Nos estertores da Copa das Copas, lentamente, nos vemos puxados para a realidade das dificuldades que não deixaram de existir no nosso mês de transe e feriados injustificados. Avaliando as perspectivas para o segundo semestre, nos deparamos com um cardápio gigante de incertezas, como se a soma dos enganos de anos apresentasse o seu preço no mesmo instante. A recente débacle da Argentina em seu calote técnico estreita a perspectiva de boas vendas externas da nossa indústria de manufatura, notadamente não competitiva fora dos nichos bolivarianos ou quase.
O Brasil do protecionismo e dos lobbies corporativos se isolou do mercado internacional e está fora das cadeias produtivas globais. Fechados e pouco competitivos, erguemos barreiras às importações como resposta à dificuldade de exportar e ganhar mercados, ciclo vicioso que nos envia cada vez mais para a periferia. Assim sendo, mesmo com menor pressão da conta de derivados de petróleo, temos tendência de estagnação das exportações, pois mesmo as commodities que cresceram em volume vendido estão com preços menores face ao novo momento chinês. Quanto às importações, os números se apresentam em queda, ou por acompanhar a demanda interna mais fraca ou por protecionismo crescente. O que é especialmente válido para os insumos industriais.
Para o observador militante, segue a rotina exasperante de observar a letargia das decisões e as análises planas. Tome-se o caso do petróleo e da energia, causas extremamente relevantes na baixa competitividade brasileira direta e na elevação do investimento. O mundo vive uma revolução, a partir dos EUA, que impacta até mesmo a geopolítica, e o Brasil retrocede a visões parecidas ao do México dos anos 30 ou ao Irã de Mossadegh. Esperemos que, no caso do pré-sal, o óleo chegue antes da projetada queda de preço pós-2020.
Fator fundamental na inserção competitiva do Brasil no mundo é o reexame do Mercosul. Recentemente o potencial e tímido acordo com a União Europeia foi adiado em consonância com pedido da Argentina. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos negociam um amplo acordo de investimentos e serviços com o bloco europeu e o Japão pede para acompanhar as negociações. Nem falemos dos países da costa do Pacífico -- Chile, Peru, Colômbia, México e os próprios EUA, engajados em acordos bilaterais e multilaterais e, inclusive, com área de livre comércio com a Coreia do Sul.
O momento é de intensas mudanças no panorama econômico mundial, hora de fazer as pazes com a lógica e a matemática, esquecer visões ultrapassadas e abandonar o nosso verdadeiro esporte número um: a perda de oportunidades.
Sérgio Sanches Corrêa, formado em Engenharia Química pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul com MBA pela Fundação Getúlio Vargas, é fundador e diretor-presidente da Belsul, uma das maiores empresas de importação e exportação do país.
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