São muitas as pessoas que procuram fazer análises comparativas dos governos FHC e Lula. Vou ser mais objetivo e claro: ambos foram uma decepção para o país, pois juntos pagaram R$ 1,2 trilhão somente em juros, e viram a dívida interna subir de apenas R$ 60 bilhões para mais de 1 trilhão de reais. Vamos a uma análise mais detalhada:
A pedra no caminho das empresas e da população em geral é, sem dúvida, o setor público. É indiscutível que o setor privado brasileiro fez excepcionais esforços e melhorias nos processos produtivos nos últimos 12 anos. Houve aumento de produtividade em quase todos os setores, o país se tornou mais competitivo. Quem não fez a lição de casa foi o setor público, senão vejamos.
O ex-presidente FHC quando assumiu o Ministério da Fazenda de Itamar Franco, em 1993, a dívida interna do setor público era de apenas R$ 60 bilhões. Como teve vontade política apenas para mudar a Constituição para lhe dar o segundo mandato, mas não para fazer as reformas, o déficit público continuou. Como não fez as reformas, o déficit foi sendo financiado essencialmente pelas vendas de títulos públicos e por este caminho o aumento da dívida interna foi fulminante. Ele entregou para o governo Lula, uma dívida superior a R$ 600 bilhões, mesmo tendo pago, no período em que ficou no governo, mais de R$ 600 bilhões em juros. Vejam que absurdo: de uma dívida inicial de apenas R$ 60 bilhões, por conta de descontroles, essa dívida aumentou em mais de dez vezes, apesar de ter pago somente em juros dez vezes mais que o valor inicial.
Ai vem o governo Lula, que me surpreendeu negativamente já no primeiro mês, ao subir a taxa de juros (a Selic) para 26,5%, desnecessariamente, a pretexto de controlar a inflação. Tudo porque tanto o governo FHC como o de Lula acreditam que a inflação brasileira tem origem na demanda agregada, o que é um imperdoável erro de visão. Não tenho dúvida de que o Brasil teve inflação de demanda somente em 1986. Como isso é possível, se vivemos num país de baixa renda e fortemente concentrada? A inflação brasileira tem origem nos custos, ou seja, tem a ver com a oferta agregada. Nem Lula nem FHC conseguem perceber que um país que tem juros absurdamente elevados (o maior do mundo), 62 diferentes impostos que consomem 37 reais de cada 100 gerados de riqueza, sem contar a infra-estrutura econômica totalmente inadequada e cara e que são os verdadeiros responsáveis pela inflação. O que precisamos é dar um choque de oferta, isto é, criar condições favoráveis para a produção. Só assim geraremos emprego, renda e riqueza.
Então o governo Lula fez a dívida subir de R$ 623 bilhões para mais de 1 trilhão de reais, apesar de ele ter pago somente de juros R$ 590 bilhões, no período de janeiro de 2003 a dezembro de 2006. E o pior é que o presidente Lula ainda vai na tevê e diz que tudo está muito bem, que o país está preparado para crescer (aliás, ele já prometeu inúmeras vezes o tal do "espetáculo do crescimento"). Que crescimento, se na verdade, tanto no governo dele como no do FHC o país vem crescendo apenas 1% per capita por ano, ou seja, nada. O país está parado há cerca de dez anos.
Em resumo, infelizmente, tanto no governo FHC como no de Lula, o país vem pagando diariamente mais de R$ 300 milhões por dia, ou seja, estamos trabalhando apenas para pagar juros. A única coisa que o ex-presidente FHC pode se vangloriar em relação ao governo Lula é que pagou, em média, (apenas?) R$ 70 bilhões de juros por ano, enquanto o de Lula é mais do dobro (R$ 147 bilhões/ ano). Aliás, Lula, em quatro anos vai pagar tanto de juro quanto o governo FHC em oito anos. Na minha avaliação, ambos são péssimos gestores públicos e deixaram uma herança nefasta, com a qual ainda vamos sofrer muito tempo, pagando juros, ao invés de investir no país e em seu povo. Essa é a verdade, o resto é "enganación". A população brasileira não merece nenhum dos dois.
Judas Tadeu Grassi Mendes é Ph.D. em Economia pela Ohio State University e diretor-presidente da Estação Business School, parceira do Ibmec.
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