Estando há poucos dias em Fortaleza, ouvi do próprio filho uma jocosa história que Lauro de Oliveira Lima cearense, falecido em 2013, autor de mais de 30 livros sobre educação contava com graça aos amigos professores que acolhia em sua casa: "Estão vendo este meu cachorro? O nome dele é Dog, e eu o ensinei a falar!", provocava Lauro, diante do espanto de seus interlocutores. E prosseguia: "Vem cá, Dog! Diga boa-noite! Boa-noite, Dog!" Fazia-se um silêncio sepulcral, e evidentemente nada de um grunhido que sugerisse um boa-noite. Então, Lauro se safava: "Ensinar eu ensinei, só que ele não aprendeu".
Evidentemente, por melhor que seja o mestre, jamais há de se ensinar um cão a falar, mas essa folclórica alegoria enseja ensinamentos para nós, seres humanos. Há uma dicotomia entre aprendizagem e "ensinagem" palavra essa que subverte a norma culta, e como faz boa rima caiu no gosto popular. O professor só ensina se o aluno aprende. "Não ensino meus alunos. Crio a condição para que aprendam" faz-se oportuno recordar a frase de Albert Einstein.
No SalaMundo 2013 um dos maiores eventos educacionais do Brasil, realizado em Curitiba , o filósofo colombiano Bernardo Toro segue a mesma toada: "Quando o ensino é mais importante que a aprendizagem e algo vai mal, os culpados são os alunos. Se a aprendizagem é mais importante, nós, adultos, é que temos a responsabilidade de mudar as coisas. A escola é lugar de aprender e não de ensinar".
Para ser um bom professor, nada mais relevante que a didática, com a premissa de que no ambiente da sala de aula são intensas e constantes as mudanças, o que requer reciclagem continuada. Destarte, a simbiose entre a paixão pelo ensino e a vontade de investir na própria formação demonstram quem realmente quer ser um bom didata. O professor deve ser um eterno aprendiz, mantendo-se atualizado nos avanços da sua matéria e das novas práticas e tecnologias educacionais. Aula que tem de ser dada merece ser bem dada e, para tanto, bem preparada. É um ganha-ganha, pois agrega valores ao aluno e ao professor.
O desafio é dar uma boa aula e manter a motivação e a disciplina. Quase todo dia o professor tem o seu calvário. Conflitos com alunos são inevitáveis. Mas pare e pense: quem é o adulto na relação? Impor autoridade e limites é tarefa precípua do professor. Sem disciplina não há aprendizagem na escola, tampouco na vida. A indisciplina esse câncer do nosso sistema educacional é abominada pelo próprio conjunto de alunos, como bem demonstrou um estudo apresentado no SalaMundo 2013 pelos pesquisadores Francisco Soares e James Ito-Adler. Eles próprios se diziam surpresos: perguntaram a cada aluno o que mais o incomodava na escola, e esperavam que as respostas fossem instalações físicas, didática dos professores, merenda etc. Mas não! Resposta prevalecente: bagunça.
Quando o diretor investe o melhor de sua energia na sala de aula, todo o ambiente escolar se transforma. A sala de aula representa os metros quadrados mais nobres de qualquer organização educacional, e é nesse espaço que devemos colocar os melhores talentos. Há um mote em que duas palavras merecem reverência: educar com entusiasmo. Educar vem do latim ducere, que significa conduzir, mostrar o caminho. Entusiasmo tem etimologia no grego en-theo (en = dentro, theo = Deus). Para os gregos politeístas, quem tem entusiasmo tem um deus dentro de si. Nada de grandioso pode ser obtido sem entusiasmo e nenhuma missão é mais grandiosa que a de educador, pois ele tem como legado deixar no mundo uma geração melhor que a sua.
Jacir J. Venturi, professor e gestor escolar, é presidente do Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe/PR).