Ler aquilo de que se gosta é um dos grandes prazeres da vida. É bálsamo para as horas de tédio ou de ausência de companhia. O dia termina em conflitos? Ofensas? Socorra-se em Montesquieu: "Jamais sofri qualquer mágoa que uma hora de boa leitura não tenha curado".
Em diversas ocasiões, o nosso colégio trouxe a Curitiba escritores da Academia Brasileira de Letras para palestrar aos alunos. Depois de um desses eventos, sorvendo um copo de vinho numa mesa de jantar, Nélida Piñon instiga Carlos Heitor Cony: "A leitura é a coisa mais erótica da vida", provoca Nélida. "A leitura é o maior prazer da vida, depois daquele outro", complementa Cony com um sorriso maroto.
Vivemos em um mundo com abundância de livros, revistas e jornais. Ademais, grandes clássicos da literatura podem ser baixados na internet. Os livros digitais se consolidaram e representam uma alternativa ao livro físico. Aqueles têm o apelo de uma maior praticidade, pois um e-book tem capacidade para armazenar milhões de páginas. Em casa, assino a Gazeta do Povo e a Veja nas duas versões: a impressa que atende toda a família e a do tablet, para os meus deslocamentos.
Fruto de uma cultura já arraigada e do inconsciente coletivo, muitos de nós, refratários ao e-book sob a alegação que os livros de papel oferecem mais encanto, tal qual o smartphone ou tablet, acabaremos nos rendendo à essa nova tecnologia. O mundo digital cobra mais disciplina pessoal e o alerta é que seus múltiplos penduricalhos e estímulos sonoros e visuais roubem a magia, a imaginação ou a reflexão mais profunda. Supõe-se que as versões digital e física conviverão como acontece com os livros infanto-juvenis: a venda cresceu 24% nos dois últimos anos, alavancada pela versão on-line.
Nas férias, nem o adulto, nem o estudante precisam ficar longe das leituras por 20, 30 ou 60 dias sob o pretexto de "esfriar a cabeça". Ler jornais, revistas ou livros, além de útil, é aprazível. Desperta e consolida um hábito nobre, intensamente valorizado na vida profissional e nos vestibulares. Mais e mais os concursos priorizam o aluno-leitor, aquele que compreende e produz bons textos e, por consequência, é mais criativo, inovador, melhor verbaliza as ideias e é capaz de expô-las em público. Oportunas são as palavras de Alvin Toffler, escritor e futurista norte-americano: "Os analfabetos deste século não são aqueles que não sabem ler ou escrever, mas aqueles que se recusam a aprender, reaprender e voltar a aprender".
Por que a maioria dos nossos alunos obtém notas baixas nas provas do Enem e do Pisa? São avaliações com textos longos que requerem interpretação, raciocínio, contextualização, enfim, não apenas conteúdos específicos das disciplinas. São habilidades cognitivas que só incorporam os leitores contumazes. A propósito, no último Pisa (divulgado em 2014), pontuamos entre os últimos: 58.ª posição, num universo de 65 países.
Diante das fortes exigências da vida moderna, podemos experimentar duas formas de praticar a benfazeja catarse: nas páginas de um bom livro e nas caminhadas pelos parques da cidade, praias e campos. Está provado que tais atividades promovem a sensação de bem-estar provocada pela serotonina. Se os músculos se fortalecem com os exercícios físicos, igualmente o cérebro necessita de sinapses através dos neurônios: leituras, memorizações, exercícios que exijam raciocínio. E afastam ou minimizam o Alzheimer, a depressão e a solidão. Uma mente vazia ou preguiçosa é oficina de doenças e vícios.
Jacir J. Venturi, professor, é presidente do Sinepe/PR e coordenador da Universidade Positivo.
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