Com Lula, dezenas de milhões de brasileiros saíram da po­­breza, ingressaram na condição de consumidores e constroem a sua cidadania com o Estado e suas políticas sociais

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Consta que Geisel teria votado em Lula nas eleições de 1994. Simbolicamente seria a transmissão de certa tradição entre duas fases históricas do Brasil. A herança e a missão do nacional desenvolvimentismo. O Estado Nacional Brasileiro é uma das maiores organizações e instituições mundiais. É a maior obra produzida por muitas gerações dos falantes da língua portuguesa na América do Sul.

Trata-se de uma tradição estatal iniciada por D. João III, nos primórdios do século 16. O Brasil é o herdeiro de jure e de fato do Império Português. Nós somos os herdeiros, os descendentes do Estado e dos navegadores, que atravessaram o Atlântico e conectaram a Europa, a África, a Ásia e a América pela primeira vez. Tornamo-nos Colônia, Vice-Reinado, Reino Unido, Império e finalmente República Federativa. A nossa capital já esteve em Salvador, no Rio de Janeiro e passou para Brasília. Sobrevivemos, crescemos e existimos como sociedade e grupo étnico porque sempre tivemos um Estado estruturante.

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Foram decisivas as direções e gestões políticas de um Marquês de Pombal, um D. João VI, um José Bonifácio, um Marquês de Caravelas, um Duque de Caxias, um Rio Branco, um Oliveira Vianna, um Getúlio Vargas, um Golbery do Couto e Silva e agora um Lula da Silva na dinâmica do pensamento e na gestão estatal brasileira.

Geisel e Lula governaram na longa duração da tradição da conciliação política brasileira, associando o arcaico e o moderno. Voltamos a crescer e a ganhar importância mundial nos últimos anos porque retomamos a nossa boa tradição. Somos pioneiros e destaque no plano energético mundial por dois motivos. O programa do álcool foi primeiramente desenvolvido pelo governo Geisel. No governo Lula houve a expansão dos veículos flex, com álcool e gasolina, o que acarretou uma nova fase dos biocombustíveis no Brasil. O álcool/etanol caminha para ser uma commodity internacional. Com Geisel a Petrobras aprofundou a prospecção petrolífera marítima e desenvolveu as bases para a extração na Bacia de Campos.

No governo Lula foi descoberto o pré-sal e se iniciou a sua exploração. O governo Geisel foi o primeiro a reconhecer a independência de Angola e estabeleceu fortes vínculos no Oriente Médio, especialmente com o Iraque. O governo Lula estabeleceu relações com os países da África, Ásia e América Latina, hoje com relações comerciais maiores do que as mantidas com os Estados Unidos e com a Europa. Se o Iraque era um símbolo da política externa de Geisel, o Irã é de Lula.

Geisel ampliou a base hidrelétrica nacional nas obras de Itaipu, e Lula a segue ampliando com as novas hidrelétricas na região Norte, com Jirau, Santo Antônio, Belo Monte e outras na integração da Amazônia. A ocupação e a colonização das novas fronteiras agrárias e pecuárias se destacaram nos dois períodos. Geisel fortaleceu as grandes empresas brasileiras no mercado nacional e no internacional. Empresas como a Engesa, a Avibrás, a Embraer, a Vale do Rio Doce, a Petrobras, a nacionalização das telecomunicações. Geisel buscou a independência e a autonomia nuclear do Brasil, objetivo também seguido por Lula em várias áreas, inclusive na produção de submarinos nucleares, indispensáveis à moderna defesa dos mares.

Empresas nacionais fortes e amparadas pelo Estado fizeram parte da agenda estratégica dos dois governos. Com Lula as empresas nacionais, com apoio do BNDES, passaram a uma nova etapa na sua globalização e internacionalização. Mais produção, mais consumidores. Empresas como a Gerdau, Sadia, Perdigão, Votorantim, Coteminas, JBS, Cosan, Embraco, WEG e outras ganham tamanho, se ampliam e promovem novas fusões em escala mundial.

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Um brasileiro, Eike Batista, entrou na lista dos mais ricos do mundo pela primeira vez. A importância mundial e o prestígio do Brasil crescerão com a Copa do Mundo e as Olimpíadas no país. O governo Lula promove forte crescimento econômico em 2010, com a diminuição das desigualdades e inclusão social. Dezenas de milhões de brasileiros saíram da pobreza, ingressaram na condição de consumidores e constroem a sua cidadania com o Estado e suas políticas sociais. O mercado interno cresce vigorosamente e as exportações cresceram de maneira acelerada desde 2002. Os investimentos em educação foram retomados, novas instituições públicas com ensino de qualidade foram criadas e ampliadas. A consolidação da democracia tornou-se uma realidade de uma nova sociedade aberta, plural, promotora de desenvolvimento e crescimento para todos. O Brasil Grande torna-se um sonho mais próximo.

Ricardo Costa de Oliveira, sociólogo, é cientista político e professor da UFPR.