São Francisco de Assis, no início do seu processo de conversão, entrou numa igrejinha velha e abandonada e rezou diante de uma imagem de Jesus Cristo crucificado. Contam os biógrafos de Francisco que, olhando para a face do Crucificado, ele ouviu, no silêncio do seu coração, uma voz que lhe dizia: “Francisco, vai e reconstrói a minha casa que, como vês, está em ruínas”. E o santo de Assis inicialmente entendeu que se tratava de reconstruir aquela igrejinha material que se encontrava em ruínas. Mas, aos poucos, descobriu que se tratava de reconstruir o homem e a sociedade do seu tempo.
Francisco de Assis teve, portanto, como ideal de vida reconstruir, reinventar o homem e o mundo, e entendeu também que essa reconstrução somente seria possível pela prática dos valores do Evangelho de Jesus Cristo. Foi pelas virtudes da humildade, simplicidade, sobriedade, justiça, respeito e diálogo com o diferente, enfim, foi com a disposição de colocar-se a serviço de todos os seres do universo que Francisco de Assis tornou-se inspiração de vida para todos os homens de todos os tempos desde então. Ele renunciou a dominar e a instrumentalizar as pessoas e as coisas para servi-las com grande humildade.
Os novos desafios do mundo hodierno requerem, antes de tudo, um novo humanismo
Assim, há 800 anos Francisco inaugurou uma nova consciência e uma nova prática de relação para com todos os seres do universo. Uma relação de veneração, confraternização, respeito, compaixão e ternura. Por isso, o papa João Paulo II, no dia 29 de novembro de 1979, o declarou “patrono dos ecologistas”.
Hoje, fala-se muito em crise ecológica, ética e antropológica; vivemos numa sociedade que precisa ser reconstruída. Essas crises têm a sua origem no próprio homem, que se compreende separado e acima dos seus semelhantes e da natureza. Essa imagem egocêntrica e individualista do humano que se sobrepõe às pessoas e às coisas precisa ser repensada nos dias de hoje. O nosso tempo urge um novo modelo de homem que se responsabilize por todos os seres da criação, que seja solidário com todos os seres do universo.
Por conseguinte, a partir da cosmovisão e antropologia de Francisco de Assis, questiona-se um modelo de desenvolvimento que deprecia a natureza e o próprio ser humano. Evidentemente que não se trata de ser contra o desenvolvimento, mas que este seja solidário e sustentável.
Os novos desafios do mundo hodierno requerem, antes de tudo, um novo humanismo. Não basta a informação. Precisamos de uma nova consciência, de uma nova mente, de um novo coração e também de uma nova prática. Urge nos reinventar como humanos, no sentido de inaugurar uma nova forma de habitar o planeta. Como dizia muito bem Hannah Arendt, “podemos nos informar a vida inteira sem nunca nos educar”. Hoje temos de nos reeducar e nos reinventar como humanos. Em outras palavras, precisamos transformar o mundo.
Portanto, na busca de soluções criativas para os desafios do nosso tempo, Francisco de Assis é fonte de inspiração, pois viveu no seu tempo valores humanos e espirituais que continuam sendo imprescindíveis na atualidade.