas, mas sim escolas de qualidade. Já entendemos que qualidade não está necessariamente atrelada aos gastos, mas que gastos são um componente importante. Já aprendemos que, dentre os ciclos educacionais, a educação infantil é a fase de maior retorno. Ainda assim, parece que o Brasil segue atrás em termos de suas prioridades. A falta de uma política educacional igualitária não só mantém nossos problemas sociais, como amplifica o abismo da desigualdade.

O relatório Education at Glance, publicado recentemente pela OCDE, confirma o ciclo vicioso: os países com menor escolaridade e baixo desempenho são os que fecharam as escolas por mais tempo durante a pandemia de Covid-19. O Brasil, infelizmente, mas não surpreendentemente, é o segundo país no estudo com maior tempo de fechamento das escolas (atrás apenas do México) e entre os de pior desempenho. O dado reflete não só a má gestão da pandemia, o que nos dá a sensação de ser pior do que poderia ser, mas também a má gestão educacional, tida pelos especialistas da área como o principal problema no Brasil.

Seria muito fácil criticar o fechamento das escolas, mas, na verdade, é justamente a falta de investimento e cumprimento das metas na área educacional que está por trás dessa desigualdade. Ainda que alguns pensem diferente, essa desigualdade pressiona a economia para baixo em momentos de crise. Pessoas sem escolaridade não conseguem se inserir produtivamente na sociedade, recebem pouco porque produzem pouco, e, sem renda, não geram demanda; o resultado nós já conhecemos. A baixa escolaridade é, na maior parte das vezes, herdada dos pais, o que leva à falta de mobilidade intergeracional: filhos de pais com baixa escolaridade tendem a ter baixa escolaridade, ampliando os abismos da desigualdade.

Em termos de recursos, o Brasil investe em educação apenas um terço do investido, em média, pelos países da OCDE. A partir de 2018, desmontou-se a falácia de que o Brasil investe acima da média da OCDE em educação, ainda que os gastos por aluno, principalmente no ensino infantil, tenham sido sempre abaixo dessa média. Os dados mostram que alunos de nível socioeconômico mais baixo são justamente aqueles com maior dificuldade de estudar remotamente, o que acaba refletindo na alta proporção da população que não completou o ensino médio (28% contra a média de 15% da OCDE), e baixa proporção com ensino técnico e profissionalizante (9% contra a média de 28% da OCDE).

Por que, ao que parece, temos uma capacidade tão grande de ir contra as evidências científicas? Por que queremos sempre fazer as coisas do nosso jeito, mesmo que os resultados seculares apontem que estamos na estratégia errada há décadas? Por que entra governo e sai governo e as políticas educacionais, sociais e contra a desigualdade “passeiam” de um lado para outro como se a sua relevância fosse de fato volátil e duvidosa? Talvez a educação seja, ela mesma, uma resposta a todos esses questionamentos. Enquanto isso, o Brasil continua sendo o país do futuro, aquele que nunca chega.

Walcir Soares Junior é doutor em Desenvolvimento Econômico e professor de Economia da Universidade Positivo.

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