| Foto: Josue Teixeira/Gazeta do Povo

É óbvio que água não surge na torneira e que carne de galinha não nasce no mercado. Acredito que boa parte dos alunos de ensino fundamental, ou até mesmo do básico, saiba disso. Mas será que seu filho já viu seu próprio reflexo na límpida água de uma nascente? Ou esbarrou no ovo de outra ave que não seja galinha, ao caminhar por trilhas na floresta?

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Sou da geração que responderia veementemente que sim. Eu, meus primos e amigos tivemos a grata oportunidade de aproveitar os fins de semana e as férias nas chácaras e nos quintais das casas dos avôs e dos tios. Brincávamos de “sete perigos”: na nossa imaginação, o riacho se tornava uma correnteza perigosa a ser ultrapassada; subíamos na árvore, mas não podíamos tocar em determinado galho porque ele seria uma cobra; e assim por diante.

Desde a infância dos meus pais até a da minha filha, o mundo se modernizou. No Brasil, a taxa de urbanização era de 44% até 1960 e subiu para 84% em 2010, segundo o IBGE. As tecnologias de transporte e informação revolucionaram a forma como nos interligamos e comunicamos. Tudo isso foi extremamente positivo, sem dúvidas. Mas a sociedade urbanizada acabou se desconectando da natureza, e não precisava ser assim.

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A sociedade urbanizada acabou se desconectando da natureza, e não precisava ser assim

Hoje, muitos de nós, pais urbanos, trabalhamos em tempo integral; e nossos filhos passam a maior parte do dia envolvidos com atividades escolares. Sobra pouco tempo para desfrutar momentos de relaxamento e diversão em família, muito menos se for para sair de casa e ir a um parque fora da cidade.

Por experiência própria, afirmo que vale a pena nadar contra a corrente para partilhar um momento único de prazer com nossos filhos em meio à natureza. Como bióloga, argumento que essa atitude é fundamental para despertar a consciência ambiental. Enquanto subo a montanha com minha filha, permito a ela ver com os próprios olhos que de um lado há a devastação descontrolada causada pela urbanização e que, de outro, está a magnífica floresta protegida.

Naturalmente, ela sente o quanto é gostoso respirar o ar puro, ouvir o canto dos pássaros e mergulhar numa piscina sem cloro. Espontaneamente, ela questiona o modelo de sociedade atual que interfere no equilíbrio entre animais, plantas e ecossistemas; e eu aproveito para explicar que a água que chega à nossa casa tem muito mais qualidade à medida que a vegetação nativa ao longo dos rios estiver mais bem protegida.

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Talvez eu esteja contribuindo para formar uma cidadã mais consciente em relação à conservação da natureza e a importância dela para a vida humana. Só isso já justificaria o meu apelo para os pais incentivarem seus filhos ao contato com o mundo natural, mas vou além nessa tentativa de convencimento.

Como mãe, aproveito esses momentos para curtir minha filha: nós conversamos, brincamos, aprendemos juntas e fazemos muitas fotos. Como pessoa, confesso que essas raras horas sem sinal de internet permitem que eu me desligue da correria do dia a dia. Afinal, não há nada melhor do que botar os pés descalços na terra para recarregar as energias.

A sociedade contemporânea está se distanciando da natureza e há a necessidade de mudarmos essa rota. O lado bom é que ainda existem parques, seja na cidade ou no interior, que preservam a vida natural e nos possibilitam fazer essa reconexão. Que tal saber mais sobre eles e embarcar com seus filhos ou pais nessa viagem? Uma boa dica para ajudar na escolha do roteiro do próximo passeio é o site Wikiparques, uma plataforma colaborativa que reúne parques e reservas ao redor do Brasil. Aninha e eu recomendamos!

Marion Silva é coordenadora de Áreas Protegidas da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e mãe de Ana, 10 anos.