Trombetas no início de segundo mandato costumam soar menos intensas, quase em surdina. É da rotina das bandas de música. Mas a partitura que regerá a posse do chefe da Nação será ainda menos vibrante. Por falta de fôlego dos executantes, entupimento dos instrumentos ou cautela dos regentes deve imperar a clave baixa.

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Festa protocolar, por obrigação. Encabulada. De 29 de outubro a 1.º de janeiro, um governo vitorioso e aclamado vem sendo humilhado por uma incrível sucessão de desgastes, auto-infligidos, endógenos, que, além de embaçar os festejos da próxima segunda-feira, projetam preocupantes sombras sobre a primeira metade do segundo mandato.

Como se não bastasse o prolongado apagão aéreo e a proposta para garantir a eleição dos presidentes da Câmara e do Senado à custa de um indecente aumento nos vencimentos dos parlamentares, como se não bastassem as manipulações no relatório final da Polícia Federal sobre o dossiê Vedoin, o imbróglio para garantir a base de apoio político e os inevitáveis apertos fiscais que adiarão novamente o espetáculo do crescimento, o presidente Lula acaba de ganhar de presente novo barril de pólvora. E com pavio já aceso – a ofensiva do narcoterrorismo no Rio de Janeiro.

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Ao cidadão preocupado com a segurança pública não interessa saber que a batalha campal nas ruas e avenidas das grandes cidades situa-se no âmbito estadual. Situava-se. Enquanto o governador Cláudio "Já Vai Tarde" Lembo recusava-se a aceitar ajuda federal para debelar os motins que sacudiam S. Paulo o problema era, de fato, paulista.

Mas a partir do momento em que o governador eleito do Rio, Sérgio Cabral Filho, afirma que poderá recorrer ao governo central para enfrentar a bandidagem fica desenhado o mega-abacaxi a ser entregue brevemente na portaria do Palácio do Planalto. E diga-se: é o endereço do legítimo destinatário.

O narcoterrorismo é problema do Estado federal brasileiro e não dos estados federados. E o Estado federal brasileiro, ultimamente, tem optado por soluções equívocas, retóricas e atabalhoadas. Fortalece-se nos palanques e, em seguida, confunde-se nas mesas de trabalho, talvez projetadas com um excesso de gavetas.

A precedência dos interesses partidários antes de serem encaradas as noções mais elementares de gestão tem produzido uma formidável série de erros que a oposição nem consegue avaliar, digerir ou aproveitar porque também ela padece da mesma síndrome.

A disparatada decisão de promover férias coletivas ao longo de janeiro e manter um ministério-fantasma até que os aliados consigam fumar o cachimbo da paz, desperdiça o primeiro bimestre, justamente aquele que deveria marcar o ritmo e o ânimo do novo governo.

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Os celebrados 100 Dias foram para o espaço, parcialmente comprometidos. Ficam faltando 265 em 2007 e outro tanto em 2008 já que em outubro teremos novamente eleições.

Detalhes de cunho pessoal sobre a solenidade da posse contribuem para agravar o quadro. Confirmadas as informações de que o vice José Alencar será tirado do Rolls-Royce presidencial e em seu lugar ficará a primeira-dama, Marisa Letícia, retira-se da solenidade seu cunho cívico, republicano, substituído pela mensagem implícita de um triunfo pessoal, no máximo familiar.

O país festeiro, vocacionado para a empolgação, talvez necessite de um tratamento de teor anticlimático, à base de discrição, recato, normalidade. Neste sentido dialético, o quadro pode ser entendido como positivo. Para os comuns mortais, forçoso reconhecer que a festa está com ar de fim de festa.