Desde metade do século 20, o mundo tem sido dividido e suas nações, agrupadas de várias formas. Na Guerra Fria, havia o bipolarismo, capitaneado pela União Soviética de um lado e pelos Estados Unidos de outro. Em meados da década de 1970, discussões importantes a respeito da política e do cenário internacional eram feitas pelo G7, o grupo das sete nações mais ricas e desenvolvidas: Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido. Com o fim da Guerra Fria, na década de 1990, o G7 ganhou mais importância e passou a contar com a participação da Rússia – suspensa em 2014 após a anexação da região, então ucraniana, da Crimeia.
Atualmente, o maior peso nas discussões sobre as relações e os negócios internacionais está no G20, que concentra as 19 maiores economias do mundo e também a União Europeia. O G20 foi pensado em 1999, para a busca de saídas coletivas para as crises financeiras que assolaram a década de 1990: a do México, em 1994; da Ásia, em 1997; e da Rússia, em 1998. Seus debates ou são coordenados por ministros das áreas econômicas e fazendárias, e envolvem temas financeiros; ou são coordenados por ministros de relações exteriores, envolvendo assuntos como emprego, saúde, educação e comércio internacional.
A primeira das reuniões do G20 ocorreu em Berlim, em 1999. Hoje, 20 anos depois, os líderes das nações mais ricas do planeta reuniram-se em Osaka, no Japão. A atenção global voltou-se à chegada da delegação brasileira – e a primeira impressão negativa causada por ela. O episódio da cocaína apreendida com a comitiva de apoio ao presidente, em Sevilha, na Espanha, ganhou noticiários em todo o mundo e colocou ainda mais pressão sobre o presidente Jair Bolsonaro.
Pode-se afirmar que a cúpula do G20 tem sido bastante positiva para o Brasil.
Em segundo lugar, chamou atenção a declaração da chanceler alemã Angela Merkel sobre as ações do presidente brasileiro em relação ao desmatamento. A temática ambiental deverá ser, portanto, o foco de alguns debates entre Brasil e Alemanha, uma vez que Merkel afirmou querer uma conversa clara com Bolsonaro a esse respeito. O mesmo assunto mostrou-se importante para o presidente francês Emmanuel Macron, a quem Bolsonaro afirmou que o Brasil não se retirará dos acordos globais sobre o clima.
Esses encontros com os líderes europeus foram e são extremamente importantes, e certamente contribuíram para a conclusão de duas décadas de negociação entre Mercosul e União Europeia, culminando no histórico fechamento de um acordo comercial entre os blocos. Esse pode ser um dos maiores acordos já assinados, e os produtos transacionados entre os blocos atenderão mais de 770 milhões de consumidores de mais de 30 nações. Para a nossa economia, esse acordo é fundamental, e pode abrir ainda mais mercado para nossos produtos, o que é muito bem-vindo neste momento em que o Brasil patina para se reerguer economicamente.
Há, no entanto, outro ponto crítico na primeira cúpula do G20 do novo governo brasileiro: o encontro de Bolsonaro com Xi Jinping, presidente da República Popular da China. Desde a posse de Bolsonaro, houve uma aproximação com os Estados Unidos – e a China deve ter, em nosso radar, a mesma importância. Os chineses são nossos maiores parceiros comerciais e destino de maior parte de nossas exportações.
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Mais que isso: a China sempre foi um capítulo à parte. Como apontou Henry Kissinger, em 18 dos últimos 20 séculos os chineses foram responsáveis por um terço do PIB global. De 1978 para cá, a China cresceu mais de 90 vezes e tem, certamente, muitas lições a nos ensinar: infraestrutura de ponta, criação de zonas especiais para exportação, redução de burocracia e investimentos em áreas-chave são apenas alguns exemplos.
Deve-se ressaltar, ainda, que o encontro de Xi e Bolsonaro ocorreu em meio à guerra comercial entre China e Estados Unidos. Os chineses, como se sabe, são compradores de um terço da soja brasileira, o que torna uma aliança irrestrita com os Estados Unidos bastante preocupante. Em meio às tensões entre EUA e China, o Brasil tem sido justamente o maior beneficiado. O encarecimento dos produtos chineses nos EUA aumentou nossas vendas para o gigante americano. Na reunião do G20, ocorreu também um encontro entre Trump e Bolsonaro, que, além de trocarem elogios, discutiram novas sanções econômicas contra Venezuela e Cuba, como formas de pressão para o restabelecimento da democracia em ambos os países. Essa pauta acalmou alguns ânimos, uma vez que era esperado que o governante norte-americano pressionasse o brasileiro a apoiá-lo na guerra comercial contra os chineses, o que não seria bom para nós.
Num momento no qual nossa economia sofre para sair da estagnação, o desafio de Bolsonaro e do Itamaraty é o de acomodar as posições dos EUA e da China, e ser capaz de utilizar as relações exteriores para aumentar a participação brasileira no comércio internacional. Basta lembrar que, na década de 1950, a participação brasileira no comércio global era de cerca de 2%, e hoje essa participação fica na casa dos 1,2%. A princípio, pode-se afirmar que a cúpula do G20 tem sido bastante positiva para o Brasil. O acordo com a União Europeia pode melhorar o fluxo de produtos brasileiros no comércio global. Resta, agora, estreitar ainda mais os laços com os chineses, para que sejamos capazes de conquistar fatias cada vez maiores daquele mercado.
João Alfredo Lopes Nyegray, advogado, é bacharel em Relações Internacionais, mostre em Internacionalização, doutorando em Estratégia e professor da Universidade Positivo.
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