Inicio o artigo citando a terceira lei de Arthur C. Clarke, “Qualquer ciência suficientemente avançada é indistinguível de magia”, lembrando que muitas tecnologias atuais foram consideradas absurdas no passado.
Eu sou do tipo que se diverte com exercícios de imaginação, principalmente levando situações ao extremo, seja em cenários apocalípticos ou, como neste caso, extremamente otimistas, já que sou um “anti-black mirror”, entusiasta das benesses científicas e tecnológicas típicas do capitalismo. Reforço que é um mero devaneio e pode haver exageros.
Vamos relembrar as revoluções industriais anteriores. A primeira foi o uso da água e do vapor pra criar motores, foi o início da automatização. A segunda foi a energia elétrica, possibilitando diversos instrumentos e ferramentas, a terceira revolução foi o transistor, que abriu portas para a informática.
A quarta revolução industrial ou industria 4.0 está ocorrendo com a sinergia da evolução de várias tecnologias como a impressão em 3D, a evolução da inteligência artificial, a internet, a robótica e os combustíveis sustentáveis.
Não demorou para os defensores do Estado altamente intervencionista alardear que todos perderiam os empregos e aumentaria a famigerada desigualdade social – lembrando sempre que o real problema é a pobreza e não a desigualdade. Ora, o Estado serve para moderar situações como essa, há soluções para isso, como reduzir a carga horária trabalhista o que multiplicaria as vagas, a criação de novas profissões que só humanos possam fazer por outros humanos. O que dificulta a superação desse possível aumento do desemprego é a economia fraca em oportunidades e o baixo grau da qualificação dos trabalhadores no Brasil.
O que dificulta a superação desse possível aumento do desemprego é a economia fraca em oportunidades e o baixo grau da qualificação dos trabalhadores
Por outro lado temos bens de consumo cada vez melhores e mais baratos. Inúmeros projetos de código aberto (open source) estarão disponíveis para serem baixados na internet e produzidos na sua residência com sua impressora 3D. Que tal imprimir as peças de um carro esportivo genérico por uma fração irrisória do preço da indústria automobilística convencional? A montagem das peças seria feita em empresas especializadas, veja só uma nova profissão surgindo.
Bem, obviamente a evolução tecnológica não acaba aqui, posso arriscar alguns palpites sobre a indústria 5.0.
Energia: ao que tudo indica, os novos reatores de fusão são o futuro da energia abundante, limpa e sustentável. Essa incrível máquina mantém suspensa por campos magnéticos (tokamak) uma estrela em miniatura. Ocorre o mesmo que no nosso Sol, a fusão de hidrogênio em Hélio, sem o inconveniente lixo nuclear dos reatores de fissão. O aparelho se sustenta com dez por cento da energia gerada, o restante é energia livre e limpa para consumo. É o fim das crises energéticas.
Produção industrial: as nanofábricas vão substituir a impressão 3D, hoje é possível manipular e posicionar átomos individuais, literalmente fabricando qualquer coisa, inclusive alimentos e outras nanofábricas. Hoje o processo é caríssimo e lento, mas com o avanço da inteligência artificial, essas máquinas vão produzir de forma autônoma incessantemente projetos de código aberto. Como a produção é feita átomo por átomo, a matéria-prima pode ser obtida do lixo, é a reciclagem perfeita. Interessante citar também os metamateriais como carbino, grafeno, aerogel e outros.
Computação quântica: computadores cada vez mais similares ao cérebro humano irão adquirir inteligência artificial cada vez mais avançada, podendo até mesmo ganhar senciência, similar a filmes de ficção. Essas máquinas poderão fazer todo o nosso trabalho intelectual na produção, pesquisa científica, e talvez até atuando como governo. Aguardo ansiosamente o meu PlayStation quântico.
Urbanismo: milagres da arquitetura vão surgir na forma de megaedifícios, verdadeiras cidades verticais de quilômetros de altura, com shoppings, mercados, escolas, enfim tudo o que uma cidade oferece dentro de cada edifício. Enquanto isso, a natureza se recupera do lado externo.
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Superadas essas dificuldades, podemos avaliar a colonização de outros planetas, se não formos extintos antes disso. A Nasa já faz seus primeiros esboços de motores de dobra que viajam muito mais rápido do que a luz. Em tempo, essa viagem não viola a relatividade geral, visto que usa a tecnologia de deformação espacial, encurtando a distância da viagem, em viagens tradicionais a velocidade da luz ainda é o limite.
E até a imortalidade parece possível com a reconstrução de telômeros, evitando a senescência celular, causa do envelhecimento e morte naturais. Teremos máquinas idênticas a humanos e humanos biônicos.
O fato inegável é que muitas mudanças vão continuar acontecendo em um ritmo cada vez mais acelerado, cabe a nós determinar os limites dessa evolução tecnológica.
Nesse extremo, um ponto positivo poderia ser a extinção do dinheiro, ou pelo menos a redução drástica da importância dele na sobrevivência digna do ser humano, visto que as nanofábricas produzem literalmente de tudo. Talvez a única limitação financeira seja por espaço físico, ainda assim será muito barato.
Talvez Marx não estivesse tão longe da verdade afinal quando afirmou que o comunismo é o estágio mais avançado de uma sociedade, mas esse estágio só pode ser alcançado por meios capitalistas em uma sociedade ultratecnológica, assim a vitória do capitalismo como objetivo final não é a eterna multiplicação do dinheiro mundial, mas a perda da importância deste na sobrevivência digna do cidadão médio.
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