O dinheiro é uma ilusão, ou melhor, como diz o professor Yuval Harari no seu livro Sapiens, uma convenção, na qual humanos decidem outorgar valor a papéis, metais, bits ou pedaços de plástico. Na Antiguidade o valor estava intrínseco nas próprias moedas; atualmente, esse valor está na crença de pagamento de quem as carrega. Não há mais lastro em ouro ou outro metal precioso. Se antes se pagavam os salários com sal, atualmente aceitamos sermos pagos com crédito na conta corrente.
O Brasil tem um dos sistemas financeiros mais desenvolvidos do mundo, produto de décadas de desequilíbrios financeiros, inflação alta e juros estratosféricos que obrigaram o sistema a procurar alternativas diversas que otimizassem os rendimentos financeiros. Algumas inovações, como o consórcio, por exemplo, foram geradas no sistema financeiro brasileiro, e atualmente são usados mundo afora.
Apesar disso, o investidor brasileiro é tido como conservador no que tange a aplicações financeiras. Ele está acostumado a se defender da inflação e não a procurar aumentar seus ganhos. Poupança, renda fixa, comprar um imóvel estão entre os investimentos mais comuns. Porém, essa situação está mudando. Com a diminuição expressiva da taxa de juros (Selic), as mudanças nos critérios de aposentadoria e nas relações trabalhistas, o brasileiro fica cada vez mais desafiado a entrar em outras aplicações como a bolsa de valores. Afinal, a poupança remunerará, no máximo, 3,5% esse ano. Descontando a futura inflação, o rendimento será quase zero. Mesmo com a iminência de uma pandemia mundial do coronavírus, a Bolsa ainda representa uma opção mais rentável que o restante de aplicações tradicionais. Esta realidade tem encorajado pessoas que sempre executavam aplicações tradicionais, e cujos depoimentos, colhidos por mim, são reveladores.
“Eu me chamo Bruno, sou vendedor de softwares. Minha esposa e eu tínhamos um dinheiro guardado em CDB-DI e surgiu uma possibilidade de desenvolver conhecimento sobre investimentos diversificados. Já estava interessado no assunto, mas sempre fui bastante desconfiado. Decidi então fazer um curso básico para poder avaliar melhor a entrada nesse tipo de negócio, pois meu principal receio era ser enganado. Com um pouco de conhecimento adquirido em uma boa instituição, percebi que poderia ter um bom controle sobre meu patrimônio investido, sem depender de terceiros, e com possibilidade de escolher instituições sólidas, sem taxas absurdas. Desde então, com o movimento favorável da nossa bolsa, estudando e aplicando os conhecimentos adquiridos, consegui obter um retorno oito vezes maior que a taxa Selic comparando o mesmo período. Em números mais simples, enquanto em um período de quatro meses meu dinheiro aplicado no Tesouro Selic rendeu 1,52%, nesse mesmo prazo o dinheiro investido em ações rendeu 12,18%”.
Outro depoimento que vai nessa mesma linha: “Sou Ricardo, engenheiro químico e empresário. Desde que comecei a trabalhar, tive o hábito de guardar um pouco de dinheiro, talvez porque já passei por fases financeiras difíceis. O dinheiro que sobrava eu colocava na caderneta de poupança até ter um certo montante; aí eu comprava terrenos e construía quitinetes para alunos universitários. Depois comecei a aportar um pouco de dinheiro no Tesouro Direto, na época a taxa Selic estava alta. Eu tinha muito medo de investir na Bolsa. Com um pouco de estudo e de influência de amigos experientes, tomei coragem e comecei com um pouco de dinheiro. Estou indo muito bem, com rendimentos ótimos”.
Finalmente, outro depoimento mostra que o brasileiro está em um caminho sem volta, em direção a aplicar na bolsa: “Meu nome é Dário, trabalho como gerente financeiro, formado em Ciências Econômicas. Com o cenário macroeconômico do nosso país, não me restou outra alternativa com minhas economias a não ser buscar renda variável. Poupança, produtos dos bancos e até mesmo o Tesouro Direto já não rendem mais como outrora. Mas buscar renda variável também aumentaria os riscos. Pesquisei, voltei a estudar os conhecimentos aprendidos na faculdade referentes ao mercado financeiro e entrei de corpo e alma na bolsa. O risco? Ele existe, mas investir com conhecimento não é aventura”.
Muita gente, que ainda não entrou na Bolsa, vê risco elevado. Em comparação com investimentos tradicionais, que não são mais rentáveis, elas têm razão, pois há um maior risco. Porém, essas mesmas pessoas não veem risco em pagar taxas de juros de mais de 2% ao mês por uma conta atrasada ou um empréstimo realizado nesse mesmo sistema tradicional. Comportamento paradoxal esse.
Segundo dados da B3, órgão que administra a bolsa no Brasil, em 2019 o número de investidores na bolsa duplicou e está na faixa de 1,3 milhão de pessoas. Apesar disso, esse número só representa 0,29% do total da população. Nos Estados Unidos, 65% dos americanos – algo em torno de 200 milhões – investem em ações. A bolsa ainda tem muito a crescer; a aposta é de que neste ano supere os 130 mil pontos. Em 2020, espera-se um incremento maior de pessoas físicas na renda variável, com ou sem coronavírus. Prepare-se, estude e fuja para a Bolsa!
Hugo Eduardo Meza Pinto, economista e doutor, é professor da Faculdade Estácio de Curitiba e da Universidade Positivo e associado da empresa de Economia Criativa Amauta.
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