Há cerca de dez dias, novamente os jornais deram destaque para a famosa reunião do Copom, que decidiu baixar a Selic, mas mantendo o Brasil ainda como o campeão mundial de juros reais. O governo Lula insiste em errar na sua política monetária de juros altos, penalizando o país e os brasileiros. Basta dizer que somente nos seis primeiros anos do governo Lula, o Brasil já pagou de juros R$ 922 bilhões, o que corresponde ao assombroso valor de R$ 609 milhões por dia ou, ainda, R$ 76 milhões por hora-útil-dia (de 8 horas).
No mundo inteiro, em especial nos países desenvolvidos e de renda elevada, a taxa de juros é baixa e a inflação média gira em torno de 2,5% ao ano. No Brasil ocorre o contrário. Nossas autoridades, ao longo dos últimos 14 anos, têm insistido em defender a necessidade dos juros altos (leia-se Selic) como mecanismo de controle da inflação. Ora, o mundo não deve estar errado, pois, mesmo com juros reduzidos, a inflação nesses países tem se mantido sob controle, garantindo bons níveis de crescimento (arrefecido, é verdade, pela atual crise financeira). No Brasil, a inflação está controlada, mas o crescimento econômico tem sido digno do reino de Liliput, a terra dos pequeninos de Jonathan Swift, onde tudo é minúsculo. Basta lembrar que no primeiro ano do atual governo, o crescimento pífio foi de apenas 0,5% (quando a população cresceu 1,2%, ou seja, sob o ponto de vista "per capita" ficamos mais pobres). Também é bom lembrar que no ano de 2006, o Brasil só não foi o último da América Latina em baixo crescimento porque o Haiti nos salvou.
Tendo convicção de que os juros no Brasil são um absurdo, como, aliás, é algo notório, os autores deste artigo realizaram um estudo hipotético simulando uma taxa Selic de 50% acima da inflação (medida pelo IPCA) para cada ano, no período de 1995 a 2008. O que se procurou analisar e medir é o valor que o governo brasileiro pagou a mais de juros, caso ele tivesse adotado como política monetária uma Selic de "apenas" 1,5 vez a inflação registrada no período. Em outras palavras, o estudo mostra o excesso de juros da taxa Selic. Cabe destacar que são poucos os países com taxa de juros, sobre os seus títulos públicos, acima de 50% sobre a inflação. Aplicando essa diferença de taxa básica de juros sobre a dívida interna pública chega-se a valores e resultados surpreendentes.
Os dados evidenciam que nos últimos 14 anos, o Brasil pagou R$ 757 bilhões de juros em excesso, dos quais R$ 306 bilhões no governo FHC (8 anos) e R$ 451 bilhões no governo Lula (6 primeiros anos). A única crítica que alguém poderia fazer é que nem toda a dívida interna está sujeita à taxa Selic, o que é verdade. Porém, nesse mesmo período, o governo federal pagou quase R$ 1,5 trilhão de juros, isto é, metade de todo o juro pago foi totalmente inútil. A taxa de juros no Brasil poderia ter sido menos perdulária e, ainda assim, não teríamos uma inflação descontrolada como alguns querem nos levar a crer. Não seria exagero afirmar que há um entreguismo para o setor financeiro no Brasil, pois o governo faz um esforço olímpico para conseguir um superávit primário e na sequência, com ele, pagar juros.
Em todo esse período, o superávit primário ficou ao redor de R$ 700 bilhões. É importante registrar que a nossa inflação não é de demanda agregada, mas de problemas ligados à produção-oferta, tais como: muitos impostos, juros absurdos, infraestrutura deficiente (porque tem de economizar para pagar juros) e burocracia. Quando os nossos governantes vão aprender isso? Tivessem adotado uma política monetária de juros bem menores, o superávit primário seria destinado a investimentos em infraestrutura econômica e social. O mundo não está errado, e sim o Brasil, ou melhor, os governos FHC e Lula. Daí o penhorado alarido das palmas vindo dos banqueiros. Cabe finalmente registrar que os autores são críticos da atual política monetária (leia-se BC), mas não dos bancos, que simplesmente se aproveitam dessa situação. Fazendo uma analogia, os bezerros (no caso, os bancos) não têm culpa se a vaquinha dá leite, eles vão lá e mamam. Portanto, os bancos não são culpados. Culpado é o governo Lula.
Judas Tadeu Grassi Mendes é Ph.D. em Economia e diretor-presidente da Estação-Ibmec.
Maria Anita dos Anjos é doutora em Engenharia da Produção e professora da Estação Business School.
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